“Am Anfang war der Rhythmus” (No início houve o ritmo, em português). Foi com essa declaração, que Alessandro Colucci, Diretor de Internacionalização de Empresas e Desenvolvimento de Negócios da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, deu início à Conferência Brasil-Alemanha de Música e Eventos. Seguindo as normas de proteção contra a Covid-19, o evento marcou o retorno gradativo das atividades presenciais da instituição.
“O setor de eventos movimenta cerca de 13% do PIB brasileiro. É uma indústria cujo peso econômico não pode ser subestimado. A música é uma potente embaixadora – e não estamos falando apenas de culturas, mas de pontes entre o Brasil e Alemanha”, afirmou Colucci.
Com o objetivo de fomentar a troca de know-how entre diversos players dos mercados brasileiro e alemão, o evento reuniu representantes de dez empresas alemãs fornecedoras de produtos, serviços e soluções para gravação, produção e distribuição musical, gerenciamento de artistas, gerenciamento de eventos e produção de shows e festivais.
Em sua apresentação de abertura, Timotheus Wiesmann, IHM- Diretor Geral do Grupo de Interesse da Indústria Musical de Hamburgo, reforçou a importância de intensificar a aproximação entre os dois países. “Para nós essa cooperação é muito importante, pois queremos não apenas exportar a música alemã, mas sim fazer um intenso intercâmbio, pois acreditamos que essa é uma via de mão dupla”, afirmou, completando que o mercado alemão é muito aberto a vários estilos musicais.
Ele apresentou ainda a Hamburg Music, maior associação regional de música da Europa. A instituição tem como objetivo fortalecer a cidade de Hamburgo como um local de música no cenário global.
Traçando uma breve análise do mercado global, Wiesmann destacou que os novos padrões de comportamento têm moldado o mercado. Um exemplo é o modo como a popularização das plataformas de streaming tem levado a uma queda brusca no volume de downloads de músicas. Paralelamente a isso, registra-se um aumento da procura por vinis em alguns setores específicos.
Abordando a produção de vinis, Gregor Samsa, proprietário da Sounds of Subterrania, compartilhou um pouco de seu processo de criação de uma prensagem própria, para atender grandes bandas e também a selos menores, para melhorar o acesso de bandas independentes a vinis de qualidade. “Acredito que precisamos potencializar uma rede entre empresas menores, onde todos se beneficiam, desenvolvem e crescem”, disse.
Outro importante tópico abordado durante o evento foi o papel fundamental que o áudio desempenha para o sucesso de campanhas de marketing. Eduardo Garcia, CEO da German Wahnsinn, compartilhou com os participantes uma série de cases da empresa no desenvolvimento de parâmetros de áudio para marcas. Outro ponto abordado foi o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de audiolivros com experiências mais imersivas para o usuário.
Outra inovação voltada para a oferta de experiências mais intensas ao usuário foi apresentada por Thor Hagedorn, Diretor Geral da Diasporic Arts Alliance. Ele mostrou soluções para a organização de shows 3D, com espaços interativos, avatares personalizados e possibilidades múltiplas de interação.
No contexto da produção de eventos musicais de grande porte, os participantes da conferência puderam conhecer mais sobre o Week-End Fest. O festival teve início em 2011 e reúne milhares de pessoas em Colônia. “Nós entendemos a importância de gerenciar um projeto como este com paixão, focando além do aspecto mercadológico e apostando na combinação de artistas já consagrados com novos talentos”, explicou Jan Lankisch, Gestor de Festivais. Além de uma população expressiva de mais de 8 mil brasileiros, a cidade de Colônia conta ainda com uma localização estratégica graças à proximidade a outras cidades europeias.
O ecossistema musical de Hamburgo, por sua vez, foi tema da apresentação de Dana Benjamins, que compartilhou detalhes do Reeperbahn Festival, o maior festival em clube da Europa. Com mais de 52 mil visitantes e 600 shows realizados, o evento acontece anualmente em setembro e reúne um público muito diversificado. O festival conta ainda com uma conferência exclusiva para profissionais de música.
Torben Bortz, Booker & Diretor Geral da NoCut Entertainment, deu aos participantes um breve panorama sobre a música alemã e apresentou os serviços de gerenciamento de artistas, assessoria e formatação de produtos. Já Toby Thalhammer, CEO da Piosenka Plus Concerts & Records, frisou sua expectativa em firmar uma parceria sólida com atores do cenário musical nacional voltada para a combinação de rock e música clássica para apresentações de tributo à banda Scorpions.
Comentando sua atuação de assessoria a novos artistas no segmento underground, Jan Köpke, Diretor Geral popup-records, compartilhou um pouco do portfólio da empresa e alguns cases de relações públicas. Com atuação na Alemanha, Suíça e Áustria e duas décadas de atuação, a empresa é referência no cenário indie.
Abordando outra vertente musical, Aga Heller, Diretor Geral da Frills, enfatizou que o intercâmbio entre os países já é bem evidente no cenário eletrônico. “A música eletrônica já é um produto de exportação alemã para o Brasil”, destacou Heller. A agência de artistas oferece um pacote de serviços 360º no cenário de techno e house.
Painel de discussão
O evento contou ainda com um painel de discussão com representantes de associações do setor. Por meio da mediação de Alessandro Colucci, os participantes puderam tirar dúvidas sobre as perspectivas do mercado para os próximos anos.
Destacando algumas peculiaridades do mercado brasileiro, Gustavo Gonzalez, Diretor de Relações Internacionais e Business Affairs da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus) comentou a expansão do mercado brasileiro. “Por conta da pandemia, houve um expressivo aumento do consumo de plataformas digitais nos últimos anos. O Brasil conseguiu não apenas acompanhar o crescimento desse cenário, mas se inserir globalmente de forma muito positiva.”
Os painelistas foram unânimes sobre o papel do ambiente digital na democratização de conteúdos que popularmente não teriam inserção nos canais de mídia tradicional. “Antigamente um artista precisava aparecer na grande mídia para ser considerado alguém. Hoje o mercado mudou e as mídias sociais permitem uma diversificação de alcance para cada público, cada nicho. É possível se inserir de forma expressiva investindo pouco, basta traçar uma estratégia que entenda o comportamento do seu público-alvo”, explicou Nando Machado, Vice-Presidente da Associação Brasileira da Música Independente (ABMI).
Para as empresas interessadas em ingressar no mercado brasileiro, Fábio Geovane, Diretor de Operação da União Brasileira de Compositores (UBC) destacou que “o audiovisual pode ser um bom caminho de entrada”.
Nos dias 09, 10 e 11 de março, o grupo de empresas alemãs participantes da conferência participará de rodadas de reuniões de negócios com empresas brasileiras e visitas técnicas.