Pelo programa Ciência sem Fronteiras, do governo brasileiro, a Alemanha deve receber 10 mil estudantes brasileiros até 2015. Isso vem despertando um interesse ainda maior das universidades alemãs em cooperações com parceiros brasileiros, em um cenário com mais de 40 anos de cooperação acadêmica e científica bilateral. “A riqueza de aprendizado desta cooperação tem propiciado resultados incomensuráveis. E é com essa certeza que devemos continuar a caminhar juntos”, destacou Denise Neddermeyer, diretora de Relações Internacionais da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), durante o I Dialogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, ocorrido no final de novembro, em São Paulo, promovido pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH-SP). Christian Müller, presidente do Conselho Diretor do DWIH-SP, complementou: “A Alemanha tem sido muito colaborativa com esse programa brasileiro e estamos muitos satisfeitos com isso”.
Para Müller, que também é diretor do DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico), do ponto de vista acadêmico e científico, o Brasil é um país de grande importância estratégica para a Alemanha. E o aumento, tanto qualitativo quanto quantitativo, das estruturas de ensino superior e de pesquisa no Brasil demanda mais engajamento das instituições alemãs. “A Alemanha tem interesse em estreitar relações e trabalhar cada vez mais em conjunto com o Brasil”, destacou. “Mas há vida além do programa Ciência sem Fronteiras”, brincou Denise. A Capes tem cooperação com diversas entidades, como o GIZ e a Fundação Humboldt. A barreira linguística é um dos desafios e o governo e entidades brasileiras estão atentos a isso. No curto prazo, adiantou a diretora da Capes, será iniciado um programa de envio de professores de alemão para instituições na Alemanha.
Durante o Diálogo Brasil-Alemanha, Abílio Afonso Baeta Neves, ex-presidente da CAPES e da FAPERGS (Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul), ministrou a palestra “Evolução da cooperação acadêmica e científica Brasil-Alemanha”. Para ele, o Brasil experimentou nas últimas décadas profundas transformações e um ponto positivo é o crescimento da internacionalização da produção científica e do intercâmbio acadêmico. Neves lembra que o Brasil figura na 6ª colocação entre as maiores economias mundiais e está em 13º entre os países com maior produção científica. “A internacionalização começa a ganhar espaço. A cooperação com a Alemanha tem contribuído para fortalecer a capacidade de pesquisa conjunta e para que possamos estimular a relação direta entre boas universidades brasileiras e alemãs e, assim, estabelecer planos estratégicos institucionais de longo prazo”, destacou.
Centro Alemão de Ciência e Inovação
O Centro Alemão de Ciência e Inovação é uma iniciativa do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha. Além dos escritórios de São Paulo, há centros similares em Moscou, Nova Délhi, Nova York e Tóquio.
Na busca por parcerias e estudantes, muitas universidades e entidades alemãs estão abrindo escritórios de representação no Brasil concentrados no DWIH-SP. O centro abarca atualmente três agências de promoção e fomento e cinco representações de 13 instituições de ensino superior da Alemanha. “O DWIH-SP é o resultado de uma iniciativa da política externa do governo alemão e se propõem justamente fomentar a ciência e a inovação”, destacou o cônsul da Alemanha em São Paulo, Matthias von Kummer, durante o evento. “A meta é internacionalizar a ciência e desenvolver os desafios globais do século XXI”, complementou Márcio Weichert, coordenador do DWIH-SP.
Dentre as entidades que se apresentaram no Diálogo Brasil-Alemanha, está a Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (DFG, na sigla em alemão). Com escritório presente do DWIH-SP, ela é a principal organização autônoma de fomento à ciência na Alemanha, e, para possibilitar suas pesquisas, recebeu um orçamento de €2,5 bilhões para 2012, vindos dos governos federal e estaduais da Alemanha. No Brasil, foi inaugurado em 2012 o escritório da DFG para a America Latina. Desde 2006, no entanto, já contava com um representante acadêmico na USP (Universidade de São Paulo). Juntamente com suas organizações parceiras brasileiras CAPES, CNPq e FINEP, a DFG financia atualmente projetos como a rede de pesquisa BRAGECRIM no campo da engenharia de produção – uma das maiores colaborações de pesquisa entre os dois países. Também com a FAPESP, em São Paulo, e a FAPEMIG, em Minas Gerais, a DFG mantém acordos de cooperação e promove projetos de pesquisa Brasil-Alemanha.
A Universidade Tecnológica de Munique (TUM), outro exemplo, mantém acordo de parceria com 17 universidades na America Latina e igualmente é parceira dentro do programa Ciência sem Fronteiras. “Estamos investindo bastante, abrindo oportunidades para universidades de todo o Brasil”, destacou Sören Metz, diretor do escritório da TUM na América Latina. Desde 2011, a entidade coordena ainda a rede científica interdisciplinar TUMBRA em conjunto com três universidades brasileiras (UFRGS, UNICAMP, UFRN), analisando a biodiversidade e o uso sustentável do solo. Também se apresentou no evento a Universidade de Münster (WWU). A entidade mantém há mais de 30 anos cooperação com o Brasil. Existem atualmente cerca de 30 cooperações com 20 universidades brasileiras, nas mais diversas áreas acadêmicas. Isso levou em 2010 à fundação do Centro Brasileiro da Universidade de Münster.