Em webinar, economista Marcos Lisboa afirma que maior desafio pós-crise será resgatar confiança para investimentos

 

Nesta quinta-feira (23) a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo recebeu o economista Marcos Lisboa para um webinar sobre os desafios atuais e oportunidades gerados pela pandemia do Covid-19.

Atual presidente do Insper, Lisboa tem uma trajetória que abrange experiências em instituições acadêmicas, no governo e como executivo de instituições financeiras.

Em sua apresentação, Lisboa discutiu o cenário do Brasil antes da crise gerada pela disseminação do vírus, ressaltando que não podemos ser “inocentes e só culpar a doença pela crise. Entramos nela com empresas já fragilizadas pelas dificuldades tributárias, infraestrutura carente e empecilhos para investimentos.”

Para o economista, o País já vem de muitas décadas de atraso diante das economias mundiais e a pandemia apenas evidenciou essa disparidade. “Há 40 anos o Brasil cresce menos que os países desenvolvidos e há pelo menos 20 anos cresce menos que os países emergentes. Nosso contexto já era de fragilidade”, afirmou.

Entre os motivos que levam a esse quadro de atraso, Lisboa listou o excesso de normas e burocracia e a insegurança jurídica; características que desestimulam o investimento, mesmo diante da carência de infraestrutura. Para o Lisboa, esses tópicos deveriam encabeçar a lista de preocupações do Governo Federal.  “Perdemos muito tempo com discussões irrelevantes e pouco tempo com aquelas que realmente interferem no chão de fábrica, na vida das pessoas”, justificou.

Sua fala não escondeu sua perspectiva negativa para os próximos meses. “O Governo agiu de forma meio aparvalhada diante da crise, e ainda está agindo assim na área da saúde. Infelizmente as medidas econômicas vieram com atraso e com certa sofreguidão. O mais importante no pós-crise será resgatar a confiança e provar ao mundo que o nosso País é um lugar seguro para receber investimento”, declarou.

Para ele, a pandemia não apenas evidenciou algumas de nossas deficiências, mas também gerou um movimento de reinvenção de muitos mercados – que podem sair até mesmo fortalecidos se souberem se adaptar. “Viagens corporativas serão reduzidas, aulas presenciais de muitos cursos mudarão para EaD… Alguns setores foram remoldados com essa crise e em muitas áreas nós não voltaremos a ser como éramos”, listou.

O posicionamento do Governo é essencial para definir como sairemos desta crise, segundo o economista. “Eu sempre tenho esperança de que com as dificuldades a gente comece a enfrentar os problemas. Algo que me surpreende no Brasil é a nossa resistência em enfrentar as dificuldades e sempre optar por soluções mágicas. Nossa cultura acha que duas medidas e sete palavras de ordem serão o bastante para dormirmos como Brasil e acordarmos como Nova Zelândia. Quem sabe dessa vez conseguiremos mergulhar nos problemas e de fato resolvê-los. Contudo, sem a coordenação do Poder Executivo, não há solução possível para os problemas”.

Assista ao webinar completo: