Movimentos liderados por mulheres e avanço nas leis de igualdade de gênero ainda precisam de impulso
“Não podemos ter sucesso se a metade de nós vive reprimida.” Malala Yousafzai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz e ativista dos direitos da criança do Paquistão, se refere nesta citação à população feminina que, em pleno século 21, ainda exige igualdade de gênero. Efetivamente, as mulheres representam a maioria da população mundial, mas, apesar disso, estão em minoria em quase todos os setores, ganham salários mais baixos – e isso independe da posição ou qualificação – são pouco ativas na vida política e os seus direitos ainda são desqualificados.
Apesar de a Alemanha se orgulhar por ter um dos melhores sistemas de paridade do mundo, ainda batalha contra as diferenças entre sexos, e essa situação foi agravada com a pandemia. O desemprego, a diminuição de carga horária e, por consequência, a redução de salários e o aumento de tarefas diárias por conta do fechamento das escolas e creches atingiram em cheio as mulheres nesse período. A situação empurra mais de 47 milhões de mulheres e meninas em todo o mundo para a pobreza.
O jornal Der Spiegel, um dos mais lidos pelos alemães, fez uma pesquisa no último dia da mulher e descobriu que, em meio aos seus 40 mil artigos publicados nos últimos 12 meses, apenas 20 mil entrevistados foram mulheres, enquanto os homens apareceram como fonte 107 mil vezes. O jornal se comprometeu a mudar esse cenário até 2022.
Esse exemplo mostra que, muitas vezes, exaltamos os valores das mulheres no dia internacional da mulher, mas, no dia seguinte, tudo volta ao normal!
O Parlamento Europeu, no entanto, reiterou, neste mês, o seu apelo aos Estados-Membros para que as metas, planos de ação, prazos e medidas temporárias especiais da União Europeia avancem para uma representação equilibrada nos cargos executivos, legislativos e administrativos. Uma das propostas da Comissão Diretiva de Mulheres no Conselho sugere a adoção de uma lei que aumenta a transparência salarial, o que, segundo os deputados europeus, ajudaria a eliminar a disparidade de gênero. A proposta ainda não foi votada.
E não é só isso! Após 25 anos da adoção da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (BPfA), apesar de alguns progressos, nenhum estado europeu alcançou totalmente as metas estabelecidas, afirma a revisão do BPfA publicada em 2020 pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero.
Ainda há muitos desafios a serem superados, mas essa batalha avança, mesmo que a passos curtos. O movimento Maria´s 2.0, iniciado há dois anos por um grupo de mulheres da comunidade Heilig Kreuz em Münster, norte da Alemanha, é um exemplo. Chocadas com o abuso de poder, a violência sexual e seu encobrimento pela igreja católica, as mulheres sensibilizaram a população, receberam apoio de homens de dentro do sistema católico e, hoje, o movimento é sinônimo de feminismo e de luta pela igualdade na igreja.
A mobilização mundial Friday for Future, criada em 2018 por uma adolescente de 16 anos revoltada com o descaso das autoridades sobre o meio ambiente, é outra manifestação que atesta que a nova geração de mulheres busca participar e ser ouvida. Suas ideias englobam todas as esferas, ganham proporção e se fortalecem quando o respeito sobressai ao gênero.
Leia mais sobre o tema direto nos sites alemães:
https://www1.wdr.de/nachrichten/themen/coronavirus/frauen-verliererinnen-corona-krise-100.html https://www.europarl.europa.eu/news/de/headlines/priorities/internationaler-frauentag-2021
https://www.zeit.de/2020/20/maria-2-0-katholische-kirche-feminismus-protestbewegung