O Departamento de Meio Ambiente, Energias Renováveis e Eficiência Energética da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK-SP) promoveu, nesta terça-feira (27), o seminário Energias Renováveis Brasil-Alemanha: Aplicação de Tecnologias para Uso Energético da Biomassa e Biogás. O evento buscou apresentar um panorama das experiências na produção e uso de biomassa e biogás na Alemanha e no Brasil.
“A Alemanha detém o maior know-how do mundo em biomassa e biogás, e o Brasil talvez seja o país que tem mais potencial no uso dessas fontes renováveis, e por isso as parcerias entre empresas alemãs e brasileiras são tão promissoras”, afirmou o diretor do departamento de Meio Ambiente da AHK-SP, Ricardo Rose, na abertura do seminário.
Em sua apresentação, Dirk Volkmann, consultor da Iniciativa Renewables Energies Export do Ministério da Economia e Tecnologia da Alemanha, ressaltou que as energias renováveis têm um papel de destaque em seu país. A maior evidência disso é o plano de transformação da matriz energética alemã, acordado no ano passado (Energiewende), que estabelece o fim do uso da energia de fonte nucelar até 2020. Dentre as metas fixadas, Volkmann destacou a redução das emissões de CO2 em 40% até 2020 e em 80% a 95% até 250 (comparadas a 1990), e a participação de 35% das fontes renováveis no total da matriz energética até 2020 e de 60% até 2050.
Segundo Jens Giersdorf, pesquisador do Centro Alemão de Pesquisa de Biomassa, a capacidade instalada em eletricidade produzida a partir da biomassa sólida na Alemanha era de 1.300 MW em 2011. Já a capacidade das 7,4 mil plantas alemãs de biogás (que têm um faturamento anual de €7 bilhões) é de 3.000 MW, de acordo com informações do diretor-executivo da Enviacon International, Konrad Bauer. Também segundo Bauer, na Europa, a produção de biogás para uso energético cresceu 31% entre 2009 e 2010.
Victor Bustani Valente, gerente de projetos Energias Renováveis e Eficiência Energética da Agência Alemã de Desenvolvimento Internacional (GIZ, na sigla em alemão), adiantou alguns dados sobre a DKTI Biogas (Deutsche Klimatechnologie-Initiative). A iniciativa, que tem como objetivo ampliar o aproveitamento energético do biogás no Brasil, entrará em funcionamento no ano que vem, e é fruto de uma cooperação entre os governos alemão e brasileiro. O orçamento inicial é de €10 milhões, por parte do GIZ, e €160 milhões, por parte do KfW, banco de desenvolvimento alemão.
Dentre os elementos indicadores das grandes oportunidades que o mercado brasileiro apresenta em relação ao biogás, Valente destacou: o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que determina o tratamento adequado dos resíduos até 2014; a previsão de investimentos de R$ 45 bilhões para o setor de saneamento pelo PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal brasileiro); e a norma editada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em abril deste ano que permite ao consumidor instalar pequenos geradores em sua unidade consumidora e trocar energia com a distribuidora local.
Já os desafios são, dentre outros: os atores relevantes têm pouco conhecimento prático sobre projetos de biogás e sua viabilidade econômica; o biogás é visto como um resíduo, em vez de um sub-produto; as tecnologias para tornar mais eficiente a geração de energia a partir de biogás são pouco divulgadas; e a nacionalização – a construção de componentes das plantas em solo brasileiro.
Suani Coelho, coordenadora do Cenbio (Centro Nacional de Referência em Biomassa, da USP-Universidade de São Paulo), destacou que, no Brasil, a grande vertente em termos de biocombustíveis líquidos é o etanol de cana de açúcar. A cana foi escolhida pelo País, segundo Suani, em função de apresentar um balanço energético mais vantajoso do que o de outras alternativas, como a beterraba, o trigo e a mandioca. Para a pesquisadora, apesar de a maior participação na geração de energia a partir da biomassa no Brasil ser do bagaço da cana, há bom potencial da casca de arroz, do licor negro, dos resíduos de madeira e do biogás.