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30 de abril de 2025

Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha recebe Christoph Schemionek e Christopher Garman para debate sobre novas dinâmicas geopolíticas

Por Ana Carolina Castro

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Foto: AHK São Paulo.

A Diretoria da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) se reuniu nesta quarta-feira (30) para uma discussão aprofundada sobre o cenário político-econômico internacional, destacando o impacto das novas dinâmicas da geopolítica comercial sobre o Brasil.

Primeiro encontro da Diretoria da instituição sob a Presidência de Alexander Seitz, Chairman Executivo da Volkswagen para a Região América do Sul, a reunião contou com a participação de dois renomados especialistas internacionais: Dr. Christoph Schemionek, Presidente & CEO da Delegação Alemã da Indústria e Comércio em Washington, e Christopher Garman, Diretor Executivo para as Américas do Eurasia Group.

Abrindo a rodada de apresentações, Christoph Schemionek compartilhou uma análise contundente sobre o atual reposicionamento geoeconômico global, impulsionado principalmente pela crescente fragmentação nas relações comerciais entre Estados Unidos, China e Europa.

Segundo ele, vivemos um momento em que as decisões econômicas estão cada vez mais determinadas por agendas geopolíticas e essa tendência é determinante na remodelação dos fluxos de investimento e as estratégias de cadeias de suprimentos. “A globalização como conhecíamos está sendo reconfigurada. A busca por resiliência e segurança está se sobrepondo à eficiência. Isso está criando oportunidades para países que oferecem estabilidade institucional e segurança jurídica, como o Brasil”, destacou.

Schemionek observou que o ambiente empresarial nos Estados Unidos já reflete essa nova realidade. Empresas têm demonstrado forte preocupação com eventuais mudanças de rumo político, especialmente com a possibilidade de um segundo mandato de Donald Trump. “Há incertezas regulatórias que dificultam decisões de longo prazo. É por isso que muitos CEOs estão olhando para países fora do radar tradicional, em busca de parceiros estratégicos”, disse.

Ele também pontuou que, embora os EUA estejam implementando políticas de reindustrialização, o custo dessa estratégia pode ser alto, tanto em termos fiscais quanto de produtividade. “Se a América Latina, em especial o Brasil, conseguir alinhar competitividade com sustentabilidade, há um campo aberto para se posicionar como hub confiável de produção e fornecimento para as economias centrais”, avaliou.

Sobre os setores mais afetados, Schemionek destacou os segmentos de manufatura, tecnologia e energia. “Empresas alemãs que operam nos EUA já começaram a rever sua exposição à China e buscam diversificação. O Brasil pode ser parte dessa equação, mas precisa demonstrar previsibilidade regulatória e ambiente de negócios estável”, reforçou.

Durante a reunião, alguns membros da Diretoria e da Presidência também compartilharam suas visões sobre os possíveis impactos do cenário geopolítico e econômico em seus respectivos setores de atuação. Representantes das áreas automotiva, química, do agronegócio, de logística e do setor financeiro trouxeram perspectivas complementares, destacando tanto os riscos quanto as oportunidades que podem surgir diante da reconfiguração das cadeias globais de valor, das incertezas comerciais e da realocação de investimentos.

Na sequência, Christopher Garman, Diretor-Executivo para as Américas do Eurasia Group, palestrou sobre o cenário global e como a atual conjuntura geopolítica traz implicações diretas sobre moedas emergentes e cadeias produtivas. Para o analista, esse rearranjo global pode beneficiar países como o Brasil, que possuem ativos estratégicos em energia, agricultura e mineração. “O Brasil tem potencial para se sair bem nesse novo contexto, mas os gargalos fiscais e os juros reais elevados ainda limitam a capacidade do País de capitalizar essas oportunidades”, afirmou Garman. “Se entrarmos em um ambiente mais ‘risk-off’, com juros altos e realocação de cadeias produtivas, o real pode facilmente ir para R$6,30. O Brasil pode entrar em um ciclo de estagnação, com crescimento fraco e juros ainda elevados.”

Para Garman, os impactos das políticas tarifárias de um eventual segundo mandato de Donald Trump não devem ser subestimados. “Trump pretende dobrar as tarifas em relação à China e pode incluir aliados europeus em novas disputas comerciais. Isso cria uma fragmentação do comércio internacional onde cada região busca fortalecer laços internos. E aí o Brasil, como potência energética, agrícola, verde e mineral, ganha um papel importante, desde que consiga resolver seu principal gargalo: o custo fiscal e os juros reais elevados”, ressaltou.

Ele alertou também para os riscos internos no Brasil: “Estamos vendo o Governo adotar medidas populistas para enfrentar a perda de apoio, mas manter o câmbio depreciado e estimular a inflação pode ser contraproducente. O ideal seria manter o canal fiscal ajustado e permitir que a inflação ceda de forma estrutural. Esse seria o cenário mais favorável ao presidente Lula em 2026”.

A apresentação de Garman incluiu ainda uma análise detalhada sobre o cenário eleitoral brasileiro. “Lula começou 2023 com 49% de aprovação e agora está em 42,8%. Em um banco de dados com 500 eleições mundo afora, uma taxa de aprovação de 40% é praticamente o ponto de inflexão. A chance de reeleição cai para cerca de 58%”, afirmou. Ele apontou o alto custo dos alimentos como o principal fator por trás da queda na popularidade. “A inflação e o custo de vida estão corroendo o apoio do governo, o que aumenta a tentação de medidas populistas em 2025”, disse.

Do lado da oposição, Garman mencionou o impasse quanto à sucessão de Jair Bolsonaro, que deve estar inelegível. “Existe uma pressão política significativa para que ele apoie o Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que teria mais chances de vencer. Mas Bolsonaro ainda cogita lançar seu filho, Eduardo. Se Lula estiver enfraquecido nas pesquisas, a chance de Eduardo ser o candidato cresce”, avaliou.

Ações institucionais e eventos estratégicos

Durante a reunião, a Vice-Presidente Executiva da AHK São Paulo, Barbara Konner, apresentou os principais marcos recentes da agenda institucional, entre eles o AHK Business Lunch com o Vice-Presidente Geraldo Alckmin, a reunião com a Secretária Tatiana Prazeres, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC); e o Girls’ Day na FESTO, iniciativa realizada em parceria com o Consulado da Alemanha e voltada à inserção de meninas em áreas técnicas e de inovação.

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