O que faz o setor sucroenergético bem sucedido?


O incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas e industriais, a melhoria da malha logística e a facilidade de acesso ao crédito governamental são alguns dos fatores essenciais para o crescimento do setor sucroenergético no Brasil. Esses aspectos foram apontados por profissionais do setor numa pesquisa realizada pela PwC Brasil em parceria com o CEISE Br (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e de Bioeletricidade).



Para o estudo, foram entrevistados representantes da indústria de base, fornecedores de cana-de-açúcar, profissionais de usinas e prestadores de serviços, entre outros, de diversas regiões do país, entre março e maio deste ano.



Com relação à produção da cana-de-açúcar, os respondentes indicaram que um dos fatores mais importantes para o sucesso da atividade está relacionado à sua gestão, o que envolve adoção de boas práticas agrícolas – como rotação de culturas, controle biológico e adubação balanceada – e qualidade das operações no campo. A produtividade, por exemplo, foi apontada por 23% dos entrevistados como o fator mais importante de sucesso.



Já a flutuação no preço dos insumos e custos de produção (28%), bem como a taxa de renovação nos canaviais (15%), capacitação da mão-de-obra (14%) e acesso ao crédito (10%) foram os principais fatores limitantes destacados pelos profissionais. “Os entrevistados indicaram que é preciso maior interação com universidades, centros de formação profissional e institutos de pesquisa para aumentar o acesso à mão de obra capacitada”, ressalta Adézio Marques, presidente do CEISE.



Indústria



Com relação à produção industrial de açúcar, etanol e bioeletricidade, o estudo aponta que o fator mais importante para o sucesso da atividade é a eficiência industrial (32%), seguida pelo relacionamento com fornecedores e parceiros (13%) e a qualidade da matéria-prima (13%) do campo, ou seja, a cana-de-açúcar.



Por outro lado, o endividamento (24%) aparece como fator mais limitante para o crescimento da indústria, seguido pela profissionalização (14%). Gargalos na infraestrutura e logística também preocupam a indústria, já que o custo dos seus produtos e a competitividade estão diretamente ligados a esses fatores.



Açúcar, etanol e bioeletricidade



No que diz respeito ao mercado, o estudo revelou que, para obter sucesso na comercialização do açúcar, etanol e bioeletricidade, as usinas do setor precisam, primeiro, adotar boas práticas de governança corporativa, utilizar mecanismos de gerenciamento de preços e riscos e manter relacionamento sólido com distribuidores e clientes.



Para a comercialização do açúcar, o estudo coloca a infraestrutura para exportação como o fator mais limitante ao crescimento do segmento, indicada por 40% dos respondentes. “Os gargalos de infraestrutura encarecem muito a logística do açúcar brasileiro, ameaçando a competitividade do produto no exterior. Por isso, a concorrência com outros países também apareceu como uma preocupação”, ressalta Marco Conejero, gerente da PwC Brasil e coordenador do Agribusiness Research Center.



Com relação ao etanol, a tributação aparece como o principal fator limitante já que, de acordo com o estudo, a carga tributária excessiva inviabiliza em muitos estados o abastecimento com etanol hidratado. “O congelamento do preço da gasolina é uma barreira para o consumo de etanol, uma vez que ao atingir a paridade de 70% do preço, o motorista migra para a gasolina gerando um descompasso entre a oferta e a demanda”, afirma Adézio Marques.



Já na área da bioeletricidade, o preço do MWh pago pelos leilões públicos, o acesso ao crédito para expansão de projetos e a dificuldade de acesso à rede demonstram que esse mercado ainda está longe da maturidade.



“Se de um lado é preciso que o setor sucroenergético entenda melhor como funciona o mercado de energia elétrica brasileiro, do outro falta regulamentação específica para o setor, já que hoje a biomassa compete igualmente com outras fontes de energia renovável, que têm custo de produção mais barato. Em um ano seco, há um enorme potencial para a utilização dessa fonte na rede elétrica brasileira, mas fica claro que esse mercado precisa ser olhado com mais atenção pelo governo”, finaliza Conejero. 

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