Em um país que possui fazendas do tamanho da Bélgica, o agronegócio é pauta de discussão obrigatória e, sobretudo urgente, entre todos os atores envolvidos com o tema. O agronegócio é responsável por 33% do PIB e por 42% das exportações totais do Brasil, gerando cerca de 37% dos empregos em todo o território nacional.
Alinhado à revolução no meio industrial, o setor agrário também está inserido nos processos de automação, inteligência artificial, Internet das Coisas e uso de novas tecnologias, levando ao chamado Agro 4.0. “Máquinas menores que geram menor compactação no solo e utilizam tecnologia e painel solar”, como exemplificou Tatiana Prado, Consultora Digital Business da BASF.
Discutir essas novas tecnologias e seus reflexos no segmento foi o principal objetivo do Workshop Agro 4.0 – A Digitalização do Campo, realizado na última segunda-feira (13/08), no Club Transatlântico, em São Paulo. O evento foi promovido pelo Fraunhofer Liaison Office Brazil, em parceria com a área de Inovação da Câmara Brasil-Alemanha e com o Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo – DWIH São Paulo.
O evento contou com diversas abordagens sobre o tema, tanto pela perspectiva do governo, quanto da indústria, de instituições de pesquisa e fomento, bem como de StartUps. As palestras do MCTIC, FAPESP, EMBRAPA, Fraunhofer IESE, BASF, Datacoper e das Startups MVISIA, IAgro e TNS Nanotecnologia trouxeram à discussão os novos processos tecnológicos e inovações que chegam a cada dia mais rápido no campo, além de como as iniciativas bilaterais, em especial entre Brasil-Alemanha, podem contribuir para uma troca, eficaz, de experiências para ambos os lados.
“A Câmara Brasil-Alemanha apoia iniciativas como esta, pois acredita no potencial da digitalização do campo e no desenvolvimento que ela trará para o Brasil”, declarou Thomas Timm, Vice-Presidente Executivo da AHK São Paulo, em seu discurso de abertura. Ele comentou ainda sobre o desafio que a agricultura enfrentará para alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050. “O Brasil e a Argentina alimentarão o mundo. É fundamental criar um senso de urgência para este tema, pois esse é o diferencial competitivo do Brasil no futuro”, concluiu.
Lançado em dezembro de 2017, o Plano Pró-Futuro do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), aponta um norte para os avanços do País no setor. Eliana Emediato, Coordenadora-Geral de Serviços Tecnológicos da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SETEC), listou os 5 desafios traçados no plano: Tecnologia, Capital Humano, Cadeias Produtivas, Infraestrutura e Regulação.
Em sua apresentação, Emediato ressaltou o lançamento de um projeto piloto de rede de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação) para manufatura avançada no agronegócio e um edital de bônus tecnológico e bolsas para soluções em manufatura avançada. Voltado para micro e pequenas empresas, o projeto prevê bolsas de até R$ 30 mil para o desenvolvimento de ensaios. “Todas essas iniciativas vão se unir na criação da Câmara Brasileira para a Indústria 4.0, cujo objetivo é inserir empresas e indústrias brasileiras no ecossistema da 4ª Revolução Industrial”, explicou.
A abordagem do Fraunhofer IESE mostrou as tendências tecnológicas do Agro 4.0, máquinas autônomas, inteligência artificial, big data e blockchain, ilustrando como a Sociedade Fraunhofer tem encarado esses quatro tópicos principais. Como exemplo, foi citado um suporte desenvolvido pelo Fraunhofer IESE para sistemas inteligentes (Safety Supervisor), o qual faz um controle dinâmico de risco tecnológico. Também foi mencionada uma máquina colheitadeira de pepinos, 100% autônoma, desenvolvida pelo Fraunhofer IPK. Em sua apresentação, o Dr.-Ing Pablo Oliveira Antonino, Head of Department of Embedded Software Engineering of Fraunhofer IESE, também chamou a atenção para a nova configuração social que o Agro 4.0 proporcionará: “O governo alemão tem tomado iniciativas para a recepção dessas pessoas que ficarão fora do mercado, com recolocações por meio de novas capacitações.”
A apresentação do Fraunhofer IESE foi enriquecida com a participação da John Deere, um dos grandes parceiros do instituto. O case de sucesso apresentado por Alex Foessel, Diretor do Centro de Inovação Tecnológica da John Deere, mostrou que a empresa reduziu cerca de 90% a aplicação de químicos a partir do uso de sistemas inteligentes que identificam de maneira efetiva as ervas daninhas e outras pragas. “Mais do que coletoras de grãos, nossas máquinas são coletoras de dados. E esses avanços não só fazem com que a agricultura fique mais competitiva, como também trazem mais segurança para o meio ambiente”, ressaltou.
O Workshop foi fundamental para exemplificar para toda a comunidade científica, tecnológica e empresarial que a agropecuária na linha digital está passando por uma evolução tão forte – ou até mais rápida que a indústria, e que as startups brasileiras têm um papel fundamental nesse processo de revolução tecnológica. Como comenta Ronald Dauscha, Diretor da Fraunhofer Liaison Office Brazil, “Apesar de termos muitas startups envolvidas com o tema Agro 4.0, nem todos conhecem os detalhes dessas tecnologias, como monitoramentos, reconhecimentos de pragas, Drones, robôs ou tratores automáticos e o evento pode proporcionar isso.”
Divulgação: AHK-SP