
Nesta sexta-feira (07), o Congresso Brasil-Alemanha de Inovação e Sustentabilidade (CBAIS), maior evento de inovação e sustentabilidade entre Brasil e Alemanha chegou à 13ª edição, com um especial Pré-COP30, às vésperas do início da conferência do clima da ONU, em Belém do Pará. Promovido pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) em parceria com a Eurocâmaras – instituição que congrega as Câmaras europeias presentes no Brasil, o CBAIS foi realizado no auditório da InvestSP e reuniu mais de 200 participantes em um dia intenso com debates de alto nível sob o tema “International Trends for a Net Zero and Climate-Resilient Future”.
Essa edição trouxe um debate qualificado entre representantes de empresas europeias no Brasil, além de fortalecer o intercâmbio entre instituições e órgãos governamentais do Brasil e da Alemanha para fomento de soluções inovadoras, políticas públicas e negócios que aceleram o Net Zero, a adaptação climática e a economia verde.
No discurso de abertura do evento, Barbara Konner, Vice-presidente Executiva da AHK São Paulo reforçou a agenda do evento, alinhada à COP30. “Hoje, reunimos aqui representantes de governos, empresas, startups, instituições financeiras e da sociedade civil para um diálogo essencial: como acelerar, juntos, a transição para uma economia de baixo carbono, regenerativa e inclusiva.”
Sérgio Queiroga, Presidente da Eurocâmaras e Presidente da Câmara Sueca, destacou a necessidade de unir iniciativas em busca de um futuro sustentável. “Precisamos ter uma Europa mais unida no Brasil, com eventos que unem a comunidade, estudos que favoreçam a indústria europeia e com políticas comprovadas. Tudo o que pudermos fazer para melhorar a indústria europeia aqui vamos fazer, buscando o apoio e o trabalho conjunto”, afirmou.
Em seguida, Martina Hackelberg, Cônsul-geral da Alemanha, trouxe foco para a parceria Brasil-Alemanha, destacando a necessidade de inovação e transformação por meio da cooperação. “Todos juntos fazemos um ecossistema de inovação e isso transforma o futuro. O mundo olha para Belém com expectativa. Inovação é necessária para transformar a tecnologia em soluções.”
O Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Lima, destacou a necessidade de parceria entre o setor privado e público. “Acredito fielmente na inovação vinda por meio de apoio das universidades e pesquisas, mas o que realmente movimenta são as iniciativas de empresas privadas, como as de vocês”, disse o Secretário, também demonstrando a preocupação com as questões climáticas e demográficas e instigando a necessidade de ações concretas e projetos de execução.
A abertura ainda foi marcada pela assinatura de dois Memorandos de Entendimentos (MoUs). Os acordos de comprometimento de cooperação buscam o incentivo ao desenvolvimento econômico e relações comerciais entre as instituições. O primeiro acordo, entre AHK São Paulo e Invest SP, foi assinado por Barbara Konner; Jorge Lima; Rui Gomes, Presidente da InvestSP; e Julia Saluh, Diretora na InvestSP. O segundo, entre a Eurocâmara e Invest SP, foi assinado por Sergio Queiroga e novamente pela Vice-Presidente Executiva da AHK São Paulo.
O keynote speaker Wolfgang Dierker, Global Head Government Affairs da SAP, abriu o primeiro painel do dia discursando sobre como o Brasil se posiciona sobre as tendências e desafios globais para um mundo mais sustentável. Para Dierker, é de grande importância a busca por soluções digitais que auxiliam a conexão num mundo repleto de conflitos, desencontros e fragmentação. “Há uma grande dificuldade de alinhamento em relação às mudanças climáticas, então as instituições que fomentam parcerias são elementos chave para uma boa economia. As empresas que podem usar a tecnologia para efeitos positivos no meio ambiente se mantêm no centro da transformação”, frisou.
Em seguida, o executivo participou de um debate sobre oportunidades na colaboração no contexto de União Europeia-Mercosul para a promoção do desenvolvimento sustentável, junto a Renato Pacheco e Silva Bacellar Neto, Consul Honorário da Suécia e a moderação de Stephanie Viehmann, Diretora- Executiva de Relações Institucionais e Associativas da AHK São Paulo.
Trazendo perspectivas sobre o cenário da União Europeia de cooperação sobre assuntos de sustentabilidade e inovação, Pacheco ressaltou a importância de não apenas adaptar-se a novas tecnologias, mas de participação na inovação tecnológica em busca de soluções sustentáveis. Ele destacou ainda a importância da diversidade para o desenvolvimento sustentável: “Temos que juntar as habilidades. O Brasil é líder em diversidade e isso pode ‘provocar’ a rota do Brasil e da América do Norte. Aqui temos tecnologia moderna e somos a confiança.”
Colaborando, Dierker adicionou: “O Brasil é um país multicultural, todos os cidadãos são descendentes de diferentes grupos étnicos, o que significa que todos aqui hoje têm uma relação com o passado de buscar essas origens e culturas. Isso é algo que a Europa pode se beneficiar. A biodiversidade e a diversidade social e étnica.”
Para finalizar a discussão, Viehmann finalizou o painel abordando a perspectiva esperançosa para a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE). “Nós, no Brasil, acompanhamos com entusiasmo o avanço das negociações desde o final de julho com a Comissão Europeia, responsável pelo lado europeu do acordo, e mantemos uma grande esperança de que a assinatura possa ser o nosso ‘presente de Natal’”, explicou. Ambos os executivos enfatizaram a importância de um acordo bem-sucedido entre os blocos.
Na sequência, Marcella Novaes, Vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) apresentou um estudo sobre as diretrizes para uma indústria amazônica de baixo carbono, destacando o papel de protagonismo do Pará no ramo industrial e como maior economia do Norte.
Novaes mostrou também os desafios do Pará e apresentou o projeto Jornada COP+, realizado de maneira a trazer destaque e desenvolvimento para a região mesmo após o fim da conferência da ONU em Belém e demais eventos envolvendo a questão climática que tomaram o ano de 2025.
“A Jornada COP+ mostra o protagonismo do Norte e a importância da preservação. Não queremos apenas chegar na COP, queremos que esse “mais” aconteça. A gente não quer parar aqui e não queremos que acabe. Até 2030, queremos que realmente tenha movimentos e entregas relevantes para a região amazônica ter mineração e preservação das florestas”, disse.
Fechando o primeiro bloco, Bruno Vath Zarpellon, Diretor-executivo de Desenvolvimento de Negócios da AHK São Paulo e Marcia Nejaim, Representante Regional da Apex, abordaram a importância do Brasil como país parceiro da HANNOVER MESSE 2026. “Não existe momento melhor para trazer nossas soluções e ativos para a HANNOVER MESSE. Assim como o Congresso, a HM busca convergência entre sustentabilidade e inovação para um futuro melhor, abraçando todos os campos, mas com foco na indústria”, explicou Zarpellon.
Nejaim apresentou os temas estratégicos que serão discutidos na feira da cidade alemã, como descarbonização, hidrogênio verde, cyber security, TICs, soluções industriais e startups: “Mais do que uma feira, a HANNOVER MESSE é uma plataforma de negócios. Temos uma ambição de posicionar o Brasil como um provedor confiável de soluções para indústria. A feira bate tenência, e as pessoas estão lá para se aprofundarem na temática, trocar produtos e serviços para fazer um trabalho de investimento em parcerias tecnológicas”.
Após o almoço, Alice Brim, do time de Inovação e Sustentabilidade da Câmara e Fernando Paraiso, Diretor de Inovação e Sustentabilidade da AHK São Paulo, apresentaram a Iniciativa D4iD (Deep Techs for Industry Decarbonization). “O objetivo é entender as dores das indústrias referente à descarbonização. Em parceria com a CUBO Itaú, o programa é voltado ao mapeamento e aceleração de startups de base científica e tecnológica com soluções para a descarbonização”, disse Paraiso.
Em seguida, Cara Ammann e Lisa-Marie Frühauf, da startup Softletics, apresentaram o projeto vencedor do desafio “Global Health” do programa de aceleração Startups Connected ao lado do DWIH São Paulo, representada por Anja Grecko Lorenz.
O painel seguinte abordou as Finanças Verdes, reunindo Christian Krämer, membro do Management Committee da KfW; Frank Scheidig, Head of Senior Executive Banking da DZ Bank; Esther Unzueta Dominguez, Head de Sustainable Finance do Santander; e Giliane Coeurderoy, CEO da Crédit Agricole e a moderação de Zarpellon.
Cada executivo explicou sobre como a sustentabilidade e a biodiversidade são tópicos tratados com prioridade em suas empresas, principalmente na América Latina. Uma das principais dificuldades levantadas pelos painelistas foi a falta de financiamento. “O orçamento está caindo em todo o mundo. É fácil dizer que ‘é só mobilizar mais capital’, mas realmente é difícil fazê-lo. Então, projetos de inovação têm surgido e se tornado cada vez mais importantes para atrair e reter o capital”, explicou Krämer sobre o contexto da KfW e indústrias no geral.
Scheidig também destacou a importância de se aventurar em novos mercados em busca de recursos financeiros. “Não devemos nos prender em apenas um país, principalmente no contexto global de incerteza. Explorar novos mercados é investir de maneira inteligente”.
Mesmo com os desafios, os painelistas abordaram assuntos como clima e biodiversidade, temáticas de grande relevância e interesse na questão de financiamento no Brasil por parte da Europa.
Em seguida, Matheus Pintor, Head de Vendas e Marketing da Bosch; Maria Helena Calado, Head de Sustentabilidade da Volkswagen; Alexandre Barroso de Oliveira, Gerente-executivo de Desenvolvimento de Negócios da AUREN; e Carlos Lassery Rocha, Diretor de Frota da Maersk; participaram do painel de Net Zero, com moderação do Bruno Vath Zarpellon, onde trocaram ideias sobre estratégias para descarbonização industrial, energias limpas e justiça climática.
“Reunimos hoje empresas de diversos setores, e é interessante observar como a descarbonização se apresenta como um tema transversal, capaz de conectar todas essas áreas por meio do mercado de carbono”, destacou Zarpellon. O Diretor-executivo de Desenvolvimento de Negócios da AHK SP também ressalta que a inovação não é apenas o produto final, mas também o processo. “É necessário inovar o modelo de negócio e repensar a forma como colaboramos. A sustentabilidade é uma transformação contínua, e exige novas tecnologias, mas também novos processos”.
As empresas reafirmaram seu comprometimento com a descarbonização e reiteraram como esse tema tem se tornado um pilar central nas empresas. Para Barroso, “não podemos nos preocupar apenas com o produto, é preciso considerar o que a indústria quer, o que o cliente final quer. A gente precisa, cada vez mais, entrar nas demandas da cadeia produtiva”.
Calado trouxe ao debate uma provocação e reflexão, afirmando que a sustentabilidade precisa passar por um viés econômico. Segundo ela, apesar dos investimentos em sustentabilidade serem um custo à companhia, a inação em relação à sustentabilidade acaba sendo um custo maior. “No final do dia, o custo da insustentabilidade não entra na conta da empresa. Olhando para essas questões, percebemos que o não fazer é mais caro do que o investimento”.
Lassery completa que é preciso entender que “a escolha de um mundo mais sustentável e verde é a escolha de uma sociedade, não apenas das empresas”. Pintor completa: “Antes de pensar no futuro, precisamos buscar soluções para o meio do caminho. Apostamos fortemente em modelos de negócio economicamente sustentáveis, como o Retrofit. Como empresa, é essencial lutar por soluções que sejam, de fato, verdes”.
Continuando a temática, o painel de Economia Circular reuniu Valeria Michel, Diretora de Sustentabilidade da Tetra Pak; Dra. Leila Aprile, Diretora de EHS da Siemens; e Isabella Menezes Goltz Ver, Gerente de Economia Circular e Materiais Reciclados da Saint-Gobain, com moderação de Natália Franceschini, Coordenadora de Economia Circular da InvestSP.
A primeira reflexão foi acerca da reciclagem, que muitas vezes é dada como sinônimo de economia circular. Para Franceschini, “a reciclagem é fundamental para a economia circular, mas ela não é tudo. É preciso repensar o ciclo inteiro para usar melhor os recursos e gerar valor de forma sustentável”.
Michel concorda e segue ne mesma linha: “É necessário associar a cadeia por completo, considerando questões como tempo de vida útil e sustentabilidade dos materiais”, disse.
Aprile ainda relembrou a importância de ouvir as demandas do consumidor. “Os clientes estão preocupados com a questão da sustentabilidade. É um desafio alinhar as expectativas do consumidor com um fornecedor sustentável, olhando para fonte renovável. É preciso olhar para tendências e alinhar a estratégia, senão não faz sentido”.
Menezes destaca a necessidade de realizar um trabalho de cadeia a fim de “tropicalizar” as iniciativas, entendendo o contexto de cada fornecedor e consumidor e adaptando as ações. “Precisamos entender a durabilidade do material que estamos trabalhando, não só sobre reciclagem, mas sobre seu ciclo de vida também. Dessa forma, a sustentabilidade deve ser trabalhada em duas frentes: a interna, focada em metas de carbono e performance econômica; e a externa, que consolida o compromisso da empresa com a sociedade e o meio ambiente”.
A última palestra foi moderada por Jean Pierre, Co-leader de comissões da Câmara de Comércio França Brasil (CCIFB); André Ferrarese, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Tupy; Renata Freesz, Head de Inovação Corporativa da Klabin; e Rodolfo Walter Viana, Gerente de Sustentabilidade da BASF América do Sul e Diretor-presidente da Fundação Espaço ECO debateram como o desenvolvimento sustentável, tecnologias “responsáveis e inteligentes” para exploração de recursos naturais, soluções baseadas na natureza são um impacto para os negócios empresariais.
“O Brasil tem a faca e o queijo na mão para desenvolver uma atividade impressionante com critérios transparentes e projetos voltados a bioeconomia e economia regenerativa”, explica Pierre. Renata acrescentou que o modelo de negócio no Brasil é coexistir com a florestas, e isso traz maior produtividade para as empresas. “O Brasil é referência mundial no quesito de sustentabilidade e como coexistir a indústria com a natureza. Temos toda essa potência e é tão reconhecido globalmente. Aqui tem muito espaço de empresas que são circulares e fazem isso há muito tempo”, explica.
Complementando, Viana ressaltou a importância de impulsionar projetos de economia circular. “O papel das grandes corporações é utilizar dessa capacidade de puxar esse tema da sustentabilidade e implementar do dia a dia da sociedade, é um grande ecossistema. Precisamos trazer todos que estão envolvidos nessa cadeia de valor para participar dessa discussão. Muito importante esses canais, como hoje com a Câmara, para falarmos sobre esse assunto”, explicou.
Para finalizar, Indianara Jesus, representante da área de Inovação e Sustentabilidade da AHK São Paulo, apresentou o PMEs Go Green, iniciativa da AHK São Paulo e Fundação ECO+ desenvolvida no âmbito do programa AL-INVEST Verde, financiado pela União Europeia. O projeto capacita pequenas e médias empresas dos setores químico e automotivo para promover o crescimento sustentável e a criação de empregos na América Latina.
O encerramento do Congresso foi dado com a apresentação de três projetos envolvidos no PMEs Go Green, com a oportunidade de mostrar soluções inovadoras para acelerar a transição verde nas cadeias de valor de sustentabilidade. “O PMEs Go Green já impactou mais de 400 pessoas, gerou mais de 100 conexões e, desde o seu lançamento, realizou mais de quatro eventos de matchmaking”, explicou Jesus.
