A primeira cidade alemã 100% sustentável


O vilarejo de Feldheim, localizado 60 quilômetros a sudoeste de Berlim, tem 128 residências e, num primeiro olhar, não chama a atenção. Mas sob a única rua funciona uma rede de cabos elétricos e tubulação de calor abastecida inteiramente por energia renovável – o que especialistas acreditam que pode ocorrer em toda a Alemanha até 2050.


A ideia surgiu em 1995, quando o empresário e então estudante de engenharia Michael Raschemann propôs erguer quatro turbinas eólicas na fazenda da cooperativa agrícola local. O solo era ideal: relativamente plano e com bastante vento.


Em parceria com a empresa de energia renovável Energiequelle – da qual Raschemann é cofundador – o vilarejo gradualmente expandiu o parque eólico ao tamanho atual, com 47 turbinas. Sozinha, a mais nova e maior das turbinas está apta a produzir 9 milhões de kilowatts-hora de eletricidade por ano – mais do que o suficiente para abastecer a vila diversas vezes. A produção é tão grande que 99% do que é gerado é vendido ao mercado de energia.


Após o sucesso, a cooperativa agrícola diversificou os negócios. Em virtude da queda no preço das safras e do aumento do custo da energia, os empreendedores decidiram construir uma unidade de biogás. Eles agora transformam milho e a silagem de cereais – junto a esterco de porcos e vacas – em metano, o que leva energia e calor para as casas de Feldheim, e produzem eletricidade suficiente para abastecer 600 casas.


No entanto, a empresa de serviços públicos E.ON se recusava a vender ou arrendar a sua rede, o que se tornou um obstáculo para tornar Feldheim autossuficiente em sua totalidade. A comunidade, contudo, respondeu construindo sua própria rede paralela de energia e aquecimento, em 2010, consolidada pela Energiequelle, com subsídios da União Europeia e empréstimos e contribuições de 3 mil euros de cada habitante.


Desde então, o preço da energia local caiu em torno de um terço. A independência do carbono só não é completa porque a lei alemã permite apenas que proprietários de casas sejam abastecidos pelas novas redes elétricas e de aquecimento. Inquilinos seguem recebendo a mesma eletricidade de antes da virada energética de Feldheim. Agora, o vilarejo está instalando uma enorme bateria – que deve ser ligada no segundo semestre deste ano – capaz de armazenar eletricidade suficiente para abastecer o vilarejo por dois dias.


A imensa publicidade dada a Feldheim transformou-a em destino turístico. Os moradores confirmam que recebem, em média, três mil visitantes por ano – muitos do Japão, onde as pessoas cada vez mais procuram por fontes alternativas de energia depois do desastre nuclear de Fukushima.

Shutterstock
Shutterstock