Transição verde e digital, bioeconomia, economia circular e de baixo carbono, venture capital, inovação aberta e inteligência artificial foram alguns dos temas de destaque das discussões ao longo do 11º Congresso Brasil-Alemanha de Inovação e Sustentabilidade. Realizado pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) com o patrocínio das empresas BASF, Bosch, Festo, Siemens e apoio do CUBO Itaú, o evento promoveu na última terça-feira (14) debates de alto nível voltados a convergência entre as pautas de inovação e sustentabilidade na transição para uma economia verde e digitalizada.
Tendo como tema central o mote “Ampliando os Horizontes da Transição Verde e Digital”, o evento contou com mais de 20 palestrantes e painelistas em um dia marcado por reflexões e troca de experiências quanto às tendências que estão impactando os negócios e que podem potencializar o desenvolvimento econômico e social sustentável e regenerativo.
O Congresso reuniu mais de 200 participantes presenciais e contou também com transmissão ao vivo no canal da instituição no YouTube para os mais de 2100 participantes inscritos na transmissão. Clique aqui para assistir a gravação do evento na íntegra.
“O Congresso é muito mais do que um evento, ele é uma oportunidade concreta para promover mudanças reais e duradouras. Por isso, com o tema central deste ano, ‘Ampliando os Horizontes da Transição Verde e Digital’, temos a oportunidade de explorar as tendências que estão transformando o cenário dos negócios e que têm o potencial de impulsionar o desenvolvimento econômico e social sustentável”, afirmou Barbara Konner, Vice-Presidente Executiva da AHK São Paulo.
Finalizando os discursos de abertura, a Sra. Martina Hackelberg, Cônsul-Geral da Alemanha em São Paulo, deu destaque às relações políticas necessárias no âmbito da sustentabilidade. “Sabemos que atingir as metas sustentáveis depende de política. E, por isso, inovação e sustentabilidade se tornaram temas principais nas relações teuto-brasileiras. Queremos andar com o Brasil para um futuro sustentável.”
Após a abertura do evento, a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, o Consulado Geral da Alemanha em São Paulo e o Colégio Visconde de Porto Seguro assinaram um Acordo de Cooperação voltado a promoção de ações pautadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para o público jovem.
O objetivo é fomentar a realização de ações que aproximem jovens estudantes da Agenda 2030 e os engajem no desenvolvimento de um futuro sustentável e socialmente justo. O Acordo foi assinado por Martina Hackelberg; Barbara Konner; e pelo Presidente da Fundação Visconde de Porto Seguro, Dr. Marcos Alberto Sant’Anna Bitelli.
Dando início à rodada de discussões técnicas, o primeiro painel do Congresso teve como foco a bioeconomia e contou com a presença de Marcelo Thomé, Diretor no Instituto Amazônia +21 e Presidente na Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (FIERO), Petrina Santos, Executive Manager ESG & Sustainability na Volkswagen Financial Services e Rodolfo Walder Viana, Managing Director Fundação ECO+.
“Enquanto nós não enxergarmos o planeta Terra como um ente que tem direitos e as pessoas nativas das áreas de exploração de matérias-primas como shareholders, o impacto das atividades sempre será negativo”, afirmou Santos. “O ponto principal é que não temos tempo para criar sensibilização dentro das empresas, é um tema que precisa ser atacado com urgência. Como banco, temos consciência da nossa engrenagem, mas a sustentabilidade e os impactos negativos e positivos precisam entrar na precificação dos produtos. Precisamos de financiamentos para produtos verdes com taxas reduzidas.”
O segundo painel da manhã propôs aos participantes uma reflexão sobre o papel das pequenas e médias empresas no processo de transição verde e digital. Representando uma parcela muito expressiva da economia brasileira, as PMEs não podem ser deixadas de fora nas discussões sobre sustentabilidade. “Atualmente, dos 21,5 milhões de empresas no Brasil, 20,8 milhões são pequenos negócios, muitos deles navegando sozinhos sem entender o impacto que seus negócios podem causar. É importante que entendam a relação entre sustentabilidade e competitividade no mercado”, afirmou Tiago Antunes, Gestor Sênior Regional de Negócios no SEBRAE-SP.
“Entendemos que o crescimento do Brasil passa pela cooperação entre grandes corporações e as pequenas e médias empresas. A digitalização é um tema relacionado à eficiência e produtividade fundamental para a sobrevivência das empresas de menor porte. Contudo, a sustentabilidade ainda é vista como um custo, e não investimento. Como empresa formadora de opinião, nosso papel é levar esse conhecimento para as PMEs de que sustentabilidade é, sim, uma questão de sobrevivência”, destacou Luis Mosquera, Vice-President, Legal, Government Affairs & Sustainability na Siemens.
Em sua apresentação, César Gaitan, CEO Business Region SAM na Festo, reforçou o papel da colaboração no apoio ao processo de digitalização. “É preciso desmitificar as tecnologias, levando conhecimento às PMEs – e esse conhecimento está nas universidades e nas instituições de tecnologia. Esse é um processo que envolve muitos atores, mas que precisa acontecer o quanto antes para não perdermos essa janela de oportunidade da tecnologia”.
Complementando, Mosquera ressaltou que além da disseminação de informação é preciso também voltar o olhar para outros fatores que são essenciais para que as PMEs possam se posicionar de forma estratégica na pauta sustentável, entre eles a construção de um sistema tributário mais amigável, um sistema regulatório favorável ao crescimento das empresas de pequeno porte e o desenvolvimento de ferramentas de capacitação para os profissionais.
O tema digitalização esteve presente também no painel seguinte, com foco em sua importância para as estratégias sustentáveis. “Um grande exemplo de como a digitalização deve ser usada é a partir de blockchain, criando rastreabilidade nos produtos para que os consumidores possam ter a certeza de que aquele produto teve impactos sociais e ambientais positivos”, apontou Antonio Lacerda, Senior Vice President Chemicals and Performance Products na BASF.
“O maior desafio que temos é sair da ambição para a ação. É preciso conectar os dados para que eles se tornarem habilitadores das estratégias sustentáveis. Não é possível agir sem saber onde agir. Por isso, a digitalização de dados é tão importante quando falamos de estratégia”, destacou Marcele Andrade, Head of Value Advisor & Sustainability Leader na SAP. “Agora é a hora de tirar as estratégias do papel. Em 2025 quando o ESG Data for obrigatório, não será mais um diferencial competitivo.”
Gaston Diaz Perez, CEO e Presidente na BOSCH América Latina, complementou com um apontamento sobre a importância de inovar de forma assertiva. “Quando pensamos em tecnologia, temos que pensar na região em que estamos. O Brasil, por exemplo, tem o dever de inovar no agronegócio, não é algo que podemos esperar que venha da Europa ou dos Estados Unidos. É importante saber onde estão os mercados para entender de onde as inovações devem vir.”
A inovação aberta também foi tema de destaque do primeiro painel da parte da tarde do Congresso, com foco na cooperação internacional. “Ninguém cresce sozinho e os problemas são globais. A cooperação internacional é muito positiva para ambos os lados, que aprendem muito em cada projeto”, destacou José Henrique Menezes, Gerente de Mobilização de Empresas na Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII).
Para Renata Freesz, Innovation Project Manager na Klabin, o contexto global atual tem mostrado as empresas mais abertas para a realização de projetos em inovação aberta. “As empresas estão se adaptando e se flexibilizando cada vez mais para poder colaborar com diferentes empresas e startups com o objetivo de alcançar as soluções necessárias. Hoje as empresas falam abertamente que possuem problemas e dificuldades e que precisam de ajuda para criar soluções, isso não acontecia no passado, era uma vergonha para a empresa admitir isso.”
“A inovação aberta é a chave para o desenvolvimento de negócios de empresas e a Câmara é a parceira ideal”, destacou Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação e Sustentabilidade da AHK São Paulo, comentando o reconhecimento da instituição como TOP 5 Ecossistema pelo Ranking 100 Open Startups.
Discutindo venture capital como alavanca para transformação, Dr. Osório Coelho, Diretor de Programas de Inovação no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Hector Ferraz, Analista de Fundos de Seed e Venture Capital no BNDESPar; Renato Marques Ramalho, Co-fundador e CEO na KPTL Venture Capital; e Karime Hajar, Gerente de Investimento e Head na América do Sul da BASF Venture Capital, debateram como a busca de investidores por ativos que atendam aos critérios ESG tem impulsionado a demanda por fundos de investimentos sustentáveis.
O último painel do Congresso contou com a participação de Matheus Souza, Chief Innovation Officer na SAP Latin America & Caribbean; Jorge Seiti, Head de Desenvolvimento de Negócios na Deutsche Telekom; e Bruno Bragazza, Gerente de Inovação, Novos Negócios e Propriedade Intelectual na Bosch América Latina. O debate abordou a presença da Inteligência Artificial tanto nos processos empresariais quanto nos portfolios de produtos, assim como o uso excessivo e a efemeridade das soluções inovadoras.
O evento contou ainda com o anúncio da startup alemã vencedora do desafio “Resilient Society” do programa Startups Connected lançado em parceria com o Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH São Paulo). Márcio Weichert, Coordenador do DWIH São Paulo, foi o responsável por anunciar a startup Colipi como vencedora da categoria. A solução consiste na produção de biomassa e outros componentes de valor a partir de um processo de fermentação de gás que explora a capacidade de bactérias oxidantes de hidrogênio. Assim, o dióxido captado se torna fonte única de carbono (e de energia limpa) para a geração, por exemplo, de hidrogênio verde.