






A capital baiana foi palco, entre os dias 15 e 17 de junho, da 41ª edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA), principal fórum de diálogo empresarial e institucional entre os dois países.
Realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) e pela Federação das Indústrias Alemãs (BDI), com apoio da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo), o evento reuniu cerca de 700 participantes entre executivos, autoridades governamentais e representantes de entidades setoriais em Salvador.
Com o tema central “Parcerias Estratégicas para uma Economia Sustentável”, o EEBA 2025 teve uma programação voltada a temas como transição energética, inovação industrial, economia circular, segurança, agroindústria, infraestrutura e comércio internacional.
Durante a abertura, Michael Heinz, Vice-Presidente da Comissão da Indústria Alemã para a América Latina (LADW/BDI) e membro do Conselho Executivo da BASF SE, chamou a atenção para o novo cenário geopolítico global. “Diante de tempos com conjuntura geopolítica desafiadora, a Alemanha e a União Europeia continuam apostando em multilateralismo, cooperação e responsabilidade global. Há um forte desejo de fortalecer a cooperação com parceiros confiáveis, como o Brasil. Mas isso só será possível se a Europa se posicionar com uma agenda comum e voltada para o futuro. Isso inclui, antes de tudo, relações de confiança com outros países que compartilhem valores e visões semelhantes, e que há décadas têm contribuído para a solução de desafios globais”, declarou.
Os acordos de parceria entre União Europeia e Mercosul e o Acordo para Evitar a Dupla Tributação (ADT) entre Brasil e Alemanha foram temas de destaque ao longo da programação, se mostrando uma preocupação unânime entre as autoridades participantes.
Ricardo Alban, Presidente da CNI, destacou o histórico de cooperação entre os dois países. “Historicamente, Brasil e Alemanha mantêm uma parceria sólida que tem trazido importantes benefícios para ambos os lados. E é por essa parceria tão estabelecida que não podemos desperdiçar essa janela de oportunidade”, afirmou Alban, complementando: “A inexistência de um Acordo para Evitar a Dupla Tributação entre Brasil e Alemanha desestimula investimentos bilaterais e a cooperação tecnológica.”
Rui Costa, Ministro de Estado Chefe da Casa Civil do Brasil, reforçou o alinhamento entre os dois países em temas estratégicos. “Brasil e Alemanha compartilham valores fundamentais e defendem a construção de soluções conjuntas entre as nações, por meio do diálogo e de acordos multilaterais. Temos muitas sinergias e possibilidades de complementariedade, seja nas cadeias produtivas industriais, seja na agricultura. Precisamos transformar boas intenções em ações concretas! Esperamos da Alemanha não apenas apoio ao Acordo Mercosul-União Europeia, mas também liderança no processo de sua aceleração. O Brasil está aberto, preparado e comprometido com parcerias sólidas, sustentáveis e duradouras.”
Também em defesa do Acordo, Márcio Elias Rosa, Secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), afirmou: “O Acordo União Europeia-Mercosul oferece alternativas e oportunidades para ambos os lados. Neste momento de conjuntura geopolítica tão desafiadora, este acordo é a melhor resposta. O Acordo União Europeia-Mercosul é o caminho; e a Alemanha é o grande parceiro do Brasil nesta empreitada.”
Também na abertura do evento, pelo lado alemão, Martina Englhardt-Kopf, Secretária de Estado Parlamentar do Ministério Federal da Agricultura, Alimentação e Identidade Regional da Alemanha, encorajou o diálogo bilateral, especialmente relacionado à pauta de segurança alimentar. “Como sociedade, temos muitos desafios para alcançar as metas da Agenda 2030. Precisamos investir em inovação e resiliência no setor da agricultura. Neste contexto, a parceria entre Brasil e Alemanha é essencial.”
Traçando um panorama da relação econômica, Gitta Connemann, Secretária de Estado Parlamentar no Ministério da Economia e Energia da Alemanha, destacou que o atual momento de disrupção e questionamento da ordem mundial gera grandes preocupações. Segundo ela, as cadeias de suprimentos se tornaram mais frágeis e a dependência de recursos ficou ainda mais evidente. “Neste contexto, novas estratégias econômicas, incentivos, e fortalecimento de conexões com parceiros se tornam essenciais para o crescimento econômico. Estamos determinados a assumir a missão do Acordo entre União Europeia e Mercosul com determinação para que entre em vigor o quanto antes.”
Programação do EEBA

Ao longo do dia, representantes do Governo e de empresas se reuniram em painéis de diálogo para compartilhar suas perspectivas sobre pautas relevantes no âmbito da cooperação bilateral.
A inovação como impulsionadora da manufatura industrial foi uma das temáticas de destaque ao longo da programação. Para Svenja Ahlburg, Diretora de Vendas para as Américas e Membro do Conselho Executivo Regional do Grupo Wilo, “o Brasil já se destaca no cenário global como uma referência no uso de inteligência artificial na manufatura industrial e há muito potencial de avanço.”
Concordando com a declaração, Pablo Fava, CEO da Siemens Brasil e Vice-Presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, complementou que a rastreabilidade ainda é um ponto a ser fortalecido na transformação digital brasileira. “O Brasil tem uma vocação ao crescimento. O que precisamos é desenvolver rastreabilidade, deixando um carimbo muito bem estabelecido para os diferenciais do produto brasileiro. Só assim iremos reforçar a mensagem do Brasil de uma potência verde e digital.”
O futuro do agronegócio foi o foco central do painel “Construindo o Futuro da Agroindústria”, que reuniu Márcio Santos, CEO da Bayer Brasil, Martina Englhardt-Kopf, Secretária de Estado Parlamentar do Ministério Federal da Agricultura, Alimentação e Identidade Regional da Alemanha, e Jefferson Gomes, Diretor de Desenvolvimento Industrial, Tecnologia e Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Durante o painel, a Secretária Martina Englhardt-Kopf destacou os avanços do diálogo bilateral, relatando sua participação em discussões técnicas com um grupo de trabalho dedicado ao agronegócio e à inovação. Segundo ela, o encontro com representantes da comunidade agrícola brasileira permitiu uma troca produtiva sobre os desafios futuros do setor, além de abrir caminhos para estreitar a cooperação. “É essencial perceber que essa jornada não diz respeito apenas ao presente momento, mas também ao futuro”, afirmou. Ela também ressaltou o reconhecimento, por parte da Alemanha, do papel que o Brasil desempenha no desenvolvimento das comunidades rurais e no fortalecimento das parcerias internacionais.
Na mesma linha, Santos reforçou a contribuição estratégica do agronegócio brasileiro para temas globais amplamente discutidos durante o evento, como segurança alimentar justa e sustentável e transição energética. O executivo chamou a atenção para um aspecto ainda pouco conhecido internacionalmente: o papel do agro como gerador de energia limpa no Brasil. “O grande produto do agronegócio brasileiro também é energia. Se olharmos para a matriz energética do País, dois terços da energia renovável gerada no País são diretamente ligados ao agro. O Brasil faz questão de mostrar esse lado do agronegócio que talvez ainda não seja amplamente difundido internacionalmente: um agronegócio que adota tecnologia, que é sustentável e que está de braços abertos para parcerias internacionais e para o movimento global de transformação do agro”, pontuou. Ele enfatizou ainda o compromisso do setor com a sustentabilidade e a inovação tecnológica, além da disposição em ampliar parcerias com atores internacionais para acelerar a transformação global da agroindústria.
O painel “Economia Circular em Ascensão”, por sua vez, destacou a importância de manter a perenidade da agenda de sustentabilidade nas atividades da iniciativa privada, com foco em soluções viáveis e escaláveis para o contexto brasileiro. Francisco Manesco, Gerente de Projetos Estratégicos de Mineração da Vale, e André Barón, Presidente LATAM do Grupo Henkel, trouxeram reflexões sobre o papel das empresas na transição para modelos mais circulares de produção e consumo. Em sua fala, Barón enfatizou a necessidade de uma abordagem realista e adaptada às características do Brasil: “Quando se fala em economia circular, é importante compreender que o Brasil, por ser um país em desenvolvimento e de dimensões continentais, precisa olhar para si mesmo com senso crítico. Precisamos reconhecer os desafios que temos, como infraestrutura, e aproveitar as muitas capacidades relacionadas à variedade de fontes renováveis de matéria-prima. Sempre digo que, se uma solução funciona no Brasil, não há motivo para que ela não funcione em qualquer outro lugar do mundo”, afirmou.
O painel “Brasil e Alemanha: Parceiros em Comércio e Investimentos” contou com a participação de Angelo Almeida, Secretário de Desenvolvimento do Estado da Bahia, Tatiana Farah de Mello Cauville, Gerente de Promoção Comercial da CNI, Dr. Jochen Köckler, Presidente do Conselho de Administração da Deutsche Messe AG, e Ingo Kramer, Presidente da LAI.
Em sua fala, Kramer destacou a abordagem da Alemanha em projetos de infraestrutura: “Os alemães perguntam ‘o que vocês precisam para construirmos uma ferrovia neste país’. Nós partimos de uma lógica de cooperação, utilizando mão de obra local e contribuindo localmente”, afirmou. Ele também ressaltou o olhar positivo das empresas alemãs para o ambiente de negócios no Brasil: “Questionadas sobre os maiores desafios para os negócios no Brasil, as empresas alemãs instaladas aqui falaram sobre câmbio, mão de obra qualificada e apenas em terceiro lugar listaram os aspectos econômicos. Este é um cenário bem diferente do apresentado pelas empresas em outras localidades do mundo. Do ponto de vista das empresas alemãs que estão aqui há mais de 150 anos, há uma perspectiva muito otimista em relação aos negócios e esperamos que com o Acordo entre União Europeia e Mercosul isso cresça”.
Dr. Jochen Köckler, por sua vez, projetou um cenário de novas oportunidades para o Brasil na próxima edição da HANNOVER MESSE (HM): “Nossa expectativa em relação à próxima edição da feira é clara: novos negócios e crescimento econômico. Nós esperamos que o Brasil aproveite da melhor forma essa oportunidade única de mostrar toda a sua constelação de soluções inovadoras não apenas para o mercado alemão, mas utilizando toda plataforma que a feira oferece como uma vitrine global”, afirmou. Ele também reforçou a conexão entre desenvolvimento industrial e transição energética: “Uma indústria complementar de energia limpa só vai funcionar com modelos de negócios bem estabelecidos. A HANNOVER MESSE é uma excelente plataforma para essa troca, para visualizar novos modelos de negócio, estabelecer cooperações estratégicas e mostrar ao mundo que são pioneiros em pautas de relevância global”.
O Brasil foi escolhido como País Parceiro da edição de 2026 da HM, a maior feira de tecnologia industrial do mundo.
Em uma discussão sobre mobilidade para o futuro, Roberto Cortes, Presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, compartilhou as perspectivas da companhia para eletrificação de frotas e destacou a importância de investimentos em infraestrutura. “A cidade de São Paulo tem 13 mil ônibus. A meta era que 20% da frota fosse elétrica até 2024, o que representa mais de 2.500 veículos. No entanto, até agora, São Paulo tem pouco mais de 1.400 ônibus elétricos. A grande dificuldade de alcançar este objetivo está na recarga. Seria necessário construir subestações elétricas novas, e toda essa infraestrutura ainda precisa ser desenvolvida. Ou seja, o gargalo na adoção da mobilidade elétrica está na infraestrutura. É por isso que estamos aqui hoje: para envolver o Estado, organizar e estruturar ações”, declarou.
Lançamento da Revista BrasilAlemanha 2025

O EEBA foi também palco do lançamento da nova edição da Revista BrasilAlemanha. Com mais de 30 anos de história, a publicação anual e bilíngue da AHK São Paulo traz nesta edição o tema da descarbonização como eixo central, reforçando o papel estratégico do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono. Ao longo de quase 150 páginas, a revista destaca como o Brasil vem se consolidando como protagonista global na agenda climática. Clique aqui para baixar seu exemplar!








Divulgação - AHK São Paulo