Andreas F. H. Hoffrichter*
Imagine se fosse possível obter energia usando água como matéria-prima em substituição ao petróleo e ao gás natural, reduzindo a zero a emissão de gás carbônico (CO2) nesse processo.
A solução, cada vez mais viável economicamente, é a produção de hidrogênio por meio da separação da água em hidrogênio e oxigênio pela utilização da energia elétrica, processo conhecido como hidrólise. Se essa energia gerada vier de fontes limpas e sustentáveis como a eólica, hídrica e solar, resulta o hidrogênio verde, o combustível do futuro!
O Brasil produz 83% de sua energia por meio dessas fontes, que são abundantes. O potencial é enorme e constitui uma vantagem competitiva sem igual, e, também, um meio para reduzir drasticamente as emissões de carbono de modo a atingir as metas firmadas no Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário.
O hidrogênio é três vezes mais potente que a gasolina. A sua combustão libera água na forma de vapor, e, portanto, trata-se de uma energia limpa, um gás de fácil armazenamento e transporte, muito flexível na sua utilização.
O uso da energia elétrica na indústria da mobilidade é irreversível. A indústria automotiva já anunciou o fim do motor a combustão até o final desta década. O hidrogênio pode ser aplicado como alternativa nos casos em que não faz sentido usar uma bateria, e sim um gás ou líquido que pode ser armazenado em tanques, por exemplo, nos ônibus, trens, caminhões pesados e empilhadeiras. Ele também pode ser utilizado na siderurgia, na indústria química, na produção de cimento, do vidro e da cerâmica, entre outros.
Para o Brasil, o hidrogênio pode ser a chave para impulsionar ainda mais um setor que contribui muito para a geração do nosso PIB, o agronegócio. O nosso país é um dos principais produtores mundiais de alimentos – não à toa, é chamado de celeiro do mundo. Ele é o quarto maior consumidor de fertilizantes e importa aproximadamente 80% do total de que necessita.
O hidrogênio é utilizado para sintetizar a amônia, base para produzir a ureia e o nitrato de amônia, que são fertilizantes amplamente utilizados na nossa agricultura. Se produzirmos hidrogênio verde sem emissão de gás carbônico, teremos uma matéria-prima de origem nacional para a produção desses fertilizantes, reduzindo a nossa dependência estratégica das importações e fortalecendo a nossa produção agrícola de modo sustentável.
A produção do hidrogênio verde ainda é cara, mas o seu custo tende a cair, à medida que aumentarmos a produção de energia elétrica renovável e avançarmos no desenvolvimento de processos inovativos de hidrólise com maior eficiência.
Atualmente, são necessários 50.000 KWh para produzir 1.000 KG de hidrogênio verde, quantidade suficiente para abastecer 11 domicílios, com três moradores cada, por um período de um ano.
A Alemanha lançou, recentemente, por meio do seu Ministério Federal da Economia e Energia, o Plano Nacional de Hidrogênio Verde, que constitui e regula a produção, o transporte e a utilização do hidrogênio verde, bem como as inovações e investimentos necessários.
Já foram investidos mais de 8 bilhões de euros para a ampliação da produção de hidrogênio verde, o que representa uma economia de milhões de toneladas de gás carbônico.
Na Europa, estima-se um mercado que crie um faturamento de 800 milhões de euros por ano e que gere 5,4 milhões de empregos até 2050.
A AHK Paraná trabalha intensamente para estimular e intensificar a cooperação entre o Brasil e a Alemanha, e fomentar a produção de hidrogênio verde a fim de promover o progresso econômico sustentável.
*Andreas F. H. Hoffrichter é diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná).