Iniciativas de sucesso no setor industrial para uma gestão hídrica mais eficiente
Crises hídricas são uma realidade cada vez mais frequente no Brasil e no mundo. Os sinais de alerta para um colapso hídrico têm voltado a atenção global à economia e à reutilização da água, tanto em um escopo individual quanto a nível industrial.
Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) faz um trabalho importante para o engajamento da população e das empresas por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O ODS 6, cuja meta é “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”, tem sido seguido por um número crescente de corporações conscientes das necessidades de implementar formas sustentáveis de trato da água. Dentro dessa meta geral há o intuito de proporcionar maior qualidade do recurso, bem como sua reciclagem e economia.
Ainda que cubra mais de 70% da superfície do planeta, a água é um recurso natural escasso. Isso porque apenas 1% é considerado próprio para consumo. A finitude do recurso aponta para um futuro em que a falta de ações representará um prejuízo a todos. A relação da sociedade com a água é de dependência completa: enquanto é possível para um ser humano ficar semanas sem se alimentar, a falta de ingestão de água pode levar à morte em até cinco dias.O recurso também é essencial para hábitos de higiene e alimentação, além de fazer parte integrante da a maior parte das atividades econômicas.
Dados divulgados recentemente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostraram que nove em cada dez empresários estão preocupados com a crise hídrica do País. Essa preocupação se divide em relação ao aumento do custo da energia e ao temor de possíveis racionamentos que afetem as operações das empresas e indústrias. O prejuízo ambiental e econômico sem precedentes da escassez de água evidencia a urgência do desenvolvimento de um ambiente de cooperação multiatores na busca por novas soluções.
Ezequiel Vedana da Rosa, Fundador e CEO da Piipee, afirma que o maior desafio atual é ter conhecimento do volume de água que é gasto rotineiramente para, então, compreender as melhores maneiras de minimizá-lo. “Tudo aquilo que não medimos, não existe. Praticamente todos nossos clientes nunca haviam analisado quantos litros de água eram desperdiçados diariamente. O fato de ser um problema desconhecido faz com que as pessoas não se importem com ele, então para se ter uma gestão sustentável da água, primeiro se faz necessário entender como e onde a utilizamos”, disse.
A partir do momento em que se tem consciência desses números, torna-se mais fácil encontrar soluções para uma gestão mais sustentável dos recursos hídricos. Algumas empresas, inclusive, estão sendo criadas para atender essa demanda e auxiliar seus clientes no processo de transição. Referência na economia da água em sanitários, a Piipee é uma delas. Com uma projeção de redução de 30% do consumo mensal de água a partir do uso de seus produtos, a Piipee atende ambientes corporativos e domésticos que buscam a economia da água.
A criação da startup surgiu após uma reflexão sobre a quantidade de água gasta em descargas diariamente. Foi assim que a startup desenvolveu dispositivos com base em aditivos biodegradáveis que alteram as características físico-químicas da urina. Após a aplicação do produto, o líquido passa por uma transformação que o torna em um resíduo-composto, o que elimina a necessidade da descarga.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), 70% de toda a água consumida no mundo é usada na irrigação das lavouras, na pecuária e na aquicultura. A indústria responde pelo consumo de quase 20% e as residências, 12%.Ciente da urgência de uma gestão mais sustentável dos recursos hídricos, algumas corporações estão investindo em ações dentro de seus negócios, adaptando processos e buscando soluções para redução de desperdícios. A Krones, por exemplo, tem trabalhado ativamente sua estratégia de sustentabilidade desde 2008, por meio do programa enviro.
Atualmente com um enfoque maior para a gestão hídrica na indústria cervejeira, a empresa criou mecanismos para reaproveitamento da água residual da fabricação das bebidas. Segundo estimativas, a quantidade de água residual varia de 1 a 3 litros para cada 1 litro de cerveja produzido.
A Hydronomic, estação de tratamento da Krones, faz processos de ultrafiltração e osmose reversa na água residual, além de adicionar dióxido de cloro para desinfetação e estabilização do recurso. Ao fim do processo, a água pode ser reutilizada em uma nova produção de cerveja. “Todas as inovações seguem os pilares da Indústria 4.0, oferecendo aos nossos clientes, elevada produtividade e mínima geração de resíduos industriais, com respeito às melhores práticas de consumo de água e energia”, explicou Ayrton Irokawa, Gerente Comercial da empresa no Brasil.
As ações de economia estão ainda andando a passos lentos e é necessário aumentar o número de ações e os processos que não só reusam a água, mas que reduzem o volume utilizado. Estudos da Agência Nacional de Águas (ANA) preveem um aumento de 24% do consumo de água até 2030, enquanto o Brasil já perdeu quase 16% de superfície hídrica nos últimos 30 anos. Se nada for feito a partir de agora, a demanda do consumo não conseguirá ser atendida.
Ainda que o desafio seja grande, o sentimento geral é de otimismo. O passo mais importante já está sendo dado, por meio da conscientização social em relação ao tema sustentabilidade.
*Essa matéria foi publicada originalmente na Revista BrasilAlemanha de Inovação 2021. Para conferir este e outros textos na íntegra, faça o download da publicação aqui.