“A educação de um povo se avalia pelo modo como trata os animais”. A famosa declaração de Alexander Von Humboldt, naturalista alemão, foi citada várias vezes durante o 1º Simpósio Brasil-Alemanha de Bem-Estar Animal, realizado nesta terça-feira (24) e que contou com a mediação de José Luiz Tejon.
O evento foi palco do lançamento do livro “O Bem-Estar Animal no Brasil e na Alemanha: Responsabilidade e Sensibilidade”, uma obra da Câmara Brasil-Alemanha editada por Jörg Hartung, do Institute of Animal Hygiene, Animal Welfare and Farm Animal Behaviour (TiHO), Hannover; Mateus Paranhos da Costa, do Departamento de Zootecnia da FCAV-UNESP e a pecuarista Carmen Perez, da Fazenda Orvalho das Flores de Araguaiana (MT).
Em seu discurso de abertura, Thomas Timm, Vice-Presidente Executivo da Câmara Brasil-Alemanha, comemorou o lançamento do livro. “Esse é um momento histórico para a Câmara Brasil-Alemanha e para as discussões deste tema, pois este livro reúne o conhecimento atual sobre bem-estar animal tanto no Brasil quanto na Alemanha. Fruto de um ano de trabalho e dos esforços conjuntos de mais de 45 autores, esse livro representa um ponto de partida para o nosso trabalho no futuro”, declarou.
Traçando uma retrospectiva do tema no Brasil, Mateus Paranhos da Costa, do Departamento de Zootecnia da FCAV-UNESP, afirmou que as discussões sobre bem-estar animal passaram a ganhar destaque no Brasil apenas a partir dos anos 2000, quando independentemente de qualquer imposição legislativa surgiram ações de promoção do bem-estar animal. Ainda que as discussões sobre o tema tenham se iniciado sobre o viés comercial, esse processo facilitou a divulgação e o crescimento da preocupação com o bem-estar animal dentro de cada unidade de produção do País. “Já progredimos muito, mas não podemos nos iludir. Ainda temos muito a avançar nas diferentes cadeias produtivas, mas essa preocupação é real e não se limita a uma discussão de gabinete (seja nos escritórios das universidades ou em Brasília)”, afirmou, ressaltando que o debate sobre o tema deve ser levado a todas as esferas da sociedade.
Prof. Dr. Jörg Hartung, do Institute of Animal Hygiene, Animal Welfare and Farm Animal Behaviour (TiHO), de Hannover, comentou a contribuição de ferramentas tecnológicas para garantir o bem-estar animal em linhas de produção e ressaltou que a educação é fundamental para que o tema avance. “O conhecimento é o que melhor protege os animais. Perdemos o respeito pelos animais com a industrialização. E temos que recuperar esse aspecto”, declarou. Dr. Sandro Roberto Valentine, Reitor da UNESP, também defendeu que o ensino é a peça-chave para que as discussões sobre o tema continuem progredindo. “O tema bem-estar animal só passou a ser reconhecido dentro das universidades graças aos esforços individuais de muitos professores. É preciso começar pelas bases. O que ensinarmos para quem está entrando na universidade ficará para a vida toda”, afirmou.
Além dos aspectos éticos, é preciso lembrar que o tema também possui caráter econômico. Antonio Carlos Aidar, Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou a importância do tema para a economia nacional. Os avanços no bem-estar animal estão diretamente relacionados ao trabalho de acreditação da carne brasileira no exterior, visto que as exigências internacionais ficam cada vez mais rígidas para garantir a qualidade da exportação.
Mas quais são, afinal, os critérios que mensuram o bem-estar animal? Stefan Timm, veterinário e doutorando no Institute of Animal Hygiene, Animal Welfare and Farm Animal Behaviour (TiHO), de Hannover, explicou o conceito: “As 5 liberdades são um instrumento reconhecido mundialmente para diagnosticar o bem-estar animal e incluem os principais aspectos que influenciam a qualidade de vida do animal. São elas: a liberdade de sede e fome; a liberdade de dor e doença; a liberdade de desconforto; a liberdade para expressar o comportamento natural da espécie e a liberdade de medo e estresse”, explicou.
Entre os painelistas foi unânime a opinião de que mais do que novas leis ou reforços em ações fiscalizatórias, o maior desafio é a sensibilização. “As pessoas têm medo de mudanças na legislação, pois temem que seja punitiva. A legislação deve orientar, mas também ter cláusulas que sancionem como é a conduta inadequada; quando a conduta falha aos preceitos morais e sociais”, afirmou Maciel, completando: “Já está na nossa Constituição: somos todos responsáveis pelo bem-estar animal.”