Se você ainda não ouviu falar em NFT, é melhor ir se acostumando com o termo. A sigla para non-fungible token, em português token não-fungível, denomina uma forte tendência no universo de criptomoedas.
De forma simplificada, os tokens não-fungíveis são códigos que servem como autenticação de um arquivo – a garantia de que são representações digitais de qualquer coisa digital única.
Na economia, ativos fungíveis são aqueles cujas unidades podem ser trocadas sem que haja alteração no valor. Por exemplo: você pode trocar uma nota de R$ 50 por cinco notas de R$ 10 e elas juntas continuarão valendo o mesmo que a nota inicial que você tinha. Um ativo não-fungível, por outro lado, tem propriedades únicas a ele, nenhum outro é igual. Ainda que existam milhares de cópias, há apenas uma Mona Lisa original. E não é possível criar uma relação de equivalência legítima entre ela e qualquer outra obra.
Os possíveis usos do NFT são amplos, mas é o segmento de coleção de obras de arte ou itens colecionáveis que tem ganhado força com este mercado.
Você pode se perguntar: se um vídeo, música ou imagem está totalmente disponível na internet, por que pagar por ele? É simples, porque os NFTs dão a seus detentores propriedade sobre o item original e a possibilidade de revender futuramente.
Embora o conceito não seja exatamente novo – os NFTs nasceram em 2012 – se tornou uma das maiores tendências do mundo dos criptoativos em 2021, com um aumento de 55% nas vendas em relação a 2020, que saíram de 250 para 389 milhões de dólares.
“Os NFTs se tornaram um símbolo de status e pertencimento à comunidade cripto. Muitas pessoas ganharam dinheiro com esse mercado e encontraram essa forma de usufruir e até mesmo ostentar”, afirmou André Franco, Analista de Criptoativos da Empiricus.
Questionado se NFTs podem ser vistos como investimentos, Franco foi enfático: “Sem dúvidas! Os ativos NFTs são escassos e a propriedade da obra pode ser facilmente verificável e transferível. Mas é preciso cautela, principalmente pela complexidade de se mensurar o valor justo de uma arte”.
O primeiro boom do mercado de NFT ocorreu em 2017, com os CriptoKitties, jogo que permite comprar, vender e criar diferentes tipos de pets, com base no blockchain Ethereum e na criptomoeda Ether. Cada gato criado no jogo é único e não pode ser replicado ou destruído. A partir de 2021 o foco passaram a ser memes e outros itens colecionáveis.
E o que as marcas têm a ver com isso? Tudo. Especialmente as love brands, que podem se apropriar da tecnologia, aliando-a ao forte afeto que desenvolveram em seus consumidores.
Segundo um estudo feito pelo DappRadar, a indústria de NFT reportou uma alta de 350% em carteiras ativas com foco no ativo no terceiro trimestre de 2020. À época, as transações em NFT aumentaram 57%.
O ecossistema de tokens não-fungíveis de hoje é amplo, variado e está em constante crescimento. Com cada vez mais blockchains competindo para produzir os melhores serviços no mundo dos NFTs e uma gama crescente de plataformas, dezenas de empresas e instituições já estão investindo na criação de seus próprios NFTs, que podem ir desde nomes de domínio, mundos virtuais e finanças descentralizadas a mercados de arte, museus de criptografia e itens colecionáveis.
Os tokens mais populares são os colecionáveis, representando 48% do mercado total, na frente de arte (43%), esportes (4%), metaverso (3%) e jogos (2%), segundo o site especializado na coleta de dados NonFungible.com.
A startup francesa Sorare se tornou parceira da Federação Alemã de Futebol para o lançamento de cards de jogadores comercializados digitalmente em blockchain. Ainda no universo do esporte, a NBA Top Shop, por exemplo, já oferece NFTs de cartões colecionáveis com cenas reais capturadas em jogos. Já no universo das redes sociais, o NFT do primeiro tuíte, postado em 2006 pelo CEO do Twitter Jack Dorsey, foi vendido por pouco mais de US$ 2,9 milhões.
Ainda que esteja atualmente dominado por aplicações artísticas, o mercado de NFTs deve receber muito mais ativos tokenizados a longo prazo. “Devemos ver um crescimento nas músicas e filmes, pela facilidade de reter os direitos autorais e de reprodução. Outra possibilidade é a conexão dos NFTs com o mundo real, como uma espécie de método de verificação. A Nike, por exemplo, registrou uma patente nesse sentido, o CryptoKicks, que é um método de verificar a autenticidade de um tênis usando um sistema NFT”, explicou Franco.
Questionado sobre as perspectivas futuras para o mercado de NFTs, Franco revelou que não acredita na tese de bolha. “De fato, estamos vivendo um momento ímpar para esse segmento, que dificilmente conseguirá se manter nesse patamar de crescimento por muito tempo. Acredito em um impacto maior na liquidez, na velocidade que os ativos mudam de mãos. Mas, na direção oposta das artes, as outras vertentes podem assumir a responsabilidade de seguir expandindo o segmento de NFTs. Os primeiros jogos NFT estão sendo lançados agora, e já mostraram o potencial que apresentam. Estamos falando de uma indústria que está há décadas em crescimento e imune a crises. É difícil imaginar um cenário em que os jogos NFTs não se tornem o novo padrão no futuro”, explicou.
Sem dúvida, é uma tendência para as marcas ficarem de olho.
*Essa matéria foi publicada originalmente na Revista BrasilAlemanha de Inovação 2021. Para conferir este e outros textos na íntegra, faça o download da publicação aqui.