Em 24 de junho, a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo realizou pela primeira vez em ambiente online a Conferência Brasil-Alemanha de Mineração e Recursos Minerais. O evento foi palco de ricos debates a respeito das perspectivas da sustentabilidade na mineração a partir da reconquista da confiança por meio de governança e novas tecnologias.
No discurso de abertura, Alexandre Vidigal, Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), falou sobre o interesse em discutir com a Alemanha meios de cooperação, especialmente no que diz respeito ao aproveitamento da abundância de recursos minerais que o Brasil possui. “A cooperação e a atração de investimentos externos são elementos essenciais para alcançar esses objetivos”, declarou, reforçando que a sustentabilidade é “um componente indelével deste propósito”.
A importância da cooperação entre Brasil e Alemanha também foi citada pelo Dr. Reinhold Festge, Sócio-Gerente da Haver & Boecker e Presidente da Iniciativa Econômica Alemã para a América Latina (LAI) em sua apresentação. “Há décadas promovemos a cooperação entre a Alemanha e os países da América Latina por meio das Câmaras de Comércio. Infelizmente enfrentamos atualmente uma tendência de protecionismo, e este cenário se amplia a nível global. Neste contexto, a informação e o intercâmbio ganham novas importâncias”, afirmou.
Manfredo Rübens, Presidente interino da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo e BASF América do Sul, partilha da mesma opinião e afirmou que este é o momento de adaptar o setor às novas exigências. “Tendo em vista a atual pandemia: entendemos que para uma retomada efetiva da economia pós-crise precisamos focar na sustentabilidade. Na Europa, e em específico na Alemanha, por exemplo, já se fala de um “reinício verde”. Como a mineração é uma atividade econômica absolutamente essencial – pré-requisito para o fornecimento de recursos minerais para melhorar a infraestrutura e qualidade de vida para bilhões de pessoas no mundo inteiro – é preciso não somente justificar sua existência, mas também repensá-la para se adaptar às novas exigências da sociedade”, declarou.
Adicionalmente, Dr. Esteves Pedro Colnago, Diretor-Presidente do Serviço Geológico Brasileiro – CPRM, traçou rapidamente um panorama sobre a posição do Brasil no ranking mundial de mineração e esclareceu dúvidas sobre a atuação da instituição.
Já Andrea Jünemann, Subsecretária da Unidade de Política Internacional de Recursos Minerais do Ministério Federal de Economia e Energia (BMWi), usou seu espaço para falar sobre a importante relação entre sustentabilidade e transparência. Ela trouxe detalhes da adesão da Alemanha à Iniciativa para a Transparência da Indústrias Extrativas (EITI), um padrão global lançado em 2003 para promover uma gestão aberta e responsável dos recursos naturais. “O Governo alemão sempre apoiou de forma ativa essa iniciativa e foi um dos primeiros países da União Europeia a receber a validação EITI. O objetivo é não apenas dar o bom exemplo, mas também encorajar os países parceiros a se engajar na iniciativa”, afirmou.
Dr. Herwig Marbler, da Agência Alemã de Recursos Minerais (DERA) dentro do Instituto Federal de Geociências e Recursos Minerais (BGR), fez uma apresentação a respeito da demanda alemã de matérias-primas estratégicas, tendo o cobalto como exemplo principal.
O tema diversidade também foi abordado durante o encontro digital. Com uma visão bastante provocativa, Carlos Hilário, Diretor de Recursos Humanos, AngloAmerican Brasil, falou sobre os principais desafios da inclusão no setor. Uma pesquisa realizada durante a conferência discutiu o engajamento das empresas do setor com o tema: 65% dos participantes afirmaram que sua organização já possui um programa de fomento da diversidade.
Em seguida, Arie-Johann Heiertz, Head of Mining and Materials Handling da RWE Technology International discutiu as tendências e novas tecnologias a respeito do empilhamento de rejeitos a seco.
Já Fabiana Andresa Reis da Cruz, Líder da Gerência de Geotecnia e Monitoramento Geotécnico Sul da Vale apresentou detalhes do trabalho do Centro de Monitoramento Geotécnico, que desde o acidente na barragem Fundão, Mariana (MG), mudou toda a estrutura e rota de trabalho para criar artifícios para controle da qualidade da informação e também traçar modelos para os ideais de monitoramento.
No segundo bloco de apresentações, Thiago Henrique Buoso, Engenheiro de Aplicação e Vendas da Haver & Boecker Latinoamericana, discutiu a aplicação de inteligência artificial com foco em sustentabilidade. Em seguida, Yun Zeng, da Siemens, também apresentou soluções digitais para a indústria de mineração.
A última apresentação do bloco ficou a cargo do Dr.-Ing. Jan Lampke, da Haver&Boecker Niagara, que compartilhou cases de pelotização de minério de ferro para trazer sustentabilidade ao processamento de fertilizantes, minerais industriais e reciclagem de resíduos.
Outro tema que foi fortemente discutido durante a conferência foi a mineração em terras indígenas. Uma enquete realizada com os participantes do evento a respeito da liberação de mineração em territórios indígenas apontou que:
37% acredita que deve ser autorizada pelo Congresso após oitiva do povo indígena,
35% acredita que deve ser autorizada pelo Congresso após autorização do povo indígena,
16% acredita que deve ser completamente proibida,
12% acredita que é direito exclusivo do povo indígena.
Após o fim das apresentações, os participantes puderam migrar para salas de networking para conversar diretamente com os representantes das empresas patrocinadoras do evento: Haver&Boecker, Siemens e RWE Technology International.
Assista o vídeo completo da Conferência:
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