Hydrogen Dialogue discute protagonismo do Brasil no mercado global de hidrogênio verde

Nos dias 9 e 10 de novembro, especialistas de diferentes setores do Brasil e da Alemanha se reuniram para discutir oportunidades de negócio e a viabilização do hidrogênio verde como a principal solução global para a descarbonização.

Inédito no Brasil, o Hydrogen Dialogue é uma iniciativa da NürnbergMesse Brasil, em parceria com a HiriaNürnberg Messe, a Guia Marítimo e a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo). A fim de potencializar as discussões sobre o tema, a edição deste ano do já tradicional Congresso Brasil-Alemanha de Hidrogênio Verde foi incorporada ao evento.

Durante os dois dias de programação, mais de 300 participantes acompanharam, de forma presencial e remota, paineis e workshops com discussões de alto nível sobre o mercado de hidrogênio verde na América Latina e o protagonismo brasileiro neste campo. 

Na abertura do evento, a Cônsul-Geral da Alemanha em São Paulo, Martina Hackelberg, comemorou o engajamento da iniciativa privada na pauta de descarbonização. “Me traz alegria que as empresas alemãs estejam desempenhando um papel de destaque na transição energética. Dessa forma, tenho certeza que a Alemanha irá apoiar o Brasil da melhor maneira possível”, disse. O Vice-Presidente da NürnbergMesse Brasil, Diego de Carvalho, acrescentou que eventos como o Hydrogen Dialogue são grandes oportunidades de discutir o hidrogênio verde e sensibilizar a todos sobre sua importância não só para o Brasil, mas para o mundo.

Dando continuidade à abertura do evento, a Chefe da Assessoria Especial em Assuntos Regulatórios do Ministério de Minas e Energia, Agnes Maria de Aragão da Costa, compartilhou detalhes sobre o novo Programa Nacional de Hidrogênio Verde (PNH2). “Iniciativas como essa trazem a indústria para a construção dessa transição”, destacou.

Em sua apresentação, o CEO da thyssenkrupp South America e Vice-Presidente da AHK São Paulo, Paulo Alvarenga, salientou a necessidade de investir na produção do produto em larga escala. “Estamos vivenciando um momento histórico da humanidade, no qual a transição energética se impõe de maneira urgente e brutal. Nesse contexto, a adoção do hidrogênio verde como substituto aos combustíveis fósseis vem iniciando uma nova era no Brasil e no mundo”, explicou.

O executivo aproveitou a oportunidade para apresentar a nova edição da Revista BrasilAlemanha, publicação tradicional da instituição, que reúne matérias sobre fontes de energia renováveis e as atualizações do cenário brasileiro relacionado ao mercado de hidrogênio.

Jasmin Rutka, da NürnbergMesse Alemanha, encerrou os discursos de abertura apontando as oportunidades e perspectivas do cenário energético no mundo atual.

Um dos temas de destaque do primeiro dia de evento foi a discussão a respeito das oportunidades e desafios do hidrogênio verde no Brasil, reunindo especialistas de diferentes setores para compartilharem suas perspectivas. Durante sua fala, Alvarenga fez apontamentos sobre perspectivas de desenvolvimento no setor. “Para acelerar a produção do hidrogênio verde precisamos entender o cenário e o destino da produção. Para viabilizarmos o uso dessa energia, precisamos alcançar um valor viável para o mercado”, disse.

A Analista de Políticas e Indústria da área de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Danielle Simões Guimarães, defendeu a importância de uma parceria sólida entre o governo e a indústria. “Com um elo mais forte entre as partes e o fortalecimento das etapas da produção e exportação de hidrogênio verde, podemos criar um cenário favorável para os investimentos”, explicou.

Por fim, o Superintendente da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), General Araújo Lima, citou fatores como condições climáticas e posição geográfica como facilitadores do mercado e da produção brasileira.

Trazendo para o debate o ponto de vista de setores pouco convencionais, Luis Viga, Business Development Manager no Brasil na Fortescue, debateu o contexto da mineração. “Usualmente não associamos a mineração às energias renováveis, mas com um olhar atento podemos perceber que o setor atende a demanda dos insumos minerais necessários para a produção do hidrogênio verde”, disse.

“A indústria de óleo e gás também se apresenta como impulsionador para o crescimento das alternativas, de modo a somar e otimizar o fornecimento e uso energético”, afirmou Carlos Victal, Gerente de Sustentabilidade do Instituto de Petróleo e Gás, sobre o fortalecimento do processo de transição  do uso de energias fósseis para energias renováveis. “O hidrogênio verde não representa uma ameaça para as energias fósseis, mas uma oportunidade para expandir e somar o conhecimento”, completou.

A programação contou também com um painel focado nos projetos do Governo Brasileiro para o hidrogênio verde. Ao longo da discussão, a Chefe da Assessoria Especial em Assuntos Regulatórios do Ministério de Minas e Energia (MME), Agnes Costa; o Assessor da Diretoria de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais (EPE), Jeferson Soares; e o Líder de Investimentos em Oil & Gas na Apex-Brasil, Carlos Padilla, discutiram o andamento da construção desta indústria e os players envolvidos para que o hidrogênio seja viabilizado. “Nós temos o papel de divulgar o que produzimos internamente, para que esse debate alcance também o investidor internacional”, explicou Padilla.

A discussão moderada pelo Coordenador de Inovação e Sustentabilidade da AHK São Paulo, Fernando Prado Paraíso, trouxe para o evento uma perspectiva prática. Apresentando projetos e mecanismos de financiamento do hidrogênio verde no Brasil, o Gerente Responsável pelos Estudos Setoriais e Regulatórios de Energia Elétrica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guilherme Arantes, se mostrou otimista para o mercado brasileiro de hidrogênio. “A demanda e o número de projeto já são altíssimos. Se pensarmos também nas formas de energia que não foram exploradas ainda, podemos dizer que o céu é o limite para o Brasil”, declarou.

Adicionalmente, Isabela Santos de Albuquerque Nunes Koletzke, do H2UPPP da Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), deu detalhes sobre o projeto e demostrou o engajamento da instituição para ampliar seu portfólio de projetos de hidrogênio verde no Brasil cada vez mais.

SEGUNDO DIA

Durante a abertura do 2º dia do Hydrogen Dialogue, o Vice-Presidente Executivo da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, Thomas Timm, salientou o valor de parcerias entre os dois países para que a indústria do hidrogênio se expanda. “Eventos como esse são essenciais para garantirmos o futuro sustentável não só do Brasil e da Alemanha, mas do mundo. Somente de forma coletiva poderemos fazer a diferença e encontrar soluções para problemas que não conhecem fronteiras”, declarou em vídeo-mensagem.

Adicionalmente, a Diretora Jurídica da Câmara Brasil-Alemanha Alemanha de São Paulo e Representante do Estado da Baviera no Brasil, Dra. Claudia Bärmann Bernard, celebrou a  relação entre os estados de São Paulo e da Baviera e incentivou a continuidade do fomento de debates sobre energias renováveis entre os dois países. 

A inserção do hidrogênio verde brasileiro na cadeia global também foi tópico de debate. Moderado pelo Coordenador-Geral de Cooperação e Articulação de Políticas da SUDENE, Renato de Oliveira, a discussão pretendia explorar o atual momento de desenvolvimento das energias sustentável, bem como sua aplicação em cenários futuros. “Nosso objetivo conjunto para o desenvolvimento das energias renováveis está em reduzir o custo de produção e difundir o conhecimento”, afirmou Oliveira.

O Gerente Geral da Air Products no Brasil e Argentina, Marcus Cesar Marinho da Silva, fez apontamentos sobre o potencial competitivo do Brasil no setor. O executivo colocou a profissionalização como principal caminho para o desenvolvimento a longo prazo, assim como o desenvolvimento das comunidades que cercam as plantas de produção. “Se ensinarmos as pessoas a operar plantas de maior complexidade tecnológicas, elas podem ter acesso a novas possibilidades de crescimento”, completou.

Ricardo Gedra, Gerente de Análise e Informações ao Mercado da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) acrescentou perspectivas práticas do funcionamento do mercado e a inserção brasileira. “Para otimizar os custos utilizamos a lei de mercado, ou seja, oferta e procura. Por conta disso, precisamos criar um mercado”, explicou.

Ainda que o potencial do Brasil não esteja sendo aproveitado completamente, o Presidente da Quinto Energy, Rafael Cavalcanti, enxerga o futuro do Brasil de forma otimista. “Não podemos nos basear no mercado europeu; o Brasil tem uma capacidade de produção completamente diferenciado em relação ao mundo”. O painel também teve a participação da Diretora de Certificação e Sustentabilidade do Bureau Veritas, Andressa Lisboa.  

Um dos objetivos do evento era evidenciar a flexibilidade do hidrogênio verde. Conforme a Vice-Presidente de Financiamento e Conselheira da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e Fundadora e Diretora Administrativa da Clean Energy Latin America, Camila Ramos, explicou, o produto também pode ser produzido a partir de outras fontes de energia limpa, como a solar. A fonte é a que mais cresce no mundo e, por conta disso, a associação criou uma força-tarefa para viabilizar oportunidades de negócios.

Um dos projetos apresentados no Hydrogen Dialogue foi o H2 Brasil, criado pela GIZ e que faz parte da Aliança Brasil-Alemanha para Hidrogênio Verde, formada pelas Câmaras Brasil-Alemanha de São Paulo e do Rio de Janeiro. O Coordenador do Componente Inovação Hidrogênio Verde da instituição, Dr. Bernd dos Santos, detalhou os frutos já existentes dessa iniciativa. “O nosso projeto já apresenta resultados bastante positivos, como o financiamento de mais de 80 milhões de reais para uma das startups participantes do nosso programa de aceleração. Além disso, temos vários projetos na manga para incentivar o desenvolvimento desse mercado no Brasil.”

Seguindo com o objetivo de apresentar a versatilidade do uso do hidrogênio verde e das fontes de energias renováveis, Daniel Hubner, Vice-Presidente de Soluções Industriais da Yara Internationale, mostrou as possibilidades e desdobramentos do uso do produto no setor agrícola.

O painel que encerrou a primeira edição do evento trouxe projetos concretos de inovações produzidas no Brasil para viabilizar a alternativa energética. Entre os painelistas, estavam Maurício Moszkowicz, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Ricardo Rüther, Professor Titular e Coordenador do Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e Daniel Gabriel Lopes, Diretor comercial da Hytron – Energia e Gases Especiais.

Em razão do evidente interesse e potencial brasileiro o Hydrogen Dialogue ganhará uma segunda edição nos dias 25 e 26 de outubro de 2023.