Na tarde desta sexta-feira (19), a Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo se reuniu digitalmente para discutir as perspectivas econômicas diante do cenário de pandemia da Covid-19.
O encontro contou com a presença do Dr. Martin Wansleben, Diretor-Geral Executivo da Confederação Alemã das Câmaras de Comércio e Indústria (DIHK). Em sua apresentação, ele ressaltou a importância do trabalho de fortalecimento das relações bilaterais realizado pela rede de câmaras alemãs ao redor do mundo.
“É muito importante estabelecer pontes e criar redes entre o Brasil e a Alemanha. Na Alemanha às vezes pode ser difícil chegar as informações certas, sem distorções. Felizmente temos uma ampla rede de câmaras no mundo todo que com maestria executam esse trabalho. Devemos aproveitar essa rede para levar as informações corretas e apresentar o Brasil verdadeiro”, afirmou.
Dr. Wansleben falou ainda sobre o cenário europeu diante da pandemia e seus reflexos. “Na Europa como um todo, apesar de haver posições diferentes, todos entenderam como é importante nessa fase de crise ter uma âncora estabilizadora. A crise causa, obviamente, solavancos nos nossos sistemas; a economia e a sociedade sofrem. Mas pontes são melhores do que fronteiras. Temos sim que lidar com o vírus, mas devemos também continuar cooperando”, declarou.
Assim como na edição anterior da Reunião de Diretoria, uma pesquisa de conjuntura foi realizada digitalmente com todos os membros para apontar a percepção do empresariado alemão a respeito do cenário brasileiro. Cerca de 52% dos respondentes avaliaram a situação do seu segmento como satisfatória. Questionados sobre o desenvolvimento de seu faturamento até o final de 2020, 33% preveem uma diminuição de 10 a 20%; 17% esperam uma diminuição de 21 a 30%, enquanto outros 17% estimam um aumento superior a 3%.
Além disso, entre os respondentes, 50% avaliam a situação dos negócios de suas empresas como satisfatória, mesmo diante dos desafios gerados pela pandemia da Covid-19 (75% dos participantes apontaram a baixa demanda como o maior desafio para os negócios atualmente). Outro dado importante colhido pelo levantamento é que 60% dos executivos não preveem redução do quadro de funcionários em 2020.
O encontro digital contou ainda com uma palestra do economista e doutor em ciência política Ricardo Sennes. Fazendo uma ampla análise do cenário político brasileiro, Sennes comentou os reflexos da crise na perspectiva de avanço da agenda o impacto das acusações de Sérgio Moro, somado ao desenrolar das investigações das “rachadinhas” do Senador Flávio Bolsonaro e também a CPI das Fakes News.
Ele avaliou ainda os possíveis cenários que se desdobrariam desses elementos, como denúncia do STF, Impeachment, cassação ou renúncia. “Apesar do isolamento do ponto de vista político e uma miríade de indícios, não há uma prova cabal ou apelo popular nas ruas que leve ao avanço de um desses processos”, concluiu.
Sennes avaliou ainda a estratégia política envolta na recente e intensa aproximação do Presidente dos partidos de centro. “O grupo de centro opera a ser muito suscetível a mudar de opinião a respeito de projetos e agendas, desde que possa participar do Governo de alguma maneira, seja por cargos ou verba”, afirmou, completando que o processo de nomeação no segundo e terceiro escalão nas últimas 3 semanas é mais um dos fatores que favorecem a hipótese de bloquear um possível impeachment.
“Mais do que discutir a queda do PIB em 2020, este é o momento de discutir a capacidade de retomar o crescimento pós-pandemia. A crise e a descoordenação política estão afetando fortemente a capacidade do Brasil de sair deste cenário de forma coordenada. Acredito que o crescimento previsto para 2021 e 2022 ainda não seja suficiente para recuperar a queda deste ano. A saída deste cenário de crise deve ser lenta e progressiva”, concluiu.