Nesta segunda-feira (3), a Alemanha comemora o 21º aniversário da reunificação. Por mais de três décadas, o país esteve dividido em duas áreas: a Oriental, chamada de República Democrática Alemã (RDA), e a Ocidental, conhecida por República Federal da Alemanha (RFA). Com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, teve início o processo da ‘mudança’ (die Wende, no alemão). Cerca de um ano depois, no dia 3 de outubro de 1990, a parte Oriental foi oficialmente incorporada à República Federal da Alemanha.
Com a reunificação, a cidade de Berlim tornou-se a nova capital. Durante o período de existência do Muro de Berlim(1961 e 1989), que celebrou o 50º aniversário de sua construção neste ano, cessaram quase todos os movimentos de emigração.
Em entrevista exclusiva ao BRASIL ALEMANHA NEWS, a pesquisadora alemã Julia Richter, falou a respeito desse pedaço da história alemã e como a cidade de Berlim e seus habitantes se desenvolveram desde então.
BANEWS: Como é a situação hoje? Berlim ainda é um espelho da divisão entre o Ocidente e Oriente?
Julia Richter – Berlim será para sempre um símbolo da Guerra Fria. Em muitos lugares da cidade há referências à história e à divisão da cidade, como o Check Point Charlie ou o Memorial das vítimas do Muro. Mesmo as grandes embaixadas dos Estados Unidos e da Rússia fazem lembrar a separação e a Guerra Fria. Outros acontecimentos históricos também estão ligados ao conflito entre os blocos ocidental e oriental, como a famosa declaração do antigo presidente americano (John F.) Kennedy, “Eu sou um Berlinense”.
BANEWS: Antes havia duas Berlins. Isso mudou?
Julia Richter – Berlim cresceu em uma Alemanha unificada. Muitas vezes, visitantes não sabem identificar ao certo, em qual parte da cidade se encontram, na antiga parte Ocidental ou na Oriental. Somente a arquitetura socialista da Karl-Marx-Allee ou os conjuntos habitacionais, como o ‘Berlim Marzahn’, são claramente identificados como parte da antiga Berlim Oriental.
BANEWS: Os habitantes da capital ainda têm o 'Muro' na cabeça?
Julia Richter – Eu mesma não sou berlinense, mas tenho certeza que a separação não será esquecida por aqueles que a vivenciaram. É o mesmo com a fronteira interna da Alemanha. Muitas famílias conectam experiências pessoais com a divisão da cidade. No entanto, eu acredito que a consciência da separação e os fatores associados a ela são reduzidos diante da nova geração, que não tem nenhuma lembrança da antiga fronteira e por outro lado, cresceu com uma moda, cultura e mídia unificadas.
BANEWS: O antigo Muro de Berlim é ainda hoje parte da cidade? Um turista reconheceria a antiga divisão?
Julia Richter – Hoje, a maior parte do traçado do muro já não é identificável facilmente. Restam somente cerca de 5 km dos originais 40 km que atravessavam a cidade e a fronteira total percorria mais 115 km ao redor de Berlim Ocidental. O pedaço mais famoso do Muro, pintado por artistas de todo o mundo, é conhecido como East Side Gallery, que com seus 1,3 km de comprimento é também o mais longo pedaço que restou da histórica parede. Em outras partes da cidade, por exemplo, na Potsdamer Platz, existem pedras na pavimentação que marcam a antiga fronteira.
BANEWS: Como você vê o futuro de Berlim?
Julia Richter – Um olhar para o futuro é sempre uma especulação, mas parece que Berlim está entre as cidades alemãs que estão crescendo. Sobretudo, a região ao redor da cidade, em especial Potsdam, recebe ultimamente mais moradores. No entanto, através do aparente desenvolvimento em uma nova urbanização, o núcleo da cidade poderia se tornar cada vez mais afluente. Isso faria as especulações imobiliárias dispararem e o preço relativamente baixo dos aluguéis, aumentar.
Julia Richter é professora do Instituto de Geografia da Universidade de Flensburg, na Alemanha. Graduada e doutorada em Geografia pela Christian-Albrechts-Universität em Kiel, a geógrafa ministrou um seminário sobre o tema "Berlim depois do muro – a cidade reunida?" na Universidade Federal do Rio Grande do Norte no início do mês passado. Entre 2003 e 2004, a pesquisadora alemã residiu na capital potiguar e realizou uma pesquisa de campo que resultou em sua tese sobre segregação urbana.
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