“Os efeitos diretos da crise da zona do euro na atividade econômica do Brasil são pequenos, e as causas da atual fraqueza da economia do País devem ser buscadas, principalmente, em casa”. A afirmação foi feita por Andreas Dombret, membro do Comitê Executivo do Banco Central Alemão (Deutsche Bundesbank) responsável pelas áreas de estabilidade financeira, estatísticas e controle de riscos, em palestra em São Paulo promovida pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha (AHK-SP). Dombret falou nesta quinta-feira (6), no Club Transatlântico, sobre a crise da dívida na Europa e seus impactos nas economias emergentes, especialmente no Brasil.
“As consequências negativas da crise europeia sobre as economias emergentes podem estar sendo geradas, acima de tudo, pela atividade econômica fraca na zona do euro. Essa é uma opinião que eu frequentemente ouço em conferências internacionais. No entanto, análises mais detalhadas sugerem que as consequências negativas advindas do comércio exterior são bastante limitadas. Para explicar o atual ritmo mais lento do crescimento econômico do Brasil e de outros mercados emergentes, outros fatores negativos são mais significativos do que a demanda fraca da eurozona”, pontuou Dombret.
O financista afirmou que essa demanda fraca leva a uma queda das exportações de outros países para a zona do euro, mas que os efeitos disso sobre a economia global não devem ser exagerados, uma vez que as exportações para o conjunto de 17 países que utilizam a moeda comum são relativamente de menor importância para a maioria das regiões fora da Europa. Ele exemplificou dizendo que as exportações para a zona do euro correspondem a apenas 4% do PIB (Produto Interno Bruto) do restante do mundo, e a apenas 5% do PIB dos países emergentes e em desenvolvimento. “Em termos nominais, a falta do impulso para o crescimento dos países emergentes representada pelas exportações para a área do euro explica apenas um décimo da atual desaceleração nessas economias”, ressaltou.
Brasil
Para o Brasil, a zona do euro teria ainda menos importância como mercado comprador, já que as exportações para a região correspondem a não mais do que 2% do PIB brasileiro.
Segundo Dombret, outros fatores têm maior relevância para explicar o baixo crescimento do País, como a perda de competitividade dos preços da indústria nacional devido à apreciação do real e o grande aumento dos salários no setor, o que vem gerando a substituição dos produtos domésticos pelos importados, além da nossa infraestrutura saturada.
“Eu gostaria apenas de expressar meu ponto de vista, não quero ensinar uma lição ao Brasil, esse não é meu papel. Eu quero assinalar que é claro que temos que resolver a crise na zona do euro, nós temos que fazer isso de qualquer maneira, e é claro que a crise tem efeitos negativos sobre a economia global, mas às vezes esses efeitos são superestimados e às vezes eles são até mesmo usados como desculpa, porque os problemas têm causas diferentes. Você não pode culpar a zona do euro por tudo. A zona do euro tem grandes problemas, mas não é a fonte de cada um dos problemas de cada um dos países do globo. Nós temos que resolver a crise do euro, mas todo mundo tem que fazer seu dever de casa. Eu não estou tentando minorar o problema, ele é imenso, mas ele não é a causa de cada desequilíbrio econômico existente no mundo”, ressaltou Dombret em entrevista à imprensa, após a palestra.
O financista evitou dar sua opinião direta quando perguntado se o Brasil está fazendo o seu dever de casa. “Eu não estou aqui para dar lições ao Brasil. E eu não sei exatamente o que está acontecendo no Brasil, não sou um expert nisso. Eu tenho toda a fé de que o Brasil faça a coisa certa, e estou muito impressionado com o desenvolvimento econômico brasileiro, assim como todo mundo está. Esse é o novo mundo em que estamos vivendo. Nós ainda somos a quarta maior economia do mundo, mas, em algum momento, vocês serão tão grandes quanto nós. Vocês passaram o Reino Unido [como 6ª maior economia do globo], agora vocês estão “indo atrás” da França, e, depois, vocês virão atrás de nós. Nem todo mundo pode ser rico como o Brasil, nem tão rico quanto os EUA, nem tão competitivo quanto a Alemanha. Mas todo país pode tentar se tornar mais competitivo. Vocês estão tentando fazer isso e nós estamos tentando fazer isso”, finalizou.