"O uso de produtos provenientes de matérias-primas renováveis terá uma taxa de crescimento superior às observadas para os produtos de origem petroquímica nos próximos dez anos. No entanto, eles ainda responderão por uma pequena parcela do mercado total, devendo ser utilizados principalmente em aplicações-nicho de mercados selecionados." A opinião é do diretor de tecnologias renováveis da companhia petroquímica Braskem, Antonio Morschbacker. Em entrevista ao Brasil Alemanha News (respondida por e-mail), ele falou sobre a crescente importância que as matérias-primas provenientes de fontes renováveis têm para a indústria.
Morschbacker acredita que os investimentos nos insumos renováveis serão mais significativos em segmentos como biocombustíveis, detergentes e cosméticos. "A aplicação em biopolímeros será relevante em volume total, mas pequena se comparada com o tamanho do mercado de polímeros em geral", afirma.
Desafios
Para o executivo, o principal desafio da indústria no desenvolvimento de produtos a partir de insumos renováveis está na obtenção de matérias-primas agrícolas ricas em carboidratos e/ou lignocelulose que sejam ainda mais produtivas e competitivas do que a cana-de-açúcar como conhecemos hoje. "Um sucesso neste desenvolvimento irá impactar positivamente na grande maioria dos produtos de origem renovável", diz.
Segundo Morschbacker, existiriam ainda dois desafios tecnológicos a serem vencidos: um ligado ao sucesso no desenvolvimento e aplicação de produtos menos reduzidos quimicamente. "Estes produtos, contendo cerca de 50% em peso de átomos de oxigênio em sua composição, podem ser obtidos com maior rendimento em relação à matéria-prima renovável inicial. O outro desafio estaria ligado ao desenvolvimento de processos de transformação mais eficientes em termos de consumo de matéria-prima, geração de gases de efeito estufa, gastos de energia etc.", destaca.
Quanto às matérias-primas renováveis do futuro, Morschbacker aponta as gramíneas em geral como promissoras. "Mais especificamente cana-de-açúcar de maior rendimento e mais resistente a seca, capim-elefante e capim Miscantus. Com a viabilização da tecnologia de hidrólise de lignocelulose, as matérias-primas agrícolas poderão ter alto teor de celulose e hemi-celulose sem ter necessidade de possuir grande quantidade de açúcares", completa.
Produtos verdes
No campo dos biopolímeros, a Braskem produz desde 2010, em escala comercial, o Polietileno (PE) Verde, utilizando eteno obtido a partir da cana-de-açúcar. Segundo informações da empresa, o produto mantém as características do PE tradicional, mas sua produção emite menos CO2 – considerando sua cadeia produtiva completa, até 2,5 toneladas de CO2 são retiradas da atmosfera para cada tonelada produzida. O polietileno é o plástico mais utilizado no mundo, principalmente pelas indústrias automotiva, de cosméticos, de embalagens, de brinquedos e de higiene e limpeza.
A petroquímica também desenvolveu o ETBE (Éter Metil Terbutílico), um bioaditivo para gasolina produzido parcialmente com etanol da cana-de-açúcar. O produto, que demandou aproximadamente três anos de pesquisas, substitui o aditivo tradicional, o MTBE (Éter Metil Terbutílico). De acordo com a Braskem, o ETBE reduz os riscos químicos, visto que o MTBE é potencialmente cancerígeno e já possui restrições no mercado internacional, além de possibilitar a redução da emissão de CO2 quando comparado ao aditivo tradicional (a cada tonelada produzida de ETBE, evita-se a emissão de 783 Kg de CO2).
Em 2013, a Braskem pretende iniciar a operação comercial de uma unidade produtora de Polipropileno (PP) Verde, também feito a partir da cana-de-açúcar. A estimativa de investimentos no novo produto é da ordem de US$ 100 milhões e a capacidade de produção será de 30 mil toneladas por ano ou mais. Segundo estudo feito pela empresa, para cada tonelada de PP Verde produzida, em torno de 2,3 toneladas de CO2 são capturadas e fixadas, evitando sua emissão para a atmosfera.
A companhia tem como objetivo ser, até 2020, o maior player mundial na produção de biopolímeros.