Nesta terça-feira (10) a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo promoveu, em parceria com a Fraunhofer-Gesellschaft, o primeiro dia do Research2Industry Days.
Com o objetivo de fomentar a cooperação bilateral, o evento reuniu diferentes atores brasileiros e alemães na produção e fornecimento de energia sustentável com ênfase nas áreas de hidrogênio verde e biogás.
O evento faz parte do Matchmaking Tour da EnergInno Brazil 2022, campanha liderada pela Fraunhofer-Gesellschaft, que reúne os vencedores da competição “Call for Ideas & Innovation in Green Hydrogen and Biogas”. O programa une representantes de instituições de pesquisa e universidades alemãs com importantes players brasileiros e alemães no campo da energia sustentável.
Após a rodada de palestras e paineis, os participantes do evento puderam ainda visitar uma exposição com estandes das empresas e instituições envolvidas na iniciativa. “Além da nossa programação, rica em conteúdo, posso dizer que um dos momentos mais importantes desse evento é a exposição. Ficamos felizes em promover esse momento de networking com os membros da delegação. Após muitos meses apenas realizando eventos virtuais, sabemos bem que esse contato presencial possibilita a troca de melhores práticas e potencializa as interações para novos negócios”, afirmou Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação e Sustentabilidade na Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e responsável pela mediação do evento.
Na abertura do evento, Dr. Johann Feckl, da Fraunhofer-Gesellschaft, fez uma apresentação sobre o projeto EnergInno Brazil e destacou a importância da cooperação entre Brasil e Alemanha. “Compartilhamento de conhecimento é um requisito essencial para a inovação. Desde 2012 o Instituto Fraunhofer tem um escritório aqui em São Paulo, pois acreditamos no potencial estratégico dessa parceria”, disse.
Em seu discurso, o Cônsul Geral da Alemanha em São Paulo, Dr. Thomas Schmitt, corroborou: “A presença dessa delegação alemã formada por vencedores de uma competição de inovação é um bom exemplo dessa cooperação. Seguiremos avançando cada vez mais no caminho de uma transição energética. Essa mudança é essencialmente necessária não apenas para a construção de uma sociedade mais sustentável, mas também mais justa e sensata.”
Para Thomas Timm, Vice-Presidente Executivo da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, o evento marca uma nova fase de cooperação entre os dois países. “O Brasil é um parceiro estratégico da Alemanha. Cerca de 85% da energia elétrica produzida no Brasil vem de fontes renováveis. Isso vem de encontro com a necessidade alemã de alcançar uma matriz mais limpa e sustentável.”
Rachel Martins, da Energy Research Company (EPE), foi enfática ao dizer que essa parceria também é muito interessante para os atores brasileiros. “As políticas nacionais têm se voltado para o aproveitamento do potencial nacional para produção de combustíveis com menor emissão de carbono. Assim, o Brasil se mantém como player relevante e estratégico para o setor global de energia”, disse.
A primeira palestra do dia foi ministrada por João Guillaumon, Sócio do McKinsey & Company, que compartilhou com os participantes um panorama geral sobre o cenário global do setor de energia. “Os 64 países que correspondem a 89% das emissões globais de carbono já têm objetivos audaciosos de redução. Isso sinaliza um movimento muito forte de eletrificação da economia. Essa reconfiguração do mercado e das cadeias industriais é fundamental para a criação de uma nova economia do hidrogênio”, explicou Guillaumon.
Em seguida, ele foi convidado a compor um painel ao lado de Rachel Martins, da Energy Research Company (EPE) e Dr.-Ing. Rodrigo Pastl, Head do Fraunhofer Liaison Office Brazil.
Discutindo o cenário global, os convidados se aprofundaram nos principais desafios que esse mercado tem a enfrentar.
“A transição para uma economia sustentável deve levar à maior relocação de capital da história. Precisamos achar uma forma de começar esse processo em escala e no contexto de uma cadeia de suprimentos complexa. Será desafiador estabelecer essas cadeias de suprimento globais”, destacou Guillaumon.
Para Rachel Martins, da Energy Research Company (EPE), a cooperação bilateral será a chave para o sucesso dessa nova economia. “As parcerias internacionais permitem aproveitar toda a tecnologia que já foi desenvolvida e aplicar no nosso contexto nacional de maneira competitiva. É preciso ter uma governança que junte todos as partes envolvidas, oferecendo estrutura e arcabouço legal para trazer segurança aos investidores. Assim, o mercado de hidrogênio pode avançar com mais objetividade, unindo as frentes e direcionando o de forma assertiva para chegarmos mais longe, mais rápido, com menos impacto e de forma economicamente mais interessante”, frisou.
O segundo painel do dia teve como tema as tendências do mercado de energia e contou com a participação de Raphael Pereira dos Santos, da Comgás; Luiz Antonio Mello, da thyssenkrupp; e André Luis Cassolato Garcia, da Siemens Energy.
“Temos um potencial único para ser explorado no Brasil, dadas as condições específicas de nosso País. Hoje temos cerca de 700 plantas de biogás no Brasil, mas ainda vemos algumas barreiras para que essa energia atinja parâmetros de competitividade. Neste ponto a tecnologia é essencial para encontrar soluções para atender às demandas dos mercados”, ressaltou Raphael dos Santos.
No que diz respeito ao hidrogênio verde, todos concordaram que o maior desafio ainda é a percepção de valor. “Não temos ainda como uma commodity regulamentada, com critérios bem definidos, e tudo isso ainda gera certas incertezas no potencial investidor. Vejo um movimento de discussão sobre certificação, que naturalmente irá evoluir”, afirmou Luzi Antonio Mello.
“O gás tem um papel essencial nesse processo, trazendo robustez ao sistema elétrico e outros sistemas de cogeração, em uma cadeia de valor muito relevante no segmento de transição energética”, concluiu André Luis Cassolato Garcia.
Apresentação dos vencedores da competição “Call for Ideas & Innovation in Green Hydrogen and Biogas”
A segunda parte do evento foi marcada por uma rodada de apresentações dos membros da delegação, que compartilharam detalhes de suas soluções disruptivas.
Prof. Isabel Kuperjans e Dr. Simone Krafft, da Fachhochschule Aachen, apresentaram a FruitCycle, que transforma resíduos orgânicos em áreas rurais ou urbanas em gás para eletricidade ou mobilidade. Com peças pré-fabricadas, a estrutura é de rápida instalação e pode ser utilizada por qualquer pessoa que produza mais de 100g de resíduos orgânicos por dia.
Já Natascha Eggers, da Fraunhofer IFF; e Dr. Fabian Giebner, da MicroPro GmbH, apresentaram a HyPerFerment, um acréscimo de biodigestor para aumento de eficiência em 25% em plantas de biogás.
Apresentando a BiotoH2, Prof. Nils Tippkötter, da Fachhochschule Aachen, e Dr. Mathias Betsch, da Stadtwerke Bergheim, explicaram as vantagens da utilização de bioresíduos de grama para gerar energia em um sistema de alto rendimento e baixo custo.
A Green Gas, apresentada por Prof. Raimund Brotsack, do Technology Center for Energy (TCE), e Marcelo Andrade, da MicroPyros BioEnerTec GmbH, atua com metanização biológica, na criação de um ambiente adequado para os microorganismos, selecionando os melhores para otimizar os parâmetros de processo, para apoiar a transição do sistema energético.
Dr. Andrea Burdack-Freitag, da Fraunhofer IBP, e Dr. Markus Sailer, da ALLNET GmbH, apresentaram a Biogas Sensors, que oferece sensores de gás, umidade e componentes-traço para prever com antecedência maior a evolução do processo e o possível desenvolvimento em outras direções. Esse monitoramento traz mais segurança ao produto final e um controle mais preciso para o controlador.
Sobre EnergInno
A EnergInno Brazil visa fortalecer a pesquisa científica e a cooperação industrial entre o setor brasileiro e alemão de energia sustentável, incluindo pequenas e médias empresas (PMEs) e startups. A campanha é liderada pela Fraunhofer-Gesellschaft como componente constituinte da iniciativa Research in Germany, com duração de 2021-2022.
Entre seus objetivos está a conexão de stakeholders brasileiros de organizações de pesquisa, instituições e universidades no campo da energia sustentável, especialmente nas áreas de hidrogênio verde e biogás. Além da cooperação para pesquisas científicas, a campanha visa ainda promover insights em gestão e cultura para os participantes de ambos os países.