Radares atentos para as soft skills 

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Valorizar as habilidades comportamentais de cada colaborador é a chave para alavancar o sucesso das equipes 

Quando se pensa em busca e retenção de talentos, automaticamente vêm à mente as habilidades técnicas que constam no currículo, as chamadas hard skills. Entretanto, é importante saber que o mercado e as empresas há tempos já perceberam que existem outras habilidades essenciais que vão muito além da capacitação técnica. Chamadas de soft skills, essas habilidades comportamentais estão diretamente ligadas à personalidade de cada pessoa e sua trajetória pessoal. 

Mas afinal, o que são soft skills? Helen Dwight, Chief Marketing Officer da consultoria BizFluency, definiu como uma “combinação de habilidades pessoais, sociais e de comunicação, traços de caráter ou personalidade, atitudes, atributos de carreira, inteligência social e quocientes de inteligência emocional que permitem aos funcionários navegar em seu ambiente, trabalhar bem com os outros, ter um bom desempenho e atingir seus objetivos”.  

Para Dwight, “uma empresa só é tão boa quanto as pessoas que contrata”. Logo, é fundamental compreender que o desempenho da companhia está diretamente atrelado ao desenvolvimento do potencial individual de cada colaborador. Entre as principais habilidades podemos listar: boa comunicação, trabalho em equipe, resiliência, proatividade, ética, pensamento crítico, criatividade, empatia, liderança, positividade e gerenciamento do tempo. 

Antes da pandemia falávamos no mundo VUCA, um acrônimo das palavras inglesas Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity  (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo, em português). A nova realidade global traz à tona um novo conceito, batizado de mundo BANI, acrônimo para Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible (Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível, em português).  

Para Ana Claudia Oliveira, Head of Human Resources Brazil e Argentina da Continental, é preciso compreender o papel desempenhado pela pandemia do coronavírus na mudança comportamental da sociedade como um todo. “A pandemia nos colocou em contato com sentimentos como medo, insegurança e a proximidade com o luto. Tudo isso gerou um desgaste emocional muito grande nas pessoas se acentuando com o distanciamento social. Mais do que nunca, trabalhar as nossas emoções passou a ser vital. O mundo pós-pandemia promete ser um mundo híbrido com forte presença virtual, o que continuará demandando fortemente das nossas competências comportamentais”, afirmou Oliveira.  

A Hydac trabalha ativamente o conceito de soft skills desde 2018, a partir da identificação por meio da observação das aspirações dos candidatos, entendendo quando e como desejam chegar nos targets definidos de carreira. “A inteligência emocional é uma das soft skills que valorizamos, pois lidar com as emoções não é tarefa fácil. O dia todo em um ambiente de trabalho gera muita energia e é preciso saber direcioná-la para a direção certa. Também considero características especiais a flexibilidade para aceitar mudanças e criatividade”, afirmou Edmilson Felippe, Human Resources Manager da Hydac Tecnologia Ltda. 

Já colaboração, senso de dono, vontade de fazer acontecer e empatia foram as soft skills listadas como fundamentais por Marcellus Puig, Vice-Presidente de Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil e Região SAM.  

Ele explicou que essas habilidades são consideradas para todos os níveis hierárquicos, desde as portas de entrada como estagiários e aprendizes até gestores. “Para nós, é extremamente relevante o trabalho em time, a busca por fazer melhor, para assim, alcançarmos nossos objetivos. Preparar nossas pessoas para os desafios do dia a dia, para a transformação que vivemos, faz parte de nossa estratégia”, afirmou Puig.  

Um dos principais pilares do desenvolvimento dessa cultura organizacional é a implantação da cultura de feedback. “Um exemplo é que em 2019 iniciamos um trabalho robusto para preparar e desenvolver nossos líderes. Entendemos que os líderes são parte essencial para mantermos um ambiente saudável e o desenvolvimento de nossas pessoas.  Desta forma, alguns comportamentos foram amplamente divulgados e trabalhados. São eles: liderar pelo exemplo (walk the talk), com respeito, confiança e transparência, criar senso de urgência, empoderar e estimular ownership, inspirar e demonstrar atitude positiva, celebrar e reconhecer. Além disso, também podemos citar que as soft skills são trabalhadas na preparação de profissionais considerados talentos dentro do plano de sucessão, por meio de treinamentos, mentorias e planos de desenvolvimento”, explicou. 

Para Dwight, a única maneira de incorporar as soft skills dentro da cultura da organização é trazendo-as para o foco de toda a estratégia. “O apoio do CEO e outros executivos sênior é fundamental para estabelecer o tom da organização, mas também é necessário garantir que estes indivíduos estejam dando o melhor exemplo, usando estas habilidades na gestão diária do negócio, por exemplo, na maneira como comunicam a estratégia, lidam com a adversidade e geralmente gerenciam as interações com clientes, parceiros, fornecedores e funcionários”, afirmou, completando que paralelamente o RH deve adotar um plano estratégico para melhorar a cultura, por meio de programas de capacitação para os funcionários, bem como identificar táticas apropriadas de contratação para garantir a adequação correta à cultura corporativa. 

Como treinar líderes para compreender essas habilidades? 

Dwight explicou que o primeiro passo para traçar um plano estratégico abrangente é uma auto-avaliação da realidade da equipe a partir das respostas para algumas perguntas simples: 

1- Objetivos  
O que estamos tentando alcançar? 

2- KPIs (da sigla em inglês para Indicador Chave de Desempenho) 
Como sabemos que somos bem sucedidos? 

3- Escopo  
De que tipo de treinamento de soft skills precisamos?  É preciso fazer um análise de habilidades dos indivíduos, do papel que eles desempenham e das habilidades que já possuem.  

4- Sequenciamento  
Quem deve ser habilitado e quais são as dependências entre os indivíduos e as habilidades necessárias?

5- Cronograma  
Qual é o plano de implementação apropriado? 

 *Essa matéria foi publicada originalmente na Revista BrasilAlemanha de Inovação 2021. Para conferir este e outros textos na íntegra, faça o download da publicação aqui.