Lateinamerika-Initiative quer reforçar cooperação

Dirigentes das Câmaras Alemãs na América Latina e representantes de ministérios e entidades ligadas à indústria e ao comércio alemães estão reunidos, em São Paulo, para trocar informações sobre os mercados da região e analisar oportunidades de negócios.


Um dos participantes do Encontro Regional das Américas 2011 é o presidente da Lateinamerika-Initiative (LAI), Reinhold Festge, que está no País para descobrir como as empresas alemãs, sobretudo as pequenas e médias, podem intensificar a sua atuação no mercado latinoamericano. “Estou aqui para ouvir o que nós podemos fazer, como podemos fazer e como podemos combinar os projetos e as iniciativas”, afirma.


A LAI é uma iniciativa da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), da Confederação Alemã das Câmaras de Comércio (DIHK), da Associação Ibero-Americana (IAV), da Federação Alemã dos Bancos (BdB) e da Federação Alemã de Comércio Exterior (BGA) para promoção das relações comerciais entre a Alemanha e a América Latina.


Festge, que está à frente da LAI desde o ano passado, também é presidente da alemã Haver & Boecker do setor de máquinas, empresa que conta com escritórios no Brasil desde 1974. O Encontro Regional das Américas 2011 começa nesta quarta-feira (18) e terá três dias de duração.


Confira a entrevista de Reinhold Festge concedeu com exclusividade ao BRASIL ALEMANHA NEWS.


 


BANEWS – Como atua a Lateinamerika-Initiative (LAI)?


Festge – A LAI tem a ideia de intensificar a cooperação da Alemanha com os países da América Latina. Queremos nos posicionar melhor como Alemanha na região. Nos últimos anos, temos a impressão de que a indústria alemã deu mais importância para países como China e Índia, onde foram feitos investimentos muito altos. Queremos também chamar a atenção para o desenvolvimento na América Latina, pois vemos um progresso enorme nessa região nos últimos anos.


Não dá para comparar o Brasil da década de 1970, da primeira vez que eu estive aqui, com o de hoje. Eu venho aqui três ou quatro vezes por ano e cada vez eu percebo um progresso na infraestrutura, nos aeroportos e na economia, principalmente.


Então, queremos convidar mais empresas alemãs a investirem no Brasil, mas também apoiar as companhias brasileiras com origem alemã.


BANEWS – Essas mudanças que ocorreram na região nos últimos anos fizeram a LAI mudar sua estratégia?


Festge – Isso será discutido nos próximos três dias. Esse congresso (Encontro Regional das Américas) é importante para que possamos ouvir também o que os países da América Latina querem que façamos na Alemanha. Estou aqui para definir o que podemos fazer, como podemos fazer e como podemos combinar os projetos e as iniciativas.


Na teoria, claro que temos uma ideia na Alemanha do que poderia ser feito, mas precisamos intensificar a cooperação na infraestrutura e para mim, pessoalmente, é muito importante iniciarmos projetos com universidades e escolas para inovação. O Brasil ainda tem um déficit na formação de profissionais e, por isso, iremos fazer algumas propostas de como apoiar os estudos aqui.


Na Europa, principalmente na Alemanha, nós temos novas sistemáticas de estudo paralelamente ao trabalho. Não se trata de estudar à noite, mas durante o serviço nas empresas, por meio de parcerias com universidades. Agora, por exemplo, temos um contato com a Câmara Alemã em Buenos Aires, onde queremos iniciar algo nesse sentido.


BANEWS – Então a LAI está focada não só nos negócios entre empresas, mas também na parte de formação de pessoal?


Festge – Eu sou um representante principalmente das pequenas e médias empresas e nós temos aprendido que sem educação, sem formação e sem especialistas bem preparados não se pode obter sucesso no longo prazo. Pode ter sucesso no curto prazo, mas no longo prazo a base das empresas é a equipe. Então, queremos qualificação em todos os níveis, desde operadores até engenheiros e acadêmicos, e inovação.


O time brasileiro da minha empresa, por exemplo, tem desenvolvido novos sistemas para classificação de minérios e, hoje, isso é tecnologia exportada para o mundo.


BANEWS – Quais as principais oportunidades para as pequenas e médias empresas alemãs no Brasil?


Festge – Com o atual desenvolvimento econômico no Brasil, há espaço para todas as empresas que tenham produtos avançados. Por exemplo, temos um projeto que será iniciado nesse ano ainda para embalagens de alimentos. Um dos obstáculos para a exportação de alimentos da América Latina para a Europa é que as embalagens não estão de acordo com as normas da União Europeia.


Estamos convidando empresas alemãs para virem para o Brasil e desenvolver, em cooperação com a indústria brasileira, novos processos. Isso também será levado aos outros países da América Latina.


BANEWS – Além do Brasil, que outros países da América Latina têm potencial para investimentos na sua visão?


Festge – Há potencial na Argentina e sabemos que o Chile é muito interessante. Além disso, tem o Acordo do Pacífico (acordo de livre comércio, entre México, Chile, Colômbia e Peru). Nós temos que reagir. A indústria europeia precisa se posicionar e levantar a mão pra dizer: “Nós estamos aqui também e queremos colaborar com nossos parceiros”.


BANEWS – O senhor acha que ainda há um problema de imagem da América Latina, que as empresas alemãs ainda estão receosas de que a estabilidade econômica seja passageira?


Festge – Eu acho que muitas empresas simplesmente não conhecem a região. Quando fazemos reuniões com as pequenas e médias empresas só 10% a 15% conhecem o Brasil, eles nunca viajaram para cá. Eles precisam de um catalisador para acelerar o interesse.


Hoje em dia, se nós compararmos Brasil, Índia e China, para mim o maior risco está na China. Pois os outros dois países já alcançaram a democracia. Nesse sentido, o Brasil já ganhou muito respeito. Havia um medo de que a inflação voltasse, mas sem dúvida o Brasil é um sócio forte.


BANEWS – Então ainda é preciso convencer mais de 80% dos empresários a acreditarem na América Latina e no Brasil.


Festge – Sim, os pequenos e médios. Mas também é preciso convencer o governo alemão. Os últimos governos, na minha opinião, esqueceram que a América Latina existe. Eles se concentraram mais na China, Rússia e Índia, e a América Latina é longe, é carnaval. A LAI gostaria de ajudar a mudar essa imagem. Nós temos indústrias de primeira linha, mercado e pessoal com iniciativa.


Sempre me impressionou, quando vivi aqui, que os meus funcionários brasileiros trabalhavam durante o dia e, de noite, iam para a escola ou universidade. Nunca entendi como aguentavam trabalhar das 7 horas da manhã até as 17 horas, e depois eles pegavam um ônibus, voltavam e estudavam até as 23 horas. Eles mostravam que eram pessoas fortes e dedicadas. Temos que mostrar isso para a Europa também.


BANEWS – E quais serão os próximos passos da LAI nesse sentido?


Festge – Como eu falei, nós queremos primeiro receber alguns inputs sobre o que é necessário e o que é possível. Mas já sabemos que temos que convidar mais alemães para se informarem e para visitarem a região. E precisamos convidar mais jovens brasileiros para conhecer a Alemanha, e vice-versa.

AHK
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