A Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) reuniu representantes de empresas, startups e meio acadêmico nesta quinta-feira (29), para debater as principais ferramentas para a construção de um futuro sustentável durante o 10º Congresso Brasil-Alemanha de Inovação e Sustentabilidade (CBAIS). Tendo “Shaping the Future – Green and Digital Transition” como tema central, o evento reforça a necessidade de alinhar os avanços tecnológicos com as questões ambientais.
“No âmbito da sustentabilidade, a única forma de resolvermos problemas complexos e alavancar soluções assertivas é por meio de ecossistemas colaborativos”, frisou Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação e Sustentabilidade da instituição.
Em seu discurso de abertura, Manfredo Rübens, Presidente da AHK São Paulo e Presidente da BASF para a América do Sul, comemorou o sucesso do evento, destacando que o ano marca também os 10 anos da criação do Departamento de Inovação da instituição. “Em razão dos nossos esforços durante esse período temos o privilégio de chegar à 10ª edição do Congresso Brasil-Alemanha de Inovação e Sustentabilidade como o maior evento sobre o tema entre ambos os países”, disse, completando: “Esperamos enriquecer o ecossistema de inovação e sustentabilidade brasileiro e alemão trazendo os avanços e novidades da Alemanha e frisando o papel de parceiro estratégico do Brasil para a transição verde mundial.”.
Antonio Lacerda, Líder do Comitê de Inovação da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e Vice-Presidente Sênior de Produtos Químicos e Produtos de Desempenho na BASF, seguiu com a abertura e reforçou o papel da sustentabilidade em diferentes níveis da esfera social. “Inovação e sustentabilidade andam juntos, para caminharmos em direção ao desenvolvimento, precisamos atuar de forma conjunta entre econômico e social”. Lacerda também reforçou a importância de atuações conjuntas: “É justamente nos momentos de crise e grandes desafios econômicos e ambientais, que temos que trabalhar em conjunto para promover o desenvolvimento econômico e social, especialmente na América Latina”.
O Embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, encerrou a abertura apresentando o cenário mundial: “Vivemos tempos desafiadores, crises tem impactos na vida das pessoas, na economia e meio ambiente”, declarou. Em seguida reforçou a urgência de soluções sustentável e controlar o aquecimento global. “As pesquisas desempenham papéis centrais na busca proteção climática.”
Ulrich Romer, Head of Division: General issues of national and international innovation and technology policy no Ministério Federal de Assuntos Econômicos e Ação Climática (BMWK) apontou os efeitos da colaboração entre o Brasil e a Alemanha. “Uma infraestrutura de qualidade global pode ser importante para mitigação de mudanças climáticas e as parcerias que estamos desenvolvendo com o Brasil estão trazendo grandes resultados para atingirmos os objetivos necessários.”
Como parte de um bloco de apresentações sobre a Indústria 5.0, o primeiro painel do dia reuniu o Presidente da Bosch América Latina, Gastón Diaz Perez; o Presidente e CEO da Siemens no Brasil, Pablo Fava; e o Vice-Presidente Sênior de Produtos Químicos e Produtos de Desempenho da BASF, Antonio Lacerda. Ao longo da discussão, o trio apresentou soluções das empresas voltadas para a transição verde e a digitalização do setor.
Além disso, os palestrantes salientaram a importância do Brasil como exemplo a ser seguido quando se fala em sustentabilidade. “Precisamos usufruir das vantagens brasileiras para construir um modelo para os outros países. Assim como outras nações são associadas a temas como indústria e inovação, o Brasil pode se tornar o grande nome quando falamos de sustentabilidade”, afirmou Fava.
Perez complementou que o País tem o potencial de impulsionar o mercado de precificação de carbono. “O Brasil tem uma oportunidade extraordinária por conta de sua matriz majoritariamente verde. O mundo já está olhado para a questão de precificação de carbono e os produtos brasileiros têm uma pegada baixíssima de carbono, o que torna o País um caso a ser estudado”, afirmou Perez.
Sobre o tema, Lacerda ressaltou a importância da digitalização para contabilização e transparência da pegada de carbono das empresas. “Neste momento, é fundamental iniciarmos um processo de sensibilização acerca da Pegada de Carbono de Produto (Product Carbon Footprint – PCF), de forma a fazer com que soluções neutras e positivas passem a ser priorizadas no mercado”, explicou.
Marcele Andrade, Chefe de Consultoria de Valor da Indústria e Líder de Sustentabilidade na SAP, compartilhou os principais desafios nos primeiros passos na busca pela digitalização. “Em pesquisa publicada pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF), 60% dos líderes das empresas entrevistados afirmaram que não possuem indicadores de sustentabilidade de acordo com os padrões internacionalmente aceitos”, relatou Andrade, concluindo: “isso explicita que os maiores desafios estão relacionados a dados para de fato concretizar a parte de análise e desempenho do ESG.”
Em seguida, o Vice-Chefe do Departamento de Máquinas de Produção e Gestão de Sistemas do Fraunhofer IPK, Claudio Geisert, apresentou produtos e tecnologias estimulam a qualidade de vida e a produtividade os colaboradores.
Leone Andrade, Diretor de Tecnologia e Inovação e Reitor do Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia (SENAI CIMATEC), palestrou sobre computação quântica focada em problemas globais. O termo diz respeito à ciência que estuda a aplicação da mecânica quântica na computação. “Essa inovação já é uma realidade aplicável no mercado. Entre as principais vantagens temos alta velocidade e alta capacidade de armazenamento”, afirmou Andrade.
O segundo bloco de painéis tinha a descarbonização como tópico principal e foi iniciado pela Sócia da consultoria McKinsey & Company, Tatiana Sasson. Em sua apresentação, ela explicou os diferentes tipos de mercado de carbono – regulado e voluntário (Emission Trading System – ETC). Adicionalmente, a palestrante destacou o compromisso do Brasil no processo de implementação e impulsionamento dos negócios, especialmente por conta das chamadas soluções baseadas na natureza (Nature-based solution – NBS), que protegem e administram ecossistemas naturais e forma eficaz e sustentável. “Como o Brasil tem 15% de potencial de NBS, podemos impactar o processo de descarbonização do mundo todo. Por outro lado, as empresas locais precisam continuar com ações energéticas para que esse movimento aconteça”, disse.
A palestra seguinte foi ministrada por Laurent Javaudin, Conselheiro para Clima, Energia, Meio Ambiente e Saúde na Delegação da União Europeia no Brasil. Discutindo os desafios para garantir igualdade de condições em descarbonização, ele compartilhou dados a partir do exemplo da fronteira de carbono da União Europeia. “Nós queremos um tratamento igual para restabelecer um preço de carbono quando os países entram no mercado europeu. Então temos mecanismos de compensação para garantir uma competitividade justa”, explicou Javaudin. declarou.
O painel “Futuro do mercado de carbono (mercado, precificação e monetização)” reuniu Cesar Tarabay Sanches, Chefe de Sustentabilidade na B3, Luiz Gustavo Bezerra, Chefe de Meio Ambiente, Mudança Climática e ESG, e Sócio na Tauil & Chequer Advogados, Rodolfo Viana, Gerente Sênior de Sustentabilidade na BASF América do Sul e Diretor Presidente na Fundação Espaço Eco e Paulo Alvarenga, CEO para a América do Sul na thyssenkrupp.
Rodolfo Viana iniciou o debate compartilhando as perspectivas energéticas para o País. “Boa parte da descarbonização no processo químico passa por energias renováveis, e no Brasil nós temos um potencial enorme com uma matriz extremamente verde e possibilidades para desenvolver ainda mais as tecnologias já existentes.”
“A McKinsey & Company apresentou um estudo que aponta que o Brasil poderia representar 15% do supply de global de gás carbono, temos muito potencial no desenvolvimento energético”, acrescentou Cesar Sanches. “Temos empresas líderes, acredito que agora seja a hora de unir esforços para destravar e alavancar esse crescimento positivo no País.”
Em sua fala, Paulo Alvarenga corroborou a opinião dos colegas de painel e ressaltou o potencial de energias renováveis: “O hidrogênio verde é um referencial em competitividade, pois substitui os combustíveis fósseis.” Em seguida, comentou sobre os desafios do mercado de carbono: “Nossa preocupação é que as empresas que se voluntariem para a descarbonização não sejam prejudicadas, o mercado de carbono vai homogeneizar a condição competitiva das empresas.”
Luiz Gustavo Bezerra completou: “No mundo, uma série de regiões que já adotaram um instrumento de precificação, seja ele imposto ou mercado, e para que esse instrumento seja bem construído é importante que seja feito um estudo específico para aquele país.”
O convidado seguinte foi o Prof. Dr.-Ing. Matthias Weigold, Diretor do Instituto de Gestão da Produção, Tecnologia e Máquinas-Ferramenta na Technischen Universität Darmstadt (TU Darmstadt), que exemplificou como a digitalização e as transformações digitais atuam na produção inteligente e neutra de carbono. “A transição digital será o motivador para alcançarmos a neutralidade climática”, afirmou. Em sua apresentação, ele propôs uma reflexão com base no questionamento: “como no futuro poderíamos projetar e operar uma produção eficiente me recursos com respostas resilientes?”.
O debate sobre as matérias primas renováveis ficou a cargo do Diretor de Matérias-Primas Renováveis e Acelerador Net Zero da BASF, Daniel Roser. A empresa, comprometida com as ações de mitigação dos impactos da mudança climática, tem a meta de zerar as emissões de carbono até 2050. “A descarbonização só é possível se utilizarmos fontes limpas, expandindo, assim, o ciclo sustentável de toda a cadeia de valor”, explicou.
Finalizando o bloco, o Head de Carbon Venture da Bayer Crop Science, Fábio Passos, esclareceu pontos sobre a relação entre a agricultura e a descarbonização. “Quando se fala de emissões na agricultura, uma série de questões que vão além do carbono em si estão em pauta, como o desmatamento e a adoção de medidas sustentáveis. Nesse sentido, várias oportunidades surgem no horizonte para mudar imagem do setor, para que ele deixe de ser visto como um problema e passe a ser uma solução.” De acordo com ele, essa transformação de mentalidade é especialmente significativa para o Brasil, que já tem uma das agriculturas mais sustentáveis do mundo.
Ao fim do evento, a professora e Coordenadora-geral da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), Roseli Lopes, apresentou a iniciativa e convidou jovens participantes do projeto a contarem suas experiências no campo de pesquisa, ciências e inovação. Por fim, a professora fez um lembrete: “É importante sempre investirmos nessas ações porque a inovação não acontece sem isso”, finalizou.
Startups marcaram presença no evento
Sempre engajada em promover a conexão entre startups e empresas, a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo convidou três startups para um pitch: Musa, que desenvolve uma tecnologia de gestão e reaproveitamento completo do lixo; Movestock, plataforma de negociação de ativos excedentes para a economia circular; e Sanergya, fornecedora de soluções de biometanização e alimentos vegetais. Além das apresentações, as startups tiveram estandes no local do evento para apresentar suas soluções e fazer networking com os convidados.
Além disso, o congresso foi marcado pelo anúncio da primeira startup vencedora da edição de 2022 do programa de aceleração Startups Connected, criado pela instituição. A iniciativa, que tem o objetivo de impulsionar a relação entre startups e empresas por meio de projetos baseados em desafios empresariais temáticos, divulgou a alemã Ritter como ganhadora do desafio “Innovation for Sustainability”, desenvolvido em parceria com a Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH) São Paulo.