O tema Indústria 4.0 (ou Manufatura Avançada) foi foco principal da 4ª edição do Seminário Brasil-Alemanha de Inovação, que aconteceu no último dia 29 de setembro, em São Paulo no Espaço de Eventos Villa Blue Tree. O Seminário, que contou com a presença de especialistas da Alemanha e do Brasil, além de presidentes, CEOs e diretores de grandes empresas, e representantes do governo e de ICTIs, teve como objetivo abordar o tema não só pelo ponto de vista de grandes empresas, mas também as de pequeno e médio porte. Além disso, os painéis foram estruturados para que o assunto fosse discutido não somente no que se diz respeito ao futuro desse cenário, mas também ao momento atual.
Realizado anualmente desde 2013, o Seminário Brasil-Alemanha de Inovação, que tem como objetivo apresentar temas de grande relevância e as principais tendências de Inovação do Brasil e da Alemanha, é um evento da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo), realizado por seu Departamento de Inovação e Tecnologia (DIT). O evento conta ainda com o patrocínio das empresas BASF, Bayer, SAP e Siemens, além do apoio do Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH) e do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD),
Na abertura do evento, o presidente da Câmara, Dr. Wolfram Anders (Bosch Brasil), ressaltou a importância do setor para os trabalhos da AHK São Paulo: “Considerando a posição de liderança da Alemanha em Inovação, o tema se tornou um dos três pilares de atuação da Câmara Brasil-Alemanha. Nosso objetivo, com o Seminário, é reunir os principais agentes do ramo em um mesmo lugar e incentivar iniciativas nesse sentido”.
Paulo Stark, presidente e CEO da Siemens no Brasil, vice-presidente da Câmara e responsável pelo Comitê Inovação do DIT, comentou, durante a abertura do evento, sobre a importância do intercâmbio de tecnologia e inovação entre o Brasil e Alemanha: “Reconhecemos que a Inovação é um diferencial competitivo e a empresa que não aproveitar essa oportunidade de mudança e não se transformar, poderá ser ameaçada. Estamos em um momento de ‘divisor de águas’ de como vamos conduzir nossas empresas nesse novo cenário”.
Martina Schulze, presidente do Conselho Diretor do Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH Brasil) participou também da abertura, ressaltando a necessidade em aproximar os dois países na área da Pesquisa e Inovação. “Esse evento também é uma oportunidade de focar o assunto de uma forma mais científica, trazendo pesquisadores de ambos os países. Além disso, apresentamos paralelamente ao Seminário, a 2ª edição da Feira de Carreiras, fornecendo informações do mercado alemão para mais se 120 jovens brasileiros”, complementou Martina Schulze.
Dr. Geord Witschel, Embaixador da Alemanha no Brasil, proferiu algumas palavras durante a abertura do evento: “O Seminário apresenta temas importantes sobre a Inovação e a Tecnologia para ambos os países. Esse ano, traz como assunto principal a ‘Indústria 4.0’, assunto que, para mim, é muito importante para o futuro e deve ser discutido por empresas e autoridades”.
O tema “Visão da Alemanha para a Indústria 4.0 e experiências ao redor do mundo” foi apresentado pelo Dr. Alexander Werbik, representante da acatech: “A acatech trabalha com a transferência do conhecimento e recomendações científicas por meio de importantes projetos nas áreas de Energia, Sustentabilidade, Tecnologia, Educação e Tecnologia da Comunicação. Nossa estratégia tem como base uma política que posiciona a Alemanha como uma nação cada vez mais tecnológica e industrial. Nesse sentido, buscamos sempre estar abertos para nos adaptarmos a cada evolução e necessidade”.
O Seminário contou ainda com a participação do Prof. Dieter Rombach, do Instituto Fraunhofer de Engenharia de Software Experimental. O especialista alemão comentou que, para o Brasil ser mais competitivo, precisa caminhar mais alinhado com esse novo momento industrial: “Somente 58% das empresas brasileiras entendem a importância da tecnologia digital e a Indústria 4.0 e outras transformações digitais são essenciais para a competitividade global.”.
O Prof. Dr. Jürgen Howaldt, responsável por pesquisas sociais da TU Dortmund, afirmou: “Haverá mudanças profundas na indústria com o processo da digitalização. Além disso, o aspecto social transformará nosso comportamento e nossa comunicação. Temos que construir um futuro colocando o ser humano em 1º lugar e capacitando-o para essa nova realidade.”.
Painel: “Diferenciais competitivos providos pela Indústria 4.0”
Os participantes desse painel colocaram suas opiniões em diversas vertentes dessa temática, abordando a questão humana e estrutural das empresas, do papel do governo etc :
“No âmbito do trabalho, surgirão tarefas muito mais desafiadoras e exigentes. Nesse sentido, o ser humano desempenhará um novo papel como organizador e tomador de decisões.” Dr. Wolfram Anders (Bosch Brasil)
“Sobre a questão de universalização: existem diferenças entre os países, assim como existem também diferentes tamanhos de empresas. As maiores não sofrem com a questão de suas nacionalidades, já as PMEs têm mais dificuldade neste sentido. O principal ponto é que todas elas devem modificar suas estruturas internas para atender às necessidades dos consumidores.“ Dr. Alexander Werbik (acatech)
“O papel do Governo Federal e do MCTIC é estimular e incentivar a inovação em todos os seus aspectos. Além disso, temos procurado avançar na qualificação de pessoas e na implementação de formas de incentivo”. Álvaro Toubes Prata (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações)
“As empresas vão precisar se modificar completamente, isso requer flexibilidade, velocidade, qualidade e eficiência nos processos.” Paulo Stark (Siemens no Brasil)
Painel: “Oportunidades entre o Brasil e a Alemanha ligadas à Indústria 4.0”
O segundo painel da programação, que trouxe alinhamentos e oportunidades ligadas à industrialização inteligente entre os dois países, contou com a participação de Almir Araujo Silva, Gerente de Marketing Digital América Latina da BASF; João Teixeira, supervisor de engenharia de manufatura da Volkswagen do Brasil; Florian Remann, coordenador do Componente Cadeia de Valor da GIZ; Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI – Confederação Nacional da Indústria e Herman Augusto Lepikson, diretor no Instituto SENAI de Inovação em Automação. Como resultado desse debate, Gianna Sagazio da CNI afirma: “É preciso formular uma política de inovação para incentivar a competitividade no Brasil”.
Painel: “Brasil 4.0”
O último painel do evento discutiu como o Brasil está inserido neste novo cenário industrial, as perspectivas, os benefícios e desafios. Entre as opiniões:
“Nossa estratégia é escolher um caminho para incorporar a manufatura avançada no mercado brasileiro, a fim de absorver e desenvolver novas competências tecnológicas.” Luiz Daniel Willcox (BNDES)
“A cada ciclo temos que nos reinventar, porque os processos mudam. Nosso dever é entendê-los e nos adaptarmos a eles, a fim de continuarmos competitivos.” Fernando Faria (Sap do Brasil)
“Os benefícios da Indústria 4.0 são: a redução dos custos de manutenção, a redução do consumo de energia e o aumento da eficiência do trabalho. O processo de produção será adaptado conforme a solicitação do cliente.” Paulo Roberto dos Santos (Festo Brasil)
“A discussão que estamos tendo agora se refere a quais setores priorizar primeiro com nossos investimentos, em quais tecnologias apostar no Brasil e como a legislação trabalhista será adaptada a essa nova realidade.” Marcos Vinícius de Souza (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços)
“Mais de cem países possuem legislação para a proteção de dados. No Brasil, ainda não existe um marco regulatório nesse sentido, o que causa certa insegurança jurídica.” Dennys Antonialli (InternetLab)
De olho sempre no amanhã: Incentivando jovens inovadores
Durante o Seminário, foi aberto um momento para o “Pitch de jovens inovadores”, que contou com a presença de dois participantes da FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), Paulo Fish e Conrado de Vitor, ambos empreendedores nas áreas de engenharia.
“Os inovadores não nascem por acaso, é preciso estimular nossas crianças desde cedo. A FEBRACE cria a oportunidade para que jovens entrem em contato com diferentes culturas e reconhecidos cientistas”, complementa Roseli de Deus Lopes, coordenadora geral da feira.
Foto: AHK São Paulo/Becaclick