Pensar a cidade do amanhã. Sob essa premissa, pesquisadores e gestores do Brasil e da Alemanha reuniram um público de 270 pessoas nos últimos dias 29 e 30 de novembro na Câmara Municipal de São Paulo. “Problemas ecológicos, de infraestrutura de transportes e também problemas sociais são conhecidos há muito tempo. Para que, em 2050, as cidades ainda sejam habitáveis, soluções devem ser encontradas tanto do lado da técnica e da tecnologia quanto do político e social”, afirmou o geógrafo alemão Rainer Wehrhahn da Christian-Albrechts-Universität zu Kiel, no 5º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação.
Esta foi a quinta edição do evento organizado anualmente pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH-SP), que teve como tema “The City of Tomorrow – Tackling Urban Challenges and Opportunities”. Tendo em vista que hoje 54,5% da população mundial vive em cidades, a conferência debateu planejamento e governança urbana, gestão da água e saneamento, eficiência energética, clima e ecologia.
Segundo Martina Schulze, presidente do conselho diretor do Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo (DWIH-SP), “a ideia é olhar para esses temas do ponto vista da urbanização. Tenho certeza que, lidando com essas questões tanto interdisciplinarmente quanto das prospectivas brasileiras e alemãs, chegaremos a um melhor entendimento do que deve que ser feito para tornar o inevitável crescimento urbano sustentável e melhor para todos nós”.
As discussões do evento foram permeadas pelas resoluções da Habitat III, terceira edição da Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável, que aconteceu em outubro deste ano no Equador. “Aqueles que acompanharam os debates em Quito, puderam ver que a nova fronteira da disputa sobre inovação da agenda de políticas públicas não é mais o Estado Nacional. Entidades subnacionais serão, neste século XXI, os principais atores do desenvolvimento”, afirmou Christy Pato, diretor presidente da Escola do Parlamento.
Fernando de Mello Franco, Secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, destacou a importância da parceria entre a ciência e o governo. “A sociedade exige respostas para hoje. Mas a elaboração demanda tempo de maturação e ao poder público não lhe é atribuído esse tempo. É preciso articulação entre o poder público, responsável pela gestão, e o acadêmico, reflexivo, para que possa orientar os processos de decisão”.
Porém, essa relação exige um diálogo intenso. Conforme questionou Pato, “estão os nossos arranjos institucionais em sintonia com o conhecimento produzido pelos especialistas? Estão os nossos acadêmicos cientes dos desafios em se ultrapassar a distância entre as nossas mesas e os laboratórios e a boa disputa política, que é parte do design das políticas públicas? Há muitos dilemas e desafios que todos nós, acadêmicos, pesquisadores, gestores e representantes eleitos precisam enfrentar”.
Gunther Adler, Vice-Ministro alemão do Meio Ambiente, Conservação, Construção e Segurança Nuclear, destacou a importância dos pesquisadores para o debate: “ que os especialistas aqui presentes, todos vocês, a seu modo, possam trabalhar nessa cooperação para atingir os melhores resultados possíveis para cidade e cidadãos, e pensar na cidade onde podemos e queremos morar”.
No sentido da cooperação entre Brasil e Alemanha, o Embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, destacou o pacto em urbanização assinado em 2015 entre ambos governos. “Em dois dias haverá um grupo de trabalho interministerial em Brasília e vamos continuar o trabalho de diálogo que está sendo feito aqui. (…) A Alemanha está muito interessada em aprofundar a cooperação com o Brasil, vamos trabalhar para tornar a nova agenda urbana realidade.”
Para o Euclides de Mesquita Neto, da Fapesp, “apesar de não termos uma bola de cristal para saber como será a cidade do futuro, temos o direito de sonhar com ela e sabemos o caminho que teremos que trilhar para chegar até lá. Ainda que pareça uma utopia. A cidade do futuro tem que ser mais justa do ponto de vista social, mais eficiente do ponto de vista administrativo e econômico e mais sustentável do ponto de vista do meio ambiente”.
Renata Galf / Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH – São Paulo)
Foto: DWIH-SP/Felipe Mairowski