Risco diminui, mas crise continua na zona euro


O programa do Banco Central Europeu (BCE) chamado Transações Monetárias Diretas, que visa às aquisições de obrigações a países da zona do euro no mercado secundário de dívida soberana sem limites, reduziu significativamente o risco de um rompimento no bloco em curto prazo. No entanto, a resposta política para a crise ainda está aquém do necessário para restaurar a estabilidade no longo prazo. Essas são as principais conclusões do relatório trimestral Eurozone Forecast, elaborado pela Ernst & Young.



Segundo a empresa, o cenário ainda deve piorar com a zona do euro enfrentando aumento do desemprego, redução de investimentos e mais austeridade fiscal. O relatório prevê que o PIB do bloco irá retrair 0,5% este ano e terá um crescimento praticamente nulo em 2013 – de 0,1%. A partir do momento em que a economia começar a se reequilibrar e o aperto fiscal afrouxar, a previsão é de que o crescimento engrene. Mas ainda será limitado por muitos anos, devido às preocupações sobre a estabilidade e dívida pelos setores público e privado.



Até mesmo essa recuperação modesta está baseada no suporte das autoridades europeias – tanto dos países quanto no supranacional. “Embora seja essencial, o programa de compra de títulos oferecido pelo BCE servirá apenas como um ‘esparadrapo’ temporário para a zona do euro”, afirma Marie Diron, consultora econômica sênior para o Eurozone Forecast da Ernst & Young. “Acreditamos que uma abordagem mais radical será necessária nos próximos meses, para garantir até mesmo uma recuperação tímida em 2013 e nos próximos anos”, explica.



O desemprego no bloco continuará a crescer, atingindo 19,2 milhões de pessoas ou pouco acima de 12% no primeiro trimestre de 2014. Isso significa que consumidores, principalmente nos países periféricos, não irão gastar para sair da recessão. Em Portugal, a taxa de desemprego deve exceder os 16%, enquanto na Espanha e na Grécia, chegará a 26% e 27% da população, respectivamente.



Os investimentos corporativos também vão cair em resposta às condições de financiamento mais restritivas, incertezas sobre a estabilidade de uma área de moeda única e ganhos lentos. A contração é tanta que, no final de 2016, o nível de investimento deve estar mais baixo do que antes da crise.



“Com a continuidade da incerteza econômica prevalecendo na zona do euro, é essencial para os negócios que os políticos ajam decisivamente”, diz Mark Otty, sócio responsável para Europa, Oriente Médio, Índia e África da Ernst & Young Terco. “A economia não pode suportar companhias diminuindo investimentos apenas porque os consumidores não querem gastar”, completa.



Uma Europa mais federal



De acordo com a Ernst & Young, a tensão nos mercados de dívida soberana indica que as finanças públicas não são a única preocupação nas economias periféricas – divergências em competitividade também estão sendo levadas em consideração. Os ajustes econômicos necessários nesses países estão surtindo resultados positivos, mas o equilíbrio só poderá ser atingido se nações como a Alemanha buscarem políticas para aumentar os gastos internos e as importações.



“Os ajustes externos por meio de contenção salarial e aumento da produtividade são cruciais, pois sem melhoras de competitividade, a austeridade fiscal manterá esses países em profunda recessão”, comenta Marie Diron.



Os mecanismos de financiamento também precisam ser colocados em prática para permitir que os países gerenciem o processo de ajuste e, ao mesmo tempo, voltem a crescer sem calote em sua dívida soberana. Isso implicaria em um movimento em direção a uma Europa mais federal, onde o apoio temporário e condicional é fornecido de uma forma mais ordenada para os Estados atingidos pela crise, com o objetivo de garantir estabilidade de seu sistema bancário e de suas finanças.



“Uma união bancária e fiscal mais próxima é necessária para a sobrevivência da zona do euro no longo prazo. Na verdade, sempre foi imaginado pelos arquitetos do euro que a moeda única levaria a uma integração econômica e fiscal mais profunda”, diz Marie Diron.



Reforma política necessária



A lista de medidas necessárias para manter a Zona do Euro em sua forma atual é longa e politicamente desafiadora. Ela inclui o alargamento do Mecanismo Europeu de Estabilidade, uma união bancária, progresso em direção a uma união fiscal e uma mudança da política macroeconômica, para que ela seja focada menos em austeridade e mais em crescimento.



Segundo Marie Diron, “embora o acordo para mudar a supervisão bancária para a zona do euro seja um passo à frente, um sistema bancário integrado requer partilha não apenas da supervisão regulatória, mas também do apoio. Alguns países têm setores bancários que são muito grandes para serem apoiados por seus governos nacionais. Sem uma responsabilidade fiscal compartilhada na forma de depósito de garantias, esses sistemas bancários nacionais continuarão em risco”.



BCE proativo



Um pressuposto fundamental do relatório Eurozone Forecast da Ernst & Young é que o Banco Central Europeu (BCE) adote medidas não convencionais para enfrentar as dificuldades e fornecer aos governos mais tempo para introduzir reformas estruturais necessárias para deixar a Zona do Euro menos instável.



O BCE já está perto do limite do que pode ser feito com política monetária convencional ao reduzir sua taxa de juros de 1% para 0,75%, o mais baixo índice da história. O relatório da Ernst & Young aponta que esse será o ponto máximo de redução. No entanto, um índice ainda menor não pode ser descartado, caso a economia se deteriore mais do que o esperado.



Embora o anúncio do programa do BCE tenha resultado em maior confiança no mercado, Marie pondera: "Nós continuamos a acreditar que o melhor caminho para o BCE seja buscar um afrouxamento quantitativo, permitindo que adquira qualquer ativo de sua escolha. Esta estratégia poderá ser utilizada pelo BCE para ajudar os bancos, que estão ficando com poucas opções para acessar suas operações de liquidez”.

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