O interesse pelo desenvolvimento e comercialização em escala de carros elétricos não vem de hoje. Grandes marcas como BMW, Volkswagen, Renault e, mais recentemente, a americana Tesla oferecem os seus modelos em todo o mundo. No entanto, até o ano passado, essa tecnologia atraia uma fatia pequena do mercado automotivo, não representando mais de 4% das vendas mundiais.
Neste ano, no entanto, o cenário mudou. De um lado, a pandemia provocou uma queda nas vendas de carros a combustão de mais de um quarto, de outro, as pessoas passaram a prestar mais atenção em como temos tratado e explorado o nosso planeta. Muitas coisas que passavam despercebidas, agora incomodam, e muito, na nova rotina mundial. Essa percepção também recebeu incentivos dos governos, que passaram a oferecer subsídios de estímulo às vendas.
Parece que chegou a hora dos carros elétricos! Eles encontraram o seu tão almejado espaço, tanto que sua participação no mercado cresceu 9% em todo o mundo. E isso apesar das dificuldades econômicas dos últimos meses. Essa é a conclusão do estudo realizado pela AlixPartners Automotive Electrification Index e que está disponível no site do jornal econômico alemão WirtschaftsWoche. “Os carros elétricos são os vencedores da crise do coronavírus”, diz o autor do estudo, Elmar Kades.
Na Alemanha, por exemplo, a chanceler Angela Merkel, aprovou em junho, subsídios para a redução do preço dos veículos elétricos. A medida faz parte de um estímulo econômico de 130 mil milhões de euros para auxiliar os fabricantes de automóveis a venderem carros ‘verdes’. Outra medida aprovada temporariamente por Merkel é a redução do imposto de vendas de 19% para 16%.
O esforço tem funcionado. No terceiro trimestre de 2020, a cada dez carros novos registrados na União Europeia, um é elétrico ou híbrido plug-in. O mês de setembro marcou uma virada histórica: pela primeira vez, os carros com acionamentos elétricos venderam mais do que os modelos a diesel na Europa. Os carros elétricos, híbridos plug-in e híbridos moderados, juntos, responderam por 25,2% dos novos registros, enquanto os carros a diesel representaram 24,9%. “Uma coisa é certa: 2020 é o ano do avanço da mobilidade elétrica na Europa”, finaliza Elmar Kades. Pelo menos na Europa!
Mas nem tudo são flores no mercado automotivo alemão, responsável por 10% do PIB do país. A forte concorrência com marcas como Tesla, BYD, da China ou mesmo a Renault, que tem o seu modelo elétrico ZOE em constante competição com o modelo da Nissan Leaf para ocupar a posição de mais vendido do continente europeu, mostram que a indústria alemã – a mesma que inventou o carro elétrico – tem muito para melhorar.
Fornecedores buscam adequações dos seus produtos para atender as novas demandas, outros procuram formas de cortar custos. Ao mesmo tempo, segundo uma análise recente, é necessário mais investimento em inovação para lançar veículos alternativos mais cedo no mercado. De acordo com uma estimativa da Strategy&, o mercado de veículos elétricos poderia aumentar sete vezes nos próximos anos, dos atuais 12 bilhões de euros para 84 bilhões de euros em 2030. Até lá, porém, o motor de combustão interna teria que continuar seu curso para garantir dinheiro suficiente às fabricantes de automóveis e financiar essa mudança.