Estima-se que o mercado brasileiro de bovinos conta com 230 milhões de cabeças de gado. O número é maior que o da população brasileira, que, segundo o IBGE, está em 215 milhões de pessoas.
Esse imenso universo da pecuária pecuarista é constantemente alvo de pressões ambientais por conta dos impactos do segmento, seja em função das emissões de gases de efeito estufa ou a abertura de novas áreas para pastagens em regiões de desmatamento.
Um dos grandes aliados da atividade para melhorar sua imagem nesse cenário é a rastreabilidade. Ainda incipiente frente a todo o mercado, o uso da tecnologia para certificar a origem e as condições de manejo dos rebanhos já gera oportunidades de negócio.
É o que acredita o time de investidores do multifamily office GHT4, criado em 2021 por Laércio Cosentino, fundador da Totvs, Guga Valente, do grupo de comunicação ABC (agência Africa, DM9DDB e CDN) e Caio Ibrahim David, ex-CEO do Itaú BBA – depois de alguns anos, o grupo trouxe para dentro do quadro Livinston Bauermeister, ex-CEO da Veste, antiga Restoque.
Sob a gestão do CEO Rafael Cosentino, filho de Laércio, o GHT4 acaba de fazer uma aposta na pecuária digital com a aquisição da Spacevis, agtech que desenvolveu e acaba de lançar no mercado uma smart tag de rastreamento e monitoramento de gado em tempo real.
Com tecnologia de GPS embarcada, a tag, que fica alojada em brincos aplicados na orelha do bovino, consegue acompanhar sinais vitais, atividade e localização dos animais. Com isso, de acordo com o CEO da empresa, Guilherme Canavese, capta a geolocalização de área e atividade do animal.
“Sabemos o quanto ele anda e comprovamos sua origem e rastreabilidade, já que podemos provar que ele, por exemplo, não pisou em uma área de desmatamento ou de reserva legal”, afirmou Canavese.
A aquisição da Spacevis não teve valores divulgados pelo multifamily office e foi feita em parceria com a Stocci, outra investida do grupo, focada em análise de dados.
Segundo Rafael Cosentino, a GHT4 decidiu, no ano passado, atuar no mundo dos dados, com aplicação de inteligência artificial (IA) e novas tecnologias. A partir dessa tese, nasceu a Stocci, que hoje tem Gustavo Paro como CEO. E a porteira foi aberta para novos investimentos.
“Enxergamos que a Stocci tinha que ter soluções proprietárias para validar a tese e, nisso, a Spacevis foi uma das empresas que nos interessou. Conectamos dados com um segmento desassistido do ponto de vista financeiro de investimentos”, afirmou.
De acordo com Gustavo Paro, a Stocci veio ao mercado com o propósito de democratizar o uso de dados e de IA. A empresa atua numa esteira que transforma o dado em informação e depois em uma transação, explicou.
A Spacevis, segundo os investidores, se coloca em mercado com potencial de R$ 800 bilhões, considerando as mais de 200 milhões de cabeças.
De acordo com Canavese, CEO da Spacevis, no primeiro mês de vendas, ainda sem divulgação, a companhia já acumula 180 mil smart tags negociadas, num volume de negócios equivalente a cerca de R$ 15 milhões.
“Isso mostra o potencial da tecnologia. Nem todas as vendas foram fechadas, mas mostra que existe demanda com apenas 30 dias de mercado. Nesse bolo, temos desde o pequeno pecuarista com 200 cabeças, que quer proteger patrimônio, até grandes grupos com milhares de bovinos. Nossa tecnologia é viável para todos”, afirmou Canavese.