A quinta-feira (7) foi marcada pelo lançamento da iniciativa AHK FINTECH DAY. Promovido pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, o evento tem como objetivo traçar um panorama sobre o atual cenário do setor do finanças no Brasil ao reunir especialistas do setor, executivos das empresas associadas, bem como fintechs – startups focadas em inovar e otimizar serviços da área financeira.
A abertura do evento foi realizada por Thomas Timm, Vice-Presidente Executivo da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo. Em sua apresentação, Timm destacou que muitas cidades na Alemanha já se posicionam como hubs de startups e que, seguindo essa tendência global, São Paulo também tem potencial para se posicionar mundialmente neste setor. “No Brasil, o maior potencial não é matéria-prima, mas sim capital humano. Temos muitos jovens inteligentes, com ideias inovadoras e que estão focados em criar negócios disruptivos. Há mais de 100 anos a AHK São Paulo vem inovando de forma contínua e buscando seu espaço no universo de startups para criar pontes com nossas empresas associadas”, declarou.
Na primeira parte da manhã os participantes acompanharam uma palestra de Bruno Balduccini, Sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados, que expôs o cenário legislativo e regulatório sobre fintechs e open banking. Apresentando todo o contexto de risco sistêmico do parcelamento e os impactos gerados pelas mudanças regulatórias, Balduccini palestrou sobre a mudança de mercado com o surgimento das fintechs, seu papel na disseminação de crédito fora do sistema tradicional e como atraíram a atenção do Banco Central ao fidelizar clientes por meio do microcrédito.
“Os grandes bancos vão quebrar? É difícil saber. Mas o que sabemos é que o cenário mudou com as novas tecnologias, pois ficou fácil fazer os serviços financeiros que precisavam de bancos e hoje já não precisam mais”, afirmou. Balduccini falou ainda sobre como as novas tecnologias estão remodelando o mercado. “O universo de e-wallet não apenas gerou concorrência, mas influenciou os bancos tradicionais, que se viram obrigados a adaptar suas realidades para este novo sistema.”
A discussão do tema prosseguiu, desta vez em um painel moderado por Leonardo Baracat Bedicks, do escritório Pinheiro Neto Advogados e composto por Gustavo Ullman, CEO da G+D Mobile Security, Pedro Coutinho, CEO da Getnet, Saul Sabba, CEO da Schevar Participações e Eduardo Prota, General Manager do N26.
“O mercado financeiro no Brasil está evoluindo muito rápido. Um ponto importante é que está surgindo uma nova regra de câmbio que vai alterar o mercado positivamente, uma vez que as regras de cambio são muito antigas. No começo de outubro o Banco Central criou um projeto de lei cambial para simplificar este panorama criando um arcabouço único. Esse projeto já está no Congresso e gera grande expectativa, pois pode abrir portas para o surgimento de uma fintech de câmbio, por exemplo”, afirmou Bedicks.
Coutinho ressaltou que o mercado de meios de pagamento é bastante promissor, apontando crescimento de 18% no primeiro semestre de 2019. “No Brasil, 40% dos gastos das famílias é feito por meio de meios de pagamentos. Não podemos ignorar um dado importante: a carteira de crédito que mais cresce no Brasil é o parcelado sem juros. Acabar com esse processo de uma hora para outra significa perder expressivos percentuais no PIB brasileiro”, disse.
Os painelistas foram unânimes na opinião de que a insatisfação do consumidor com o modelo tradicional de banco foi o gatilho para o desenvolvimento de um novo modelo de mercado, que ainda está se estabelecendo. “É impressionante que 7 em cada 10 millenials preferiram ir ao dentista a ir em uma agência bancária. As pessoas perderam a confiança nos bancos, pois acreditam que seus interesses não estão entre as prioridades das instituições financeiras. Então, por que ainda não tivemos disrupção na área bancária? Porque é um setor especialmente complicado, graças às barreiras de entrada, licenças reguladoras, legislação, hábitos de consumo radicalmente diferentes, além dos diferentes níveis de fraudes e mecanismos de prevenção necessários”, listou Prota. Apesar dos desafios, ele acredita que a digitalização e o perfil mais dinâmico da geração Z serão fatores determinantes para que em pouco tempo o setor se torne mais homogêneo globalmente.
O conceito de costumer experience também foi amplamente discutido no painel. “Esse é o grande mercado no sistema financeiro: eliminar o desperdício de tempo que sofremos hoje para fazer coisas simples”, destacou Saul. “A grande sacada é permitir que o usuário faça tudo que precisa onde e como quiser, e confiando que na outra ponta todos os seus dados estão em um ambiente seguro. Todos os temas discutidos aqui hoje, como open banking, instant payments e LGPD precisam andar de mãos dadas, com um arcabouço de segurança mínimo para oferecer esses serviços financeiros combinados a ferramentas de costumer experience”, afirmou Ullman.
Avaliando o cenário brasileiro, os painelistas concordaram que o Brasil está assumindo um papel de relevância global no universo de fintechs e que este posicionamento tem forte relação com o perfil nacional. “O brasileiro se adapta muito rápido à inovação. Na Europa existe uma resistência cultural ao novo; já o brasileiro gosta de testar coisas novas e está aberto à inovação. Muito dizem que conta digital é a nova paleta mexicana, mas isso é reflexo de um mercado promissor. O que vai diferenciar quem vai se manter ou não no mercado é a qualidade dos serviços oferecidos”, finalizou Prota.
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O evento contou ainda com a participação das startups ArenaPlan, BitCapital, Caju, Dootax, Folha Certa e Tip. Após uma rodada de pitchs, foi promovido um matchmaking entre as empresas participantes do evento e as startups convidadas.