Neste ano, a comandante mais poderosa da Europa deixa o cargo e abre uma nova era
No dia 26 de setembro, os alemães irão às urnas para eleger os seus representantes ao Bundestag e, por consequência, influenciarão as eleições, que acontecem por voto indireto, do próximo – ou da próxima – chanceler que governará o país mais rico da Europa, e quarta maior economia do mundo, por quatro anos. Por enquanto, o cenário ainda está incerto, mas, depois de 16 anos sob as mesmas rédeas, a chamada Supereleição traz um gosto especialmente competitivo. Seria melhor continuar com a política que vem sendo adotada há mais de uma década ou optar por algo novo, inovador e, quem sabe, mais audacioso? Ou, ainda, ter um olhar mais voltado àqueles que se sentem à margem desde 2005?
Entre os mais bem posicionados estão velhos conhecidos das eleições alemãs e um novato: Union – coalizão entre a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU); o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e a Bündnis 90/Die Grünen (Aliança 90/Os Verdes). Apesar de ter uma influência forte nas discussões do país, esta é a primeira vez que o Partido Verde se apresenta para a disputa pela chancelaria.
Mas antes mesmo da abertura oficial do período eleitoral, a disputa já movimenta o cenário político e, obviamente, a mídia. O SPD denominou e divulgou o seu candidato já em agosto de 2020, Olaf Scholz. Totalmente diferente foi a escolha do candidato da chamada União (Union), uma aliança entre a CDU – partido de Merkel – e a CSU. Aqui a disputa foi acirrada e teve direito a palanque e consulta aos filiados anulada. Tradicionalmente, o candidato da Union é escolhido pela cúpula do partido, mas, neste ano, com a forte competição entre Armin Laschet (CDU) e Markus Söder (CSU), o partido decidiu abrir para a consulta dos filiados. Para surpresa dos chefes do partido, o resultado da consulta foi completamente diferente do esperado. Enquanto Laschet – governador do estado de Nordrhein-Westephalen, o mais populoso e rico do país – era o candidato escolhido entre os diretores, 75% dos filiados votaram para Söder – governador do estado de Bayern – onde estão algumas das principais indústrias do país, como a BMW, a Audi, a Puma, a Adidas, a Siemens, entre outras. Após um final de semana inteiro de discussões, valeu o peso da tradição e Armin Laschet foi finalmente denominado candidato da Union.
No entanto, quem aproveitou o momento de conflito no partido mais forte da Alemanha foram os Grünen, que aproveitaram a confusão e, no mesmo final de semana, anunciaram Annalena Baerbock como seu nome para as eleições a chanceler.
Três políticos com percursos bem distintos
Resiliente e determinado, Armin Laschet mostrou na briga pela representação do seu partido que busca ser o chanceler da Alemanha com todas as suas forças. No período, ele aguentou toneladas de provocações e questionamentos da sua capacidade de liderança feitos por membros do seu próprio partido. Em vez de devolver na mesma moeda, ele preferiu salientar que é um conciliador e que colocará a Alemanha e, também, a Europa, em crescimento depois da pandemia. O político se elegeu em 2017 como governador e adotou uma política leve e simpática. Atuou fortemente nas questões da família, das mulheres e da integração. Laschet é visto como o candidato que dará sequência à política adotada desde 2005 por Angela Merkel, mas gosta de enfatizar que estimulará mais os negócios no país. Nasceu em Aachen, é casado, tem três filhos e é formado em Direito e Ciências Políticas.
Annalena Baerbock tem os Verdes em seu controle. Ela também enfrentou uma disputa interna, muito mais leve daquela de seu adversário, mas saiu vitoriosa, com força política e com um partido unido em torno da sua candidatura. Ela gosta do estilo agressivo e persuade seus interlocutores com argumentos fundamentados e muito conhecimento. Apesar de alguns pensarem que a candidata não tem experiência suficiente para a chancelaria, é vista como a opção de renovação da política alemã. Obviamente, a sua agenda principal é a proteção do meio ambiente. Baerbock atuou como líder da política externa e de segurança do grupo parlamentar dos Verdes. Acima de tudo, tem capacidade de inspirar jovens eleitores com a “Realpolitik” (realismo político). Meticulosa e festiva, a candidata é natural de Hannover, é casada, tem dois filhos e tem formação em Ciências Políticas e Direito Internacional.
Com muitos anos de experiência, o candidato da esquerda, Olaf Scholz, enfrenta o desprestígio do seu partido perante a população. Contudo, sua vasta experiência lhe dá uma visão clara de como funcionam as questões e projetos da chancelaria. Ele foi membro do parlamento alemão de 1998 a 2001; de 2002 a 2011, foi senador interino por Hamburgo e ministro federal do Trabalho e Assuntos Sociais; de 2011 a 2018, retornou a Hamburgo para assumir a prefeitura. Desde então, é ministro da Fazenda do governo federal e atua como vice-chanceler. Com personalidade calma e centrada, Scholz foi responsável pelo programa de ajuda para o Covid, batizado de “Bazooka”. Nasceu em Osnabrück, é casado e tem formação em Ciências Jurídicas.
Texto baseado nas matérias do site merkus.de e do jornal Handelsblatt. Confira os links a seguir: