A política alemã de mudança da matriz energética, ou Energiewende, foi tema da palestra do diretor do Centro de Pesquisa em Políticas Ambientais da Universidade Livre de Berlim, Helge Jörgens, durante o I Diálogo Brasil-Alemanha em Ciência, Pesquisa e Inovação, nesta quinta-feira (22), no Club Transatlântico, em São Paulo. O evento foi organizado pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH-SP, na sigla em alemão), com o objetivo de intensificar o debate científico entre Brasil e Alemanha e fortalecer as relações entre pesquisadores dos dois países.
Helge Jörgens destacou que o governo alemão reagiu de pronto ao desastre nuclear de Fukushima, no Japão, ocorrido em março de 2011: em poucos dias, fechou oito das 17 usinas nucelares do país, e, pouco depois, anunciou que as restantes seriam encerradas.
Segundo o pesquisador, dentre as metas da Energiewende estão a redução de 40% nas emissões de gases de efeito estufa até 2020 e de 80% até 2050; o corte de 10% no consumo absoluto de energia do país até 2020 e de 25% até 2050; e a participação de 35% das fontes renováveis na matriz energética alemã até 2020 e de 60% até 2050.
O fechamento das usinas nucleares e os objetivos ambiciosos foram vistos por alguns observadores internacionais como “malucos”, de acordo com Jörgens. No entanto, ele ressalta que “em 2012 a Alemanha já possui 25% de sua base energética formada por fontes renováveis, o que prediz que a meta de 2020 deverá ser alcançada” – acredita.
Além disso, segundo Jörgens, o movimento anti-nuclear e pró-energias renováveis já existe na Alemanha desde os anos 70, e o governo federal vem tomando medidas nesse sentido há mais de uma década. Assim, pode-se dizer que a política de mudança da matriz energética desse governo não é uma reação de pânico a Fukushima, mas sim um passo adiante num caminho que já estava sendo trilhado.
Quanto à possibilidade de a política alemã poder servir de modelo para outros países, o pesquisador observa que um mundo que terá, num futuro próximo, de 9 a 10 bilhões de habitantes só poderá funcionar com energias renováveis. “Os custos dessa virada energética serão menores se vários países seguirem o caminho juntos”, argumentou.
Jörgens pontuou, ainda, que as experiências de países-piloto na implantação de uma matriz energética renovável podem contribuir com modelos concretos de conformação técnica, econômica e jurídica a outras nações, além de poderem mostrar a elas o que funciona e o que não funciona na aplicação dessa matriz.
“Acredito que há bases para um otimismo cauteloso, para que os países trilhem esse caminho de transformação”, finalizou.