O conselheiro da AHK Paraná, Emilio Abelenda Pena, traz os pilares básicos para um gerenciamento eficiente diante da nova realidade operacional das empresas
As mudanças no nosso dia a dia decorrentes da pandemia da Covid-19 abrangem também a maneira de gerenciar as nossas estruturas operacionais dentro da empresa. O relacionamento interpessoal mudou para um universo digital, criando um distanciamento físico entre as pessoas e tornando necessário avaliar como a reorganização do ambiente de trabalho impacta tanto no gerenciamento a distância da equipe quanto no relacionamento com o consumidor final ou o cliente. Em consequência, a conjuntura atual obriga, mais do que nunca, a uma visão conjunta do fluxo da comunicação na empresa, tanto interna e institucional quanto externa.
Neste artigo, vamos enumerar os pilares básicos para um gerenciamento eficiente da nova realidade operacional, desde uma perspectiva reversa até a solução de fora para dentro da empresa.
Com base nesses dois axiomas (Comunicação nas três dimensões organizacionais e visão externa da nossa estrutura) e adicionando a variável do tipo de empresa de que fazemos parte, construiremos nossa estratégia de gerenciamento do trabalho remoto.
Inicialmente, podemos descrever as mudanças que se preveem no comportamento do consumidor brasileiro e que usaremos em dois sentidos: o primeiro deles, assumindo esses comportamentos como próprios na nossa equipe, e o outro para entender como adaptar a nossa estrutura a essa visão.
No relatório da Mackinskey&Co. publicado no final de 2020, redefiniram-se os valores fundamentais do consumidor brasileiro agrupados em cinco famílias. São eles: novos canais de compras, prevenção e planejamento, consciência ao consumir, sustentabilidade e conexões afetivas.
Esses valores essenciais criaram mudanças no comportamento de consumo na nova realidade ou no “novo normal” da seguinte forma: o digital virou onipresente, isto é, consumidor brasileiro começou a realizar de forma on-line atividades que não imaginava antes da pandemia; o consumo passou a ser repensado, de tal modo que as pessoas criaram expectativa severa de corte de gastos, motivada por insegurança financeira e acompanhada de reflexão sobre a real necessidade de consumo; aumento da infidelidade comercial, com 25% das pessoas experimentando novos fornecedores e lojas, e com 30 a 40% comprando novas marcas; consumo seguro, em que se considera Top of Mind a limpeza e o distanciamento social na loja como motivador de compra; saúde e qualidade de vida foram repensadas, de modo que 60% dos consumidores estão consumindo produtos não industrializados, e 80% das pessoas estão buscando fazer alguma atividade física dentro de casa; a casa assumiu um novo papel e passou a ser o centro da vida; casualização e indulgência – durante a quarentena, as pessoas se acostumaram a usar roupas confortáveis e isso pode ser uma barreira entre o trabalho e a casa; a sustentabilidade foi redefinida – com isso, 60% dos cidadãos estão fazendo mudanças significativas de estilo de vida para reduzir o impacto no meio ambiente; aumento da busca por propósito e marcas que desempenhem um papel para além do comercial perante a sociedade.
Então, considerando que a nossa equipe é formada por “consumidores” atrelados a essas caraterísticas, e se queremos que a percepção interna e externa da nossa empresa esteja alinhada a essas mudanças e nova realidade, deveremos nos basear nas seguintes premissas para um bom gerenciamento da equipe, diante do sistema de trabalho remoto: a) operacional, b) estrutura física, c) emocional.
Na parte do operacional, devemos potencializar a comunicação nos três canais (interno, institucional, externo). Comunicação Interna – traçar cronograma de videoconferências; Comunicação institucional – fluxo intensivo com os valores renovados da empresa; Comunicação externa – definir um cronograma de comunicados de seguimento da evolução e dos valores da empresa, e potencializar a comunicação falada sobre a escrita, a fim de criar laços de confiança e familiaridade.
Outro ponto é definir claramente os objetivos operacionais no tempo, fixando as expectativas e as regras, além de reestudar e simplificar o fluxo das rotinas para gerar sensação de “limpeza” e eficiência.
Empregar uma liderança por gestão de capacidades para melhorar o modelo operacional; potencializar o processo de tomada de decisão com base nos itens anteriores, criando laços de confiança e segurança; intensificar os programas de formação internos on-line, a fim de reforçar a interiorização dos valores da empresa, potencializar as capacidades, assumir o digital como normal e fazer com que os colaboradores se sintam parte de um todo também estão entre as premissas para o gerenciamento da equipe em home office.
Na parte estrutura física, vale premiar ou bonificar a incorporação do espaço de trabalho no layout da casa; bonificar e potencializar o sistema de internet doméstico; fazer atualização de hardware, se for necessário, além de novas tecnologias; assegurar a disponibilidade de produtos necessários para cada atividade.
A terceira premissa é a parte emocional. É preciso dar importância ao cuidado pessoal e recomendar um “dress code” básico como rotina; promover aromatizadores de ambiente, velas, vaporizadores etc. para criar sensação de bem-estar no espaço de trabalho; e dar ênfase aos valores sociais diretos ou indiretos da empresa para reforçar o sentimento de grupo.
Com isso, não só manteremos a produtividade, mas também passaremos uma maior sensação de segurança em todos os âmbitos. Além disso, reforçaremos a conexão afetiva na equipe e, por extensão, da marca, e seremos beneficiados pelo aumento da nossa performance através da disciplina e planificação.
Por fim, devemos converter uma ameaça potencial de desengajamento em oportunidade para projetar os nossos valores diante dessa nova estrutura sociodigital cheia de desafios.
*Emilio Abelenda Pena é conselheiro da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná). Também é Diretor Geral da Kleiberit do Brasil e investidor em fundos de comércio para o desenvolvimento da indústria brasileira e em novas tecnologias.