Implementação de energias sustentáveis foi tema principal do 1º Congresso Brasil-Alemanha de Hidrogênio Verde

Foto: Divulgação – AHK São Paulo.

Nos dias 5 e 6 de outubro, as Câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo e do Rio de Janeiro realizaram o 1º Congresso Brasil-Alemanha de Hidrogênio em parceria com a GIZ, Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit. Inteiramente online, o evento teve como foco o desenvolvimento de estratégias de produção e implementação do hidrogênio nos países e contou com a participação de políticos, empresários e pesquisadores brasileiros e alemães.

Responsável pela abertura do evento, Manfredo Rübens, Presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e Presidente da BASF América do Sul discursou sobre a importância da parceria entre Brasil e Alemanha e o engajamento das esferas da sociedade nas discussões sobre o tema. “Nosso objetivo é apresentar os contextos alemães e brasileiros, explorar o potencial de cooperação entre os dois países e evidenciar as oportunidades de trabalho em conjunto entre as iniciativas privadas e públicas, do mundo acadêmico e da sociedade civil”, disse.

Roberto Cortes, Presidente da Câmara Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, também ressaltou o impacto dessa cooperação para o Acordo de Paris. “O uso do hidrogênio verde permitirá ganhos importantes para o atingimento das metas de redução de gases do efeito estufa estabelecidas pelo Acordo.”

As metas globais de sustentabilidade também foram citadas no discurso do Embaixador da República Federal da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, que reforçou o comprometimento da Alemanha em atingir esses alvos e como a participação do Brasil poderia ser estratégica  para auxiliar nessa conquista.

O Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também participou do evento com uma vídeo-mensagem na qual destacou o uso do hidrogênio verde como solução para transição de setores de mais difícil descarbonização. “Por ser um país com vocação para energia renovável, o Brasil tem potencial para gerar hidrogênio verde de forma altamente competitiva e eficaz, tanto para consumo doméstico quanto para exportação”, afirmou o Ministro. Albuquerque comentou ainda sobre a realização de um mapeamento das possibilidades de aplicação no Brasil, com resultados que serão publicados em breve.

Com um cenário mais desenvolvido para a implementação de estratégias de descarbonização, a Alemanha apresenta avanços significativos nas pesquisas energéticas sustentáveis. Peggy Schulz, Chefe de Divisão de Cooperação Energética Bilateral do Ministério de Economia e Energia da Alemanha, comentou um pacote de medidas adotado pelo governo alemão que visa a implementação do recurso. Ainda sobre esse tema, Werner Diwald, Presidente da Associação Alemã de Hidrogênio Verde e Células Combustíveis, acrescentou a necessidade de parcerias entre países para que a Alemanha possa atingir as metas energéticas, considerando que a produção alemã não é suficiente para suprir a distribuição doméstica: “É uma situação win-win – podemos atingir nossa meta e isso, consequentemente, representaria um crescimento na economia brasileira”, acrescentou.

O Vice-Presidente Executivo da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e o Diretor-Executivo da AHK Rio, Thomas Timm e Hanno Erwes, respectivamente, reforçaram a importância da união de forças para investimento no desenvolvimento deste potencial brasileiro. Erwes acredita que a experiência em temas de energia e transição energética da Câmara do Rio de Janeiro e a grande rede de contatos com empresas de tecnologia da Câmara de São Paulo serão peças chave para o sucesso. Além disso, uma plataforma criada pelas câmaras foi anunciada por Timm: intitulada Aliança do Hidrogênio Verde, teve o congresso como primeiro evento realizado.

Durante as apresentações dos palestrantes, foi discutido também o interesse da iniciativa privada em apoiar projetos de transição energética. Thiago Barral, Presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), comentou o conceito de “Hidrogênio Arco-Íris”, ou seja, diversas formas de energias renováveis que não se excluem. Uma das sugestões para produção de energia sustentável foi proposta por Monica Saraiva Panik, Diretora de Relações Institucionais da ABH2, que definiu a energia brasileira como majoritariamente limpa. Ela acredita que o País tenha possibilidade de produção em larga escala, principalmente utilizando-se da energia surplus, que é caracterizada como resíduos de energia não utilizados.

Para além disso, Stefan Dürr, Diretor de Tecnologia e Inovação do H2.B Centro de Hidrogênio Verde da Baviera, complementou o debate compartilhando detalhes sobre o setor energético no estado da Baviera, acrescentando que os seus principais parceiros se interessam pela criação de uma frente ampla de empresas, com objetivo de exportação dessas tecnologias.

Apesar das diversas vantagens que o uso do hidrogênio pode oferecer, ele ainda é pouco discutido no Brasil. Marina Grossi, Presidente da CEBDS, destacou a importância de uma abordagem sustentável pós-crise do coronavírus. “A retomada verde pode acrescentar R$ 2.8 trilhões no PIB brasileiro até 2030 e pode gerar 2 milhões de empregos a mais.”

Marcando o fim do primeiro dia, o CEO da Siemens Energy, empresa patrocinadora do evento, André Clark, fez um discurso reiterando a economia, a tecnologia e a sociedade como fatores essenciais para um acordo robusto entre os países: “Trocar energia foi o que originou a União Europeia. A troca de energia entre Brasil e Alemanha, na forma de hidrogênio, provavelmente fortalecerá o fluxo financeiro.”

O segundo dia foi dividido em três painéis: o primeiro contou com a participação de Bernd dos Santos Meyer, Consultor de Cooperação para o Desenvolvimento de Tecnologia Sustentável, e Ansgar Pinkowski, Gerente de Inovação e Sustentabilidade, das Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. A proposta foi contextualizar o projeto e definir planos para sua aplicação. Meyer comemorou a iniciativa e deu mais detalhes sobre o comitê de desenvolvimento, formado por 12 representantes. As dificuldades também, foram abordadas. A baixa quantidade de plantas geradas e o consequente aumento de custo destas faz com que a produção de mais plantas seja desfavorável. Pinkowski chamou essa ocorrência de “efeito duplo vicioso.”  

Empresas e centros de pesquisa participaram do segundo painel, focado nos tópicos da cadeia de produção.Luiz Mello, Gerente de Desenvolvimento de Negócios da thyssenkrupp, citou o histórico da empresa no setor energético renovável. Em seguida, Nivalde de Castro, Professor e Coordenador da GESEL (Grupo de Estudos do Setor Elétrico), assumiu a discussão para falar sobre as principais motivações para a implementação desse novo recurso no país. “O Brasil é um dos únicos países do mundo com condições de implementação do hidrogênio a curto prazo, por ter o maior sistema interligado do mundo”, concluiu. A importância de incentivos econômicos para possibilitar a aplicação da tecnologia tanto no Brasil como na Alemanha foi novamente salientada pelo Professor e Chefe de Departamento da Ostbayerische Technische Hochschule,   Michael Sterner.

Andreas Eisfelder, Chefe de Pesquisa da Siemens Energy, comentou sobre a importância de uma interconexão entre os setores da cadeia produtiva. “Tudo começa com as energias renováveis, passando pelo processo de geração de eletricidade até influenciar na economia e na sociedade. O hidrogênio é a chave dessa interconexão e por isso a Siemens investe nessa tecnologia”, declarou ele na apresentação.

A questão da exportação também foi abordada pelos palestrantes. Scott Ladar, Presidente da Messer, discutiu a problemática da transportação do hidrogênio em larga escala. Já Tessa Major, Diretora de Negócios Internacionais e Inovação do Porto do Açu, debateu sobre os benefícios que o porto pode oferecer no armazenamento e exportação desse novo produto.

Após o painel de perguntas e respostas, Paulo Alvarenga, CEO da thyssenkrupp South America, concluiu “Esses dois dias foram importantes para desmistificar a noção de que o hidrogênio verde não pode ser competitivo. O plano nacional de energia já representa um passo importante para a redução de custos porque ele já contempla o hidrogênio verde como possibilidade”.