Qual é o futuro dos carros elétricos no Brasil?

Dr. Johannes Roscheck, CEO e Presidente da Audi do Brasil e Vice-Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo

O mercado automobilístico é um dos que mais têm agido para criar soluções sustentáveis para o futuro. Atualmente, uma das principais tendências é o desenvolvimento de carros elétricos, que podem utilizar baterias carregadas por rede elétrica, células de combustíveis alimentadas por hidrogênio ou até mesmo o etanol.

Esses modelos de automóveis não são novidade. Nos primeiros anos após a invenção dos carros, no fim do século XIX e início do XX, veículos elétricos disputavam consumidores com carros movidos a combustão e a vapor. Muitos consideravam os modelos elétricos mais práticos, mas, por várias razões, que incluem o desenvolvimento da indústria petroleira, o uso de carros movidos a combustão se mostrou mais vantajoso para os consumidores naquele momento. Ao longo dos anos, os veículos elétricos não foram esquecidos, mas perderam espaço.

Várias décadas depois a discussão acerca de sua viabilidade voltou à agenda global, em razão de diversas medidas estabelecidas mundialmente para conter os efeitos do aquecimento global, sendo a principal delas o Acordo de Paris, firmado em 2015. Os compromissos estabelecidos pelo tratado são utilizados pelos governos de vários países para balizar metas de sustentabilidade. E os resultados desse movimento serão cada vez mais visíveis: cerca de 12% de todos os carros novos vendidos no mundo serão elétricos até 2025, segundo uma pesquisa da consultoria Bain & Company.

Na Europa, os números referentes a 2020 mostram que a venda de veículos elétricos duplicou em relação ao ano anterior, segundo estudos recentes realizados pela Associação de Montadoras Europeias de Automóveis (ACEA). Esse dado diz respeito a mais de 530 mil carros vendidos, especialmente em países como Alemanha, França e Holanda. No âmbito global, as vendas desses automóveis chegaram ao patamar de 3,2 milhões de unidades vendidas apenas no ano passado, o que representa um aumento de 43% em relação a 2019.

Ainda que a concorrência de mercado seja maior nos países europeus e na China, o continente americano está investindo na transição de seus veículos. Com um discurso fortemente pautado em causas ambientais, o recém-eleito Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que toda a frota de veículos do governo federal será substituída por carros elétricos. Essa mudança corresponde à aquisição de mais de 600 mil novas unidades.

Aqui no Brasil também já vemos diversos modelos e marcas de veículos elétricos, além de percebermos um acelerado crescimento na demanda. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (ANFAVEA), a venda de veículos híbridos e elétricos em 2020 cresceu 66% em comparação ao ano anterior. Os números são animadores, e há muito potencial para que aumentem ainda mais.

Entre os fatores que podem estimular este potencial de crescimento está o conhecimento por parte do consumidor. Por ser uma tecnologia pouco disseminada, ainda há muitas dúvidas e receios em relação a ela. Com o contato mais próximo e acesso mais fácil à informação, consumidores começam a entender os benefícios e vantagens desse tipo de veículo. Hoje já existem incentivos para usuários de carros elétricos, como redução de IPVA e alíquota reduzidas de imposto de importação. Contudo, esses incentivos ainda fazem parte de uma pequena fração dos fatores que ajudam o cliente a tomar a decisão por modelos elétricos.

O Brasil apresenta condições muito favoráveis à implementação dos modelos elétricos. A produção energética brasileira é majoritariamente limpa, o que já beneficia a realização de outras ações sustentáveis a partir da matriz energética. Alguns países investem em veículos elétricos, mas têm fontes de energia prejudiciais ao meio ambiente, o que é contraditório e ineficaz como medida sustentável que busca mudar as emissões de carbono. Esse não é o caso do Brasil, que já está em vantagem em comparação com outras nações mundiais neste quesito.

Muitas montadoras se comprometeram a tornarem-se 100% neutras nas próximas décadas e a Audi é uma delas. Buscando atingir essa meta e impulsionar o mercado brasileiro no setor de carros elétricos, a empresa tem trabalhado não apenas nos carros, mas também na instalação de painéis fotovoltaicos para geração de energia limpa em suas atividades, além de construir postos de recarga para os veículos. A empresa lançou em abril do ano passado dois modelos totalmente elétricos, o Audi e-tron, e o Audi e-tron Sportback, e em 2021 continuará essa ofensiva com a chegada de novos veículos.

O esforço de todos será necessário para um mundo mais sustentável e o investimento no setor de veículos elétricos tem o potencial de auxiliar grandes empresas e a população a continuar usufruindo da mobilidade urbana moderna, cada vez mais consciente em relação ao meio ambiente.