Não há o risco de um “apagão” generalizado de mão-de-obra de Engenharia no Brasil, ainda que se reconheçam alguns sinais de pressões de curto prazo no mercado de trabalho. Esta é a conclusão de um dos artigos que subsidiaram o debate sobre escassez de engenheiros no Brasil, promovido nesta terça-feira (5), em Brasília, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
O texto, de autoria dos pesquisadores da USP Mario Sergio Salerno, Leonardo Melo Lins, Bruno Cesar Pino Oliveira de Araujo, Leonardo Augusto Vasconcelos Gomes, Demétrio Toledo e Paulo Meyer Nascimento, do Ipea, indica que, em termos quantitativos, estas pressões tendem a ser resolvidas com a ampliação da oferta de novos engenheiros, uma vez que os cursos da área voltaram a atrair os alunos.
O artigo aponta quatro dimensões que podem explicar a percepção de alguns agentes econômicos sobre escassez de mão-de-obra em Engenharia: a qualidade dos engenheiros formados, uma vez que a evolução na quantidade não foi acompanhada pela mesma evolução na qualidade; o hiato geracional, o que dificulta a contratação de profissionais experientes para liderar projetos e obras; os déficits em competências específicas; e os déficits em regiões localizadas.
Por outro lado, os autores alertam para o fato de que a inexistência de gargalos não significa a falta da necessidade de ampliação dos investimentos no ensino de Engenharia, particularmente nas universidades públicas. Para eles, a Engenharia está profundamente ligada ao desenvolvimento econômico e à inovação. E neste aspecto o Brasil apresenta baixo índice de engenheiros por habitante ou por formados no ensino superior.
Demanda
A demanda por engenheiros e profissionais afins no mercado de trabalho formal foi o tema levantado pelos técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea Aguinaldo Nogueira Maciente e Paulo A. Meyer M. Nascimento. O artigo faz uma projeção da demanda por engenheiros, trazendo estimativas para diferentes cenários de crescimento da atividade econômica e para diferentes setores de atividade.
A expectativa é de que, até 2020, o número de engenheiros requeridos pelo mercado de trabalho formal, a depender do cenário de crescimento da economia, atinja entre 600 mil e 1,15 milhão de profissionais. Isto demonstraria a importância do crescimento econômico sustentado sobre a configuração de longo prazo do mercado de trabalho.
O texto traz ainda a evolução do salário médio dos engenheiros em relação aos dos demais profissionais com educação de nível superior. “Os engenheiros e profissionais afins recebem salários sistematicamente acima dos demais empregados com escolaridade superior”. Entre 2000 e 2009, os setores que mais apresentaram elevação do salário pago a engenheiros foram os de cimento, álcool, artefatos de couro e calçados, serviços imobiliários e aluguel e construção.
No que diz respeito à evolução da formação de engenheiros e profissionais técnico-científicos no Brasil, os pesquisadores do Instituto Divonzir Gusso e Paulo Meyer Nascimento revelam que as áreas de Engenharia, Produção e Construção e de Ciências, Matemática e Computação apresentaram expansão tanto no volume total de matrículas como no de conclusões de curso, além de passar por grande diversificação de habilitações e por um considerável aumento da participação do setor privado. Por outro lado, segundo eles, “é necessário mobilizar o sistema de educação superior de que o país já dispõe para que sejam satisfeitas as demandas emergentes, que se expressam no debate cotidiano sob termos como ‘escassez’, ‘apagão’ e semelhantes”.
Ipea