Muito além da extração de minérios usados para a produção de tecnologias de geração e distribuição de energia limpa, a mineração desempenha um papel estratégico no desafio que envolve as mudanças estruturais nas matrizes energéticas.
A transição energética anda de mãos dadas à mineração, quando se fala no assunto, é natural que as discussões comecem abordando as metas do Acordo de Paris para redução da emissão de gases, os desafios enfrentados e as propostas para alcançar as metas de descarbonização por meio da utilização de fontes menos poluidoras e renováveis. Contudo, é preciso compreender que, para que a transição energética de fato ocorra, precisaremos aumentar e repensar a atividade de extração mineral.
A indústria de base desempenha um papel crucial na transição para uma economia de baixo carbono. Isto porque a mineração está diretamente relacionada à produção de tecnologias de geração e distribuição de energia limpa.
Visto que a transição energética reestabelece como a energia é gerada, transportada, armazenada e utilizada, essa mudança implica também na necessidade de diversificação da cadeia mineral. O foco da extração passam a ser o lítio, níquel, cobre, manganês, nióbio, vanádio e grafite, essenciais para produção de baterias, por exemplo. Elementos de terras raras para ímãs permanentes também passam a ter destaque crescente, pois são vitais para a produção de turbinas eólicas e motores elétricos.
Segundo relatório do Banco Mundial, serão necessárias aproximadamente 3 bilhões de toneladas de minerais para garantir a viabilidade de implementação da transição. Ou seja, o investimento nas matrizes de geração renovável precede um alto investimento nos chamados insumos de base.
Para atender à demanda crescente na mineração, os próximos passos para o Brasil envolvem investimentos em estudos temáticos e levantamentos geológicos, a criação de instrumentos de financiamento e a agilização de processos de licenciamento mineral e ambiental.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional, as receitas dos produtores de lítio, cobre, cobalto e níquel, todos eles metais usados na fabricação de baterias, devem aumentar quatro vezes até 2050. O levantamento aponta ainda que a produção global desses minérios deve somar 13 trilhões de dólares entre 2021 e 2040. O montante é quase igual ao valor esperado na exploração de petróleo no mesmo período.
Mineração resiliente
A relação estreita entre a transição energética e a atividade mineral fomenta o debate a respeito da chamada “mineração verde”, que faz uso de fontes energéticas renováveis e desenvolve soluções que reduzam riscos ambientais e sociais.
Entre as medidas de adaptação estão as obras de contenção de encostas, drenagem e controle de inundações; conservação e recuperação de áreas naturais; criação de barreiras naturais e recuperação de manguezais em áreas costeiras; uso racional de energia e fontes alternativas; uso racional e reuso de água; inclusão do risco climático no planejamento e nas tomadas de decisões; mapeamento das áreas de riscos; sistemas de alertas para desastres naturais, dentre outros.
O Brasil tem, como poucos outros países no mundo, as condições necessárias para tirar do papel os planos de descarbonização da mineração. Em relatório divulgado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a geração de energia renovável bateu recorde em 2022. Usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa foram responsáveis por 92% do total de eletricidade produzida pelo País, maior porcentual dos últimos 10 anos, indicando um aumento de 8% comparado a 2021.
Focada em contribuir de forma significativa para os avanços nesta frente, a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo elaborou uma sugestão para que se estabeleça uma cooperação Brasil-Alemanha de Mineração, Recursos Minerais e Economia Circular entre o Brasil e a Alemanha. O objetivo da parceria é reforçar as oportunidades de cooperação nas áreas de beneficiamento e reciclagem de recursos minerais ao longo de toda a cadeia de valor da indústria mineração; no beneficiamento eficiente e compatível com o meio ambiente de recursos minerais para fins de ampliação da cadeia local; no desenvolvimento de atividades seguras e sustentáveis de mineração e pós-mineração; no intercâmbio de experiências sobre normas de licenciamento e as consequências da legislação ambiental para a exploração, a realização de atividades de mineração pós-mineração entre os órgão competentes de ambos os países; no apoio da implementação de padrões de proteção ambiental e social na extração, no tratamento e na reciclagem de recursos minerais.
*Essa matéria foi escrita por Flávia Gregório, Giovanna Barbato e Ana Carolina Castro e faz parte da Revista BrasilAlemanha 2023. Confira a edição completa da publicação aqui.