A desigualdade de gênero continua a ser um dos desafios mais urgentes que o mundo corporativo enfrenta, segundo o novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo – Tendências para mulheres 2017”, divulgado na segunda quinzena de junho. Reduzir as desigualdades de gênero em 25% até 2025 pode adicionar US$ 5,8 trilhões para a economia global e aumentar as receitas fiscais. No Brasil, resultaria em um aumento de até R$ 382 bilhões, ou 3,3% no PIB, um acréscimo de até R$ 131 bilhões em receita tributária.
Atualmente no País as mulheres representam 51,5% da população total, a taxa de desemprego feminina é de 11,7% enquanto a masculina é de 9,6%. Outras estatísticas que comprovam a desigualdade de gênero no mundo corporativo são nos cargos de direção e gerência. As mulheres ocupam 37% das cadeiras enquanto os homens, 67%. Em cargos executivos de empresas no setor privado, a ala feminina é ainda mais desvalorizada, sendo representada por somente 10% contra 90% da masculina. A desigualdade de renda aumenta nos cargos mais altos, na média, a mulher ganha 76% do salário do homem e, nos cargos de chefia, 68%.*
A OIT estima que a taxa de participação feminina no mercado de trabalho em 2017, no Brasil, seja 22,2 pontos percentuais abaixo da participação masculina, ou seja, 56% mediante a 78,2%.
Na contra mão das estatísticas, a Balluff Brasil, multinacional alemã especialista no desenvolvimento de sensores e soluções para automação industrial, com sede em Vinhedo (SP), tem seu quadro funcional formado por 51% de mulheres e é gerida desde 2014 pela CEO, Adriana Silva, única mulher CEO das regionais da Balluff no mundo.
Além disso, 90% do chão de fábrica da empresa é composto por mulher. “A mulher, por ser mais delicada e dar mais atenção aos detalhes, é melhor na linha de montagem dos sensores,” explica Adriana Silva.
De acordo com a CEO, atualmente na liderança, oito dentre os 26 profissionais são mulheres de áreas diversas, entre elas uma gerente de RH e uma gerente financeira. “Contratamos também recentemente uma gerente de qualidade, e na parte de vendas externas, que é muito técnica e conversam muito com engenheiros de fábricas, contratamos duas mulheres. Temos também uma gerente de vendas na regional São Paulo no setor automotivo e autopeças”, diz.
Adriana acredita que o universo corporativo ainda é muito masculinizado, e ressalta que atualmente, no Brasil, nos conselhos administrativos, a participação feminina não chega a 10%.
“Boa parte das mulheres que participam desses conselhos são membros da família proprietária da empresa. Minha percepção é de que as mulheres se preparam, mas ainda lidam com um ambiente pouco favorável. Claro que também temos as que não dão continuidade à carreira por uma questão de escolha. É comum vê-las em cargo de gerência, porém não em diretoria,” afirma.
A CEO ressalta a importância do desenvolvimento das empresas para que mais vagas sejam abertas e mais profissionais possam ingressar ao mercado de trabalho de acordo com suas competências técnicas, e fala da importância do preparo para que as mulheres galguem cargos maiores.
“A desigualdade de gênero no mundo corporativo só vai acabar quando, tanto a mulher quanto o homem, começarem a correr atrás do desenvolvimento pessoal e profissional e as mulheres começarem a almejar e buscar cadeiras de lideranças. Vejo esse movimento muito tímido ainda. As mulheres precisam acreditar e reconhecer que estão aptas para essas funções,” finaliza.
*Direção e assessoramento superior Fontes: Pnad/2015, Boletim Estatístico de Pessoal do Min. do Planejamento, TSE, União Inter-Parlamentar e Consultoria de RH Oliver Wyman
Foto: Divulgação Balluff