O surto de coronavírus representa uma das crises mais profundas pelas quais a humanidade passou ao longa da história e, certamente, a mais importante nos últimos 50 anos para a economia global. A interrupção da atividade econômica e o impacto nas cadeias de valor como resultado das medidas de distanciamento social que os países estão aplicando para reduzir o contágio da covid-19 estão tendo efeitos devastadores no desempenho das economias e gerando perspectivas de crescimento desanimadoras para o final deste ano. Trata-se de uma situação que afeta os países pobres ou em desenvolvimento que apresentam uma situação mais delicada e nos quais a pandemia exacerba crises pré-existentes como a econômica, financeira, social e política.
Uma pandemia tem a particularidade de que, conforme avança, os governos adotam medidas de distanciamento social que afetam a produtividade. Ao mesmo tempo, há uma queda na demanda por insumos produtivos e uma contração na demanda de consumo final levando a um choque de demanda. É importante observar que a queda na demanda internacional por produtos e o retrocesso que essa mudança gera nos preços têm um impacto específico na América Latina cujas economias dependem da produção e exportação desses bens.
No caso dos países da América Latina e, especialmente, da América do Sul, a experiência observada em outras regiões permitiu a elaboração de estratégias e medidas mais eficazes contra o surto da covid-19, ainda que não se tenha podido evitar o fechamento das fronteiras, o distanciamento social e a interrupção da atividade econômica. Essas medidas, somadas à desaceleração da economia global estão punindo os países da região, deixando no processo um rastro de números de crescimento negativo para todo o continente sul-americano até o final deste ano e apenas um vislumbre de recuperação para o próximo.
As medidas de contenção aplicadas em todo o mundo e as restrições de financiamento devem operar em detrimento da atividade econômica da região que devem enfrentar os efeitos da pandemia com crises econômicas e financeiras preexistentes. Em termos gerais, espera-se que tanto a América Latina quanto a América do Sul registrem uma queda significativa no PIB agregado, no final deste ano, enquanto para 2021 há expectativas de uma recuperação em torno de 3% a 4%.
* Jean Paraskevopoulos Neto é sócio líder de mercados e clientes da KPMG no Brasil e na América do Sul.