Super dependente da Rússia para o fornecimento de óleo e gás, Alemanha está em busca desesperada de novos parceiros e fontes de energia
Cerca de 40% do gás e 50% do óleo consumidos na Alemanha vêm da Rússia. Essa é uma realidade que estava longe de mudar, se não fosse um imprevisto no meio do caminho: os russos decidiram atacar a Ucrânia e se voltar contra a OTAN.
A revolta russa exigiu sansões que colocaram em xeque a parceria que remonta à Segunda Guerra Mundial e fragiliza os alemães perante a Europa. De longe o maior cliente da Rússia, a Alemanha agora abre frentes de negociação pelo mundo para encontrar outros fornecedores e se libertar da dependência da energia russa. Além da Rússia, a Noruega (30%) e a Holanda (13%) também vendem óleo e gás para a Alemanha, mas essa quantia não é suficiente para abastecer com gás os habitantes no inverno, a principal utilidade do insumo no país, muito menos a demanda da indústria.
Habitualmente, a Alemanha abastece seus reservatórios de gás natural no verão, para garantir o aquecimento das casas durante os longos e rígidos períodos de frio, que atinge todo o país. Mas quais são as alternativas disponíveis e viáveis diante da atual situação catastrófica?
Entre os candidatos estão o Quatar, os Estados Unidos e Austrália. No entanto, o parceiro ideal ainda não foi encontrado.
As tratativas com o país sede da próxima Copa do Mundo são complicadas. Além das diferenças religiosas, há indícios de exploração de trabalhadores imigrantes e de não cumprimento dos direitos humanos, o que levou, pouco tempo atrás, a Ministra das Relações Exteriores e de Meio Ambiente, Annalena Baerbock, do Partido Verde, pedir o boicote da Copa do Mundo que acontecerá em julho. Mas é claro, com o agravamento da situação na Ucrânia, o Ministro da Economia, Robert Habeck, declarou que “não podemos fechar as portas para nenhum país que seja potencial fornecedor.”
Já na Austrália e nos EUA, o gás é parcialmente extraído pelo controverso método de fracking, além disso, a capacidade de fornecimento imediato da Austrália é limitada. É preciso um investimento pesado para aumentar a infraestrutura e, também, para construir os dutos de transporte subterrâneos, o que custará caro, visto a distância entre os países.
No momento, a possibilidade mais viável é mesmo a compra dos Estados Unidos em conjunto com o Canadá, cujas negociações parecem avançar a passos largos, apesar da necessidade da construção de dutos entre continentes.
Além da busca pelo fornecedor, a Alemanha já programou a construção de dois terminais de gás natural, com estimativa de finalização entre 2024 e 2027. O investimento já estava no radar dos alemães e, com a mudança do cenário mundial, se tornou uma obra de urgência urgentíssima, já que é imprescindível para receber o gás de outros cantos do globo.
Até lá, os alemães conviverão com uma expressiva alta de gás e energia, o que vem aumentando a inflação para 7,4% em abril e assustando os inexperientes consumidores. Além disso, fica difícil dormir tranquilo nas terras germânicas até que se defina como será o próximo período de frio que chegará ao país no final de setembro, começo de outubro.
Texto escrito por Silvana Piñeiro, Diretora da empresa associada Smartcom Inteligência em Comunicação e correspondente do Informativo Acontece Câmara na Alemanha.