Empresas, instituições de ensino e pesquisadores dos setores de biogás, tratamento de efluentes e aterros sanitários se reuniram nesta terça-feira (26) em São Paulo para a Conferência de Biogás: Transformando Resíduos em Energia.
Coordenada pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) e em parceria com a câmara-irmã no Rio de Janeiro (AHK Rio) e contando com apoio da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) e Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBIOGÁS), a conferência faz parte da agenda de uma delegação, por meio da qual sete empresas alemãs do setor estão no Brasil para reuniões B2B.
Ao longo da conferência, os participantes da missão empresarial apresentaram tecnologias e soluções avançadas com foco na sustentabilidade e no desenvolvimento do mercado brasileiro de energia renovável. Além das apresentações técnicas, o evento proporcionou a oportunidade de networking entre empresas, promovendo o intercâmbio de conhecimento e o estabelecimento de parcerias estratégicas bilaterais.
A Conferência foi aberta por Katharina Gerlitz, Coordenadora de Projetos, Internacionalização de Empresas e Desenvolvimento de Negócios da AHK São Paulo. Em seu discurso de boas-vindas aos participantes, Matthias Schmidt, Gerente Geral Adjunto da instituição, comentou a posição do Brasil no âmbito do mercado de biogás e frisou a necessidade de um trabalho conjunto entre empresas alemãs e brasileiras, visto que “o Brasil desempenha um papel central na proteção climática e ambiental e ocupa uma posição de liderança mundial na produção de biogás e biocombustíveis”.
A moderação do evento ficou a cargo de Loana von Gaevernitz Lima, Diretora Executiva Adjunta de Entrada no Mercado e Desenvolvimento de Negócios da AHK Rio de Janeiro.
A primeira palestra do dia foi ministrada pelo Dr. Peter Kornatz, Diretor do Centro Alemão de Investigação da Biomassa (DBFZ, em sua sigla em alemão). Compartilhando um case aplicado na América do Sul, instalado na região metropolitana de Bogotá, Dr. Kornatz traçou um interessante paralelo com a cidade de São Paulo e seu potencial na geração de biogás.
O aterro estudado na capital colombiana recebe diariamente 7 mil toneladas de resíduos, dos quais mais da metade são resíduos orgânicos. Para aproveitar o enorme volume de biogás gerado, foi desenvolvido um levantamento de dados para traçar um modelo de negócio que gerasse biogás e fertilizante, como produto adicional.
“Entendemos que um dos maiores desafios para instalações de biogás e separação de resíduos e fluxos em grandes cidades como Bogotá e São Paulo é a limitação de espaço. Outro ponto de atenção é a escassez de uma mão de obra qualificada que entenda o processo e saiba integrá-lo. Adicionalmente, notamos que é preciso intervir no processo de coleta seletiva, que exige aceitação e adesão popular para funcionar”, frisou Dr. Kornatz. Ele reforçou também a necessidade de integração com outros modalidades de geração de energias renováveis, como geração fotovoltaica. “É preciso pensar na cadeia como um todo, estudando os subprodutos e outras possibilidades de geração, para chegar a um quadro holístico e que possa ser ampliado e escalado de forma rápida para ser rentável.”
Discutindo a necessidade de tropicalização das soluções em biogás, para se adaptarem à realidade brasileira, Marc Daniel Reinhard, Diretor de Assuntos Internacionais da Associação Alemã de Biogás, reforçou a importância de encontros como este, visto que a associação tem como objetivo promover o biogás em âmbito internacional com normas e padrões, por meio de transferência de conhecimento, tecnologia, treinamentos e cursos de operadores para a promoção sem impactos ambientais.
Trazendo um olhar mais focado às especificidades do setor no Brasil, Aline Scarpetta, Gerente do Setor de Estruturação da CIBiogás, compartilhou com os participantes do evento um panorama sobre o grande potencial brasileiro na geração de biogás. Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo figuram na lista como os estados com maiores produções médias. Vem sendo registrado também um crescimento significativo nos estados do Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. “Contudo, mesmo com o crescimento do setor, o Brasil ainda aproveita apenas 5% do biogás que é produzido”, afirmou.
Para fomentar essa expansão, o centro desenvolve projetos que auxiliam a tropicalização, com soluções que atendam o mercado local por meio da adaptação de tecnologias de empresas estrangeiras.
Dando início à rodada de apresentações das empresas que compõem a delegação, a primeira palestra foi ministrada por Christian Etzkorn, Diretor Executivo da Awite Bioenergia GmbH, que tem a análise de gases de alta qualidade como carro-chefe. Compartilhando seus produtos e soluções, a empresa discutiu inovação em análise e medição de gases em diferentes aplicações, incluindo biogás, purificação de biogás, fermentação a seco, gás de esgoto, gás de aterro e processos de combustão.
A segunda apresentação foi realizada por Enrique Montes, Sales Manager LATAN da BINDER GmbH, empresa alemã que fornece, principalmente, sistemas de medição de vazão de gás industrial para os principais fabricantes de plantas. A empresa apresentou soluções que auxiliam a produção e medição de biogás, monitoramento de ar e gás de esgoto.
Representada na Conferência por Dr. Jorge Salazar González, Gestor de Desenvolvimento de Negócios, a CarboTech AC GmbH é uma das principais fornecedoras de carvão ativado no mundo. A empresa compartilhou sua experiência na fabricação, refinamento e embalagem de carvões ativados em pó, granulados e extrudados e detalhou aplicações do carvão ativado em tratamento de líquidos, hidrogênio e biogás.
A Caterpillar Energy Solutions GmbH, representada por José Antônio Fernández Muñoz, Regional Sales Manager LATAM, defendeu o biogás como um dos caminhos seguros para a transição energética por meio do uso responsável de recursos. “Este é um excelente momento para discutirmos o mercado de biogás, visto que a cúpula do G20 se reuniu na semana passada no Brasil”, lembrou. Transição energética e a inclusão de biocombustíveis em setores da economia de difícil descarbonização, temas listados entre as prioridades da presidência brasileira do G20, tiveram destaque nas discussões da Cúpula do G20. José Antônio introduziu, em seguida, os produtos da MWM, empresa com mais de 150 anos, com especializações em produção de motores a gás e sistemas de cogeração (CHP) para geração de energia, compartilhando também um pouco da história da marca e da aquisição da Caterpillar Energy Solutions entre 2011 e 2013.
Jan Schwartze, Diretor de Tecnologia e Processos da EDL Anlagenbau GmbH apresentou soluções da empresa, que é especializada em engenharia e construção de plantas industriais. Focando sua palestra no desenvolvimento da demanda e da produção de combustíveis sustentáveis na aviação (SAF, em sua sigla em inglês), Schwartze foi enfático ao defender que o biogás e o biometano são fontes chave para a produção de SAF e que este é um mercado para cooperação entre Brasil e Alemanha. “O Brasil é o mercado do mundo com o maior potencial de cobrir rapidamente as demandas do mundo inteiro no âmbito do SAF”, ressaltou.
Em seguida Dipl.-Ing Christopher Otto, Managing Director da HeGo Biotec International GmbH, apresentou um projeto de dessulfurização de gases usando produtos à base de hidróxido de ferro. A empresa, focada em soluções de proteção ambiental, ressaltou o diferencial de seus produtos de purificação de gás com a remoção do Sulfeto de hidrogênio da atmosfera.
Hans-Jürgen Störtz, Sales Manager LATAM, da Tholander Ablufttechnik GmbH. Com foco na expansão de atuação na América Latina, a empresa compartilhou suas soluções de purificação de ar de exaustão e sistemas personalizados para atender às necessidades específicas de diferentes indústrias e condições de local.
Ao final das apresentações, Loana Lima agradeceu ao público presente na Conferência e às empresas alemãs que apresentaram suas soluções e tecnologias em relação ao biogás. Após a Conferência, a delegação seguiu para uma série de reuniões B2B com empresas brasileiras interessadas em desenvolver novos negócios e parcerias estratégicas.