A semana foi marcada por discussões de alto nível sobre oportunidades relacionadas a hidrogênio verde e de baixo carbono. Nos dias 18 e 19 de outubro, o Hydrogen Dialogue Latin America reuniu produtores, investidores, pesquisadores, operadores logísticos, grandes consumidores e demais stakeholders do setor de energia do Brasil e da Alemanha para discussões técnicas sobre oportunidades de negócio e a viabilização do hidrogênio verde e de baixo carbono como uma das principais soluções para a transição energética.
Promovido pela NürnbergMesse Brasil, Hiria, Guia Marítimo e Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo), o evento reuniu mais de 200 participantes presencialmente por dia em São Paulo para mais de 14 horas de conteúdo, além de espaços para networking.
“Este é um evento muito importante para a comunidade alemã. Por isso, recebe desde 2022 o Congresso Brasil-Alemanha de Hidrogênio Verde. Nosso objetivo é que essa seja uma grande oportunidade de networking, para falarmos do presente e do futuro do hidrogênio verde”, destacou Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação e Sustentabilidade da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo.
Em sua fala na abertura do evento, a Cônsul-Geral da Alemanha em São Paulo Martina Hackelberg destacou a importância do tema para a Alemanha, pioneira na pauta, com destaque para o desenvolvimento de uma estratégia para uso de hidrogênio verde para descarbonizar a matriz até 2045. “O mercado potencial de hidrogênio verde é enorme, não apenas tendo em vista os benefícios ambientais, mas as aplicações possíveis. A estimativa é de que o volume de negócios envolvendo esse vetor energético será em torno de 1,4 bilhões de dólares até 2050, com a criação de 2 milhões de novos empregos. Nesse cenário, o Brasil pode se tornar uma potência global, produzindo hidrogênio verde competitivamente”, destacou, complementando que é preciso fomentar o desenvolvimento de incentivos para que o Brasil seja posicionado no mapa do hidrogênio verde mundial. Para ela, as perspectivas são muito otimistas. “A atual intensificação da cooperação entre Brasil e Alemanha e as Consultas Governamentais em dezembro oferecerão condições frutíferas para este cenário.”
Corroborando a opinião de Hackelberg, Paulo Alvarenga, CEO da thyssenkrupp South America e Presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, fez provocações aos participantes sobre a urgência e importância de avanço nas discussões sobre o tema. “Estamos comprometidos com a formação de um novo mercado, mas também com o combate às mudanças climáticas e preservação do nosso planeta. A descarbonização e a mudança para fontes renováveis representam uma questão de sobrevivência, e o hidrogênio verde é a chave para acelerar a transição energética e, assim, os impactos dela para a nossa sociedade. Esse é o início de uma trajetória, com grandes empresas engajadas na pauta. A cristalização desse mercado deve representar uma nova etapa de muito desenvolvimento e prosperidade para o Brasil.” Os desafios inerentes ao tema, contudo, devem ser enfrentados assertivamente para que esse potencial se concretize. “Não podemos perder de vista os desafios pela frente, com destaque para a regulação do mercado. A produção em larga escala é a ferramenta que nos falta para que não percamos a atratividade frente os incentivos oferecidos pela União Europeia e os Estados Unidos”, concluiu Alvarenga.
Em discussão com Luis Viga, Diretor de Operações para a Fortescue no Brasil e Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde, mediada pelo jornalista Roberto Rockmann, do Valor Econômico, Paulo Alvarenga refletiu sobre as perspectivas de desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde no País. “O Brasil está fadado a ser um grande player do mercado de hidrogênio verde. Esse é um mercado para as próximas décadas e o Brasil será beneficiado de uma maneira ou outra. Pode ser exportador de molécula de hidrogênio verde, sem dominar toda a cadeia produtiva, ou controlar toda a cadeia de produção e aplicação da energia. A discussão gira em torno do ponto da cadeia em que queremos ficar. Essa é uma questão de política de Estado, relacionada à uma neoindustrialização verde, com desenvolvimento científico e reposicionamento do ponto de vista industrial. A janela de oportunidade está aí. O momento é agora.”
Conciliando conteúdo técnico a muitas oportunidades de networking, o evento ofereceu aos participantes ao longo dos dois dias paineis de discussão sobre as diferentes perspectivas que envolvem o tema, desde o papel do hidrogênio verde e de baixo carbono na transição energética, o status das políticas públicas e as evoluções do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), a inovações em aplicações de hidrogênio e oportunidades de cooperação com a Alemanha.
Um dos temas de destaque do primeiro dia foi a discussão em torno dos avanços na certificação e nas inovações em aplicações de hidrogênio verde e de baixo carbono. “Sustentabilidade sem tecnologia não para em pé. O que os investidores e os consumidores querem é segurança, ou seja, a garantia de que aquele produto seja certificado, rastreável e tenha confiabilidade para seguir na cadeia. E só conseguimos isso com o uso de tecnologia”, afirmou Afonso Lamounier, Vice-Presidente de Assuntos Corporativos da SAP para América Latina.
A segurança jurídica para os investidores também foi uma preocupação mencionada por Elmano de Freitas, Governador do estado do Ceará, como um dos pontos de urgência para que o mercado brasileiro se estabeleça, seguida por investimentos em pesquisa e desenvolvimento, com foco na cooperação bilateral, e capacitação da mão de obra.
Visando compartilhar as perspectivas de oportunidades e desafios que cercam o hidrogênio verde e de baixo carbono no contexto da Alemanha, representantes de empresas e instituições alemãs participaram de um painel para oferecer aos participantes um olhar sobre o avanço do tema na Alemanha e as oportunidades de cooperação.
Integraram o painel Sibyl Scharrer, Project Manager International Cooperation Hydrogen no Renewable Energy Cluster Agency Hamburg; Lars Bobzien, Deputy Head of Department “Economic Development and Potentials” do Ministério de Assuntos Econômicos, Transporte, Habitação e Digitalização de Niedersachsen; Inga Söllner, Project Manager for International Cooperation na NRW.Energy4Climate; Max Christian Pingen, Sales & Business Development da RWE Technology International; e Angela Kruth, Speaker and Coordinator na Campfire Alliance.
O grupo faz parte de uma delegação alemã de formadores de opinião organizada pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) no âmbito do projeto H2Brasil, que integra a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e é implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e financiado pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.
Outro tema de destaque na programação do evento foi o panorama de instrumentos de fomento e os principais requisitos de editais de projetos em hidrogênio, incentivando os participantes a se inscrever em programas de apoio e subsídio para alavancar seus negócios.
O painel foi integrado por Carlos Divino, Assessor Técnico no programa H2Uppp; Fábio Cavalcante, Coordenador de Planejamento e Relações Institucionais da EMBRAPII; Mauricio Bernhardt Maciel, Analista de Inteligência de Mercado e Regulação de Energia Elétrica do BNDES ; Paulo Resende, Analista Sênior da FINEP; e Luciano Schweizer, Coordenador Sênior de Projetos no KfW.
Explicando a atuação do KfW, banco estatal alemão de investimento e desenvolvimento, Luciano Schweizer compartilhou detalhes da plataforma PtX, um dispositivo de fomento com potencial de mais de 550 milhões de euros para alavancar investimentos privados com foco na expansão da produção de hidrogênio.
No encerramento do evento, Fernando Paraíso, Coordenador de Inovação e Sustentabilidade da AHK São Paulo reforçou aos participantes o convite para também acompanharem o 11º Congresso Brasil-Alemanha de Inovação e Sustentabilidade, principal evento para exponenciar a troca de conhecimentos, experiências e conexões entre atores dos ecossistemas brasileiro e alemão. O congresso acontecerá no dia 14 de novembro e terá como tema “Ampliando os Horizontes da Transição Verde e Digital”, abordando as principais tendências que estão impactando os negócios e que podem potencializar o desenvolvimento econômico e social sustentável e regenerativo. Clique aqui para fazer a inscrição.