A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) recebeu hoje (29.10) a visita de Rubens Ricupero. O embaixador apresentou uma palestra sobre a situação econômica e política brasileira, que abriu a Reunião de Diretoria da Câmara. Ricupero concedeu ainda uma entrevista à Redação do BRASILALEMANHA NEWS:
– Cada crise traz também oportunidades. Na sua opinião, quais são as mais importantes para o Brasil nesse momento?
Ninguém gosta de crises e o ideal seria não as ter; mas quando elas ocorrem, o importante é tirar algum proveito da situação. Uma crise não pode passar sem uma lição ou algum tipo de conquista. Para o Brasil, essa crise tem uma característica tal que vai nos obrigar a tomar atitudes, as quais estamos adiando há um bom tempo.
Essa é uma crise cuja superação depende, sobretudo, de nós e não do mundo exterior, ao contrário de outras crises do passado, onde pudemos contar com os Estados Unidos e com o fundo monetário, por exemplo. Hoje, nós temos que fazer a nossa parte. Ou seja, vamos ter que ter atitude para sair da crise e isso vai depender do momento de um consenso.
– O Brasil está passando por uma fase difícil. Como o senhor vê a situação atual e o que se pode esperar para o País dentro dos próximos 3 anos?
Essa crise não é uma só, mas uma somatória delas, incluindo uma crise econômica, política e institucional, além da moral, devido ao problema de corrupção. Todas elas compõem uma espécie de sistema, o qual é formado por elementos que se interagem e sofrem ação entre si. É, portanto, uma crise peculiar, pois vai necessitar de uma ação em todos esses campos para alcançar uma solução.
Agora, se precisasse privilegiar um setor, como condição para solucionar as demais crises, a minha resposta seria a crise político-institucional. Pois havendo vontade política e institucional (parlamento, executivo) capazes de tomarem as decisões e de implementá-las, aí sim poderíamos contar com soluções relativamente rápidas para o problema econômico, além de encaminhar reformas para evitar a corrupção.
Tudo vai depender do contexto político. No momento ainda não chegamos a um consenso para tomar as medidas necessárias. Mas o próprio agravamento da crise, provavelmente, vai trazer uma pressão para que esse consenso se manifeste de alguma maneira, e espero que seja uma solução ordenada de acordo com a lei e com a constituição.
É difícil dar uma previsão para o fim da crise. Não teremos uma solução rápida, pois nunca se passa de uma grave crise para uma posição positiva. Essa crise começou a ser desenhada em 2009 e agora vivenciamos o seu ponto culminante. Para sairmos dela, também passaremos por esse processo de volta e isso vai demorar alguns anos, talvez 4 ou 5.
– Com a situação política e econômica atual, quais dicas daria para que as empresas sobrevivam e saiam fortalecidas da crise?
Vale para as empresas, o que vale para o país. É na hora da crise que as empresas se conhecem e devem repensar seus processos, já que a pressão do momento pede soluções e medidas importantes, as quais não seriam tomadas em uma situação normal. Por isso, é o momento de procurar alavancar ou manter uma boa situação de liquidez financeira, já que uma das consequências da crise é o aperto do crédito. Neste momento empresas com muito endividamento, estarão em situação difícil. Se for necessário vender certos ativos que não são indispensáveis às atividades centrais das empresas, é um caminho.
Por isso, as dicas são: solidez e liquidez financeira, prudência, redução de custos, racionalização, além de um item de suma importância: a inovação, pois são nesses momentos que surgem as oportunidades.
Rubens Ricupero
Atualmente, Rubens Ricupero é diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), e presidente do Instituto Fernand Braudel, que promove pesquisas, debates e publicações sobre problemas institucionais como educação e segurança, política econômica, política energética, desenvolvimento econômico e relações internacionais. Nasceu em São Paulo em março de 1937; formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é jurista e diplomata brasileiro com destaque para a atividade de economista. Foi ministro da Fazenda de março a setembro de 1994, durante o período de implantação do Plano Real. Ricupero foi também nomeado embaixador do Brasil na Itália e posteriormente eleito secretário geral da UNCTAD, pertencente à ONU, deixando o cargo em setembro de 2004, quando se aposentou como diplomata.