*Por Thais Martins
Apesar de ainda ser comumente associado ao universo de jogos, o uso da realidade virtual (RV) e aumentada (RA) vai muito além do entretenimento. A digitalização de processos e treinamentos em grandes indústrias alcança, com sucesso, as ações corporativas de diferentes segmentos. Em linhas gerais, essa tecnologia consiste na criação de ambientes digitais que permitem a interação com espaços por meio da utilização de dispositivos, como óculos de realidade virtual.
O Relatório Setorial 2019 apresentado pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom), aponta que, entre 2020 e 2023, os investimentos em tecnologia de transformação virtual no Brasil devem ultrapassar R$ 4,9 bilhões. O montante será aplicado exclusivamente no setor de RV e RA.
Uma tendência é a utilização da RV para a realização de treinamentos para profissionais. Dessa forma, muitos processos práticos que exigiam a presença do colaborador podem ser realizados à distância. Ao descartar a necessidade de locomoção, a empresa não só garante a segurança da equipe em meio à crise sanitária como ganha agilidade nos processos e redução de custos. Ainda que essa mudança de mindset já estivesse ocorrendo de modo orgânico, é fato que a pandemia acelerou esse processo.
A subsidiária brasileira da DEKRA, por exemplo, passou a oferecer serviços como treinamento e consultoria por meios digitais, inspeções e vistorias remotas. De acordo com Bruno Bergamo, Marketing Manager da DEKRA Brasil, com a digitalização, a sinergia da empresa melhorou em 100%, incluindo a comunicação com as unidades da companhia em outros países, que se tornou mais dinâmica e consistente.
“Acredito que a pandemia trouxe um novo formato de trabalho, em que descobrimos como o mundo pode ser pequeno em termos de comunicação. Hoje, fazemos reuniões globais, com interação e compartilhamento de informações e conteúdo de modo prático, rápido e assertivo”, relatou Bergamo.
Em parceria com a 3Spi e um respectivo cliente internacional da indústria de petróleo e gás, a Dekra lançou um curso de treinamento usando realidade virtual, cujo foco é o abastecimento de postos de gasolina e logística de petroleiros. “A empresa tem seguido na otimização dos treinamentos por esse meio tecnológico, pois acredita que esse caminho proporciona segurança, escalabilidade e melhorias significativas para o processo de aprendizagem dos participantes”, analisou o Marketing Manager.
“A pandemia, sem dúvida, acelerou a curva de adoção da transformação digital no mundo. E, no Brasil, não houve exceção a esta regra”, concordou Livius Aguiar, Desenvolvedor de Digitalização da Siemens. A companhia, especialista em soluções inteligentes para transformação digital na indústria, encarou os desafios da crise sanitária como uma fonte de oportunidade também: introduziu em atividades das áreas de Smart Infrastructure e Digital Industries, óculos de realidade virtual que têm facilitado a comunicação com seus clientes. Além disso, as implementações trouxeram redução de custos com transporte, locomoção e gastos com hotelaria, tanto para a empresa quanto para parceiros espalhados por todo o País.
Com o modelo de óculos de RV para realizar serviços nas plantas dos clientes à distância, aliado à conectividade remota dos equipamentos, é possível realizar checagens de painéis e máquinas, bem como acompanhar atividades dentro das unidades da Siemens sem que o parceiro precise sair do próprio escritório. De acordo com Aguiar, dessa forma, “a Siemens consegue realizar o trabalho remotamente e manter o nível de serviço, atendendo as recomendações de distanciamento social”.
Outra novidade da Siemens é que ela criou, em parceria com a startup Mix Reality, uma aplicação de realidade aumentada capaz de coletar, categorizar e analisar dados do ambiente produtivo em tempo real. O objetivo é processar grandes quantidades de informações em meio às características diversas dos ambientes, equipamentos e sistemas. A solução em RA pode tornar a análise da performance e da disponibilidade dos equipamentos mais transparente, permitindo uma gestão otimizada dos ativos.
O segmento de papel e celulose também tem se beneficiado do uso de soluções de realidade virtual e aumentada. Há cinco anos a Voith faz uso da realidade virtual com foco em treinamentos e simulações das operações e segurança do maquinário. Segundo Antônio Lemos, Presidente da Voith Paper América do Sul, tais avanços são essenciais para manter-se em um movimento ativo no mercado de papel e celulose, contribuindo para o sucesso do atendimento do setor e dos clientes. “Investir em novas tecnologias é essencial para um bom desenvolvimento da nossa produtividade, sendo possível prestar assistência a diversas plantas de papel e celulose em todo o mundo. Queremos focar na utilização desse recurso também nos sistemas de manutenção e treinamentos daqui para frente.”
No que diz respeito a soluções tecnológicas e estratégicas durante a pandemia, a Voith apresenta transformações significativas, como é o caso da ferramenta digital OnCall.Video para suporte remoto e acesso rápido aos especialistas da companhia. A experiência é possibilitada pela visualização em óculos 3D combinados com dispositivos de controle para criar a interação. As pessoas se movimentam livremente pelo ambiente de realidade virtual e são guiadas ao longo de diversas tarefas.
A LEIPA é a primeira fábrica de papel do mundo a utilizar esse sistema de RV como método de treinamento moderno e imersivo. A comunicação audiovisual com óculos de dados wireless vem sido usada por ela desde janeiro de 2020. Com a solução OnCall.Video, já foram registrados diversos benefícios, como custo mínimo e enfrentamento de problemas de produção com resolução em tempo real, afinal nem sempre é possível obter conhecimento especializado em campo.
Para o treinamento, oferecido pela Voith PaperSchool, foi montada na fábrica de Schwedt, na Alemanha, a sala LEIPA Virtual Reality Center, com design futurista e conceito de iluminação especial que realçam, ainda mais, a modernidade da tecnologia de RV. A Voith também forneceu uma tela touchscreen e equipamentos de RV wireless para atender ao desejo do cliente de montar um estúdio sem fios.
Os exemplos citados evidenciam que a virtualização de experiências na indústria é um caminho cada vez mais vantajoso. Com a retomada das atividades, essas soluções tecnológicas tendem a amadurecer, fazendo com que o fim das restrições torne a opção entre treinamentos presenciais ou remotos uma escolha, e não mais uma necessidade.
*Essa matéria foi publicada originalmente na Revista BrasilAlemanha de Inovação 2021. Para conferir este e outros textos na íntegra, faça o download da publicação aqui.