“O caminho da inovação parece um caminho fácil, mas não é reto. Inovar é um processo tortuoso, com muitos percalços, mas que certamente vale a pena ser trilhado”, declarou Antonio Lacerda, Vice-Presidente Sênior de Químicos, Produtos de Performance e Sustentabilidade da BASF, em seu discurso de abertura do 7º Congresso Brasil-Alemanha de Inovação.
Para Lacerda, não basta investir em uma mudança de mindset e promoção de um olhar além das fronteiras se não houver a disposição em assumir os riscos e quebrar limites físicos e mentais. “A maior e mais difícil mudança tem a ver com mudança de mente; entender as necessidades do cliente e as dinâmicas do mercado para antes da concorrência capturar o valor que essas rupturas geram”, afirmou.
Em seu primeiro dia, o evento apresentou não só cases, mas oportunidades de cooperação na área de inovação entre Brasil e Alemanha. Gianna Sagazio, Diretora de Inovação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) destacou a importância da parceria com a Câmara Brasil-Alemanha, que desde 2016 realiza ações em conjunto, com destaque para as viagens de imersão em inovação na Alemanha. “Nosso objetivo é tornar o Brasil um País mais inovador e, com isso, gerar mais qualidade de vida para a população”, disse, completando que há muitas oportunidades de cooperação entre os dois países.
O Embaixador da Alemanha no Brasil, Dr. Georg Witschel, lembrou que a inovação faz parte do DNA das empresas alemãs. “Inovação não é um processo restrito a grandes empresas. O governo alemão entende que as pequenas e médias empresas têm papel fundamental na economia – além de serem as maiores geradoras de emprego no País, são responsáveis por 35% do faturamento comercial. A Alemanha é o País na Europa que mais investe em inovação. A cada 10 produtos comercializados no mundo com base em pesquisa científica, um é da Alemanha”, afirmou.
Para Paulo Alvim, Secretário de Empreendedorismo e Inovação, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o grande desafio do nosso País é praticar a inovação. Neste contexto, uma das peças chaves é o investimento em colaboração. “A infraestrutura de conhecimento é o suporte necessário para mitigar os riscos da inovação. Não existe isolamento, é um processo de convergência, de cooperação e esforço coletivo”, declarou. Ressaltando ainda que Brasil e Alemanha podem aprender muito juntos, ele ressaltou que é preciso fortalecer os laços que já foram construídos. “É importante que as empresas multinacionais vejam o Brasil como um País de oportunidades.”
Keynote deste primeiro dia de evento, Joachim Hornegger, Presidente da Friedrich-Alexander-Univesität Erlangen-Nürnberg (FAU), falou sobre o papel das universidades no desenvolvimento de pesquisas para inovação e apresentou soluções desenvolvidas pela FAU para as mais diferentes áreas. Um dos exemplos apresentados foi o uso de inteligência artificial para analisar dados médicos e prever doenças, prescrever remédios personalizados, e assim, antecipar diagnósticos.
Painel: Gestão da Inovação na Era Digital
Mediado por Tom Maes, Senior Director Sales South America da Lufthansa, o primeiro painel desta quarta-feira (02/10) discutiu Gestão da Inovação na Era Digital. Os painelistas foram unânimes sobre a necessidade de mudança de mindset para a gestão da inovação. “A digitalização funciona não apenas como um catalisador, mas também como um convite para pensar diferente”, afirmou Renata Milanese, Gerente Sênior de Go-To-Market da BASF. “Inovação está relacionada a mindset, estratégia ágil e flexível. Uma empresa realmente inovadora opera a partir de um modelo de negócio que incorpora o conceito de inovação de modo intrínseco”, completou Philipp Povel, CEO da Dafiti.
Em sua apresentação, Valter Pieracciani, Sócio-Diretor e Fundador da Pieracciani Consultoria, falou sobre cultura organizacional e a importância de sua construção para o desenvolvimento de um ambiente fértil para inovação. “A nossa capacidade de inovação é infinita, mas cabe ao líder assegurar um ambiente para que as ideias prosperem e virem soluções no mercado.” Renata Petrovic, Superintendente de Pesquisa e Inovação do Bradesco, concordou com a posição de Pieracciani e destacou que “inovação não é tecnologia, é a conexão de pessoas e de cultura. É o desenvolvimento de um ecossistema que crie plataformas de conexão e colaboração.” Mas como medir o sucesso da implementação de uma cultura de inovação? “A grande medida de sucesso seria não existir mais um departamento de inovação e a organização se tornar essencialmente inovadora”, concluiu.
Painel: O Papel da Inovação e das Tecnologias Emergentes no setor da Saúde
Moderado por Antonio Lacerda, o segundo painel do dia discutiu a inovação na área da saúde. Em um cenário em que apenas 23% da população brasileira tem acesso ao sistema privado de saúde, a inovação é vista como uma ferramenta valiosa para democratizar e aplicar o alcance dos serviços de saúde.
“Com as novas tecnologias conseguiremos ser mais eficientes. As ferramentas de inteligência artificial nos permitem trazer mais previsibilidade ao atendimento de cada paciente e, assim, não apenas trazer mais eficiência e rapidez ao diagnóstico, mas também redução de custos do serviço”, afirmou Edvaldo Vieira, Diretor Executivo de Operações Brasil, da AMIL.
Partindo da ideia de que a cultura da inovação é um investimento necessário, Dr. Kenneth Almeida, Chief of Innovation, Research Education and IT do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explicou que o processo de inovação não se limita a aquisição de novas máquinas ou novas estruturas. “Houve uma ruptura no hospital. Entendemos que existe uma lógica na inovação da saúde. Quanto mais eficientes nós formos, mais nós ganharemos”, afirmou.
Para exemplificar a ruptura dos modelos tradicionais, Flávia Passoni, Product Manager for Long-Acting Contraceptives da Bayer, apresentou o case da campanha “Melhor para mim”. Estrelada pela cantora Ludmilla, a campanha visava divulgar métodos contraceptivos de longa duração de uma maneira mais acessível ao público leigo. Para isso, apostou na participação de uma celebridade para democratizar o discurso. A campanha inovadora foge do padrão tradicional da indústria farmacêutica, mas, para Passoni: “Inovar significa arriscar”.
Painel: O papel da Inovação e das tecnologias emergentes no setor da energia
Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação e Tecnologia da Câmara Brasil-Alemanha, abriu o painel sobre o setor de energia falando sobre a transformação do ramo de energia e as novas oportunidades advindas da geração de energia limpa. “Essa discussão já está consolidada na Alemanha. O governo alemão planeja reduzir 55% dos níveis de emissão de CO² até 2030, além de acabar com o uso de energia nuclear ou a carvão investindo na geração de energias renováveis e de modo descentralizado”, destacou.
Apresentando oportunidades de geração de energia no Brasil, Barbara Waelkens, Pesquisadora do Fraunhofer IGB – Engenharia de Interfaces e Biotecnologia, demostrou a viabilidade do biogás como combustível a partir de um projeto desenvolvido em parceria com a Sabesp.
“Quando falamos de bioernergia logo nos vem à cabeça etanol e biodiesel. Já na Alemanha, o que vêm à mente é biogás. O País tem quase 9 mil plantas de produção de biogás, a maioria de energia elétrica”, afirmou Waelkens, ressaltando que enquanto a Alemanha já possui um mercado estabelecido, o Brasil dá seus primeiros passos, mas com grande potencial.
Entre os principais desafios encontrados na implementação do projeto estavam encontrar equipamentos no Brasil e no mercado local, desenvolver um modelo de negócio, além das barreiras de aceitação local.
Superar as barreiras de mindset, aliás, é um dos primeiros passos essenciais para trazer inovação ao setor. “É preciso estar atento às novas necessidades do cliente. A nova geração quer contribuir positivamente para o planeta. Não teremos outra saída a não ser entender o perfil do novo tomador de decisão”, explicou Leandro Abreu, Diretor Global de Operações da Enel X. Ele revelou ainda que até 2050 toda energia distribuída pela ENEL X seja 100% limpa. “Estamos investindo forte em tecnologia com desapego a passado. Investimento forte em tecnologia e desapego com o passado. Nossa missão é inundar o planeta com carregadores de carros elétricos, para popularizar este tipo de veículo.”
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