Inovações tecnológicas a favor da mobilidade e do lazer
Calçadas aplainadas, rampas de acesso, sinalização tátil e calçadas rebaixadas podem parecer acessórios de locomoção; porém, para que a Pessoa com Deficiência (PcD) consiga se locomover tudo isso é fundamental. O Estado é responsável pela mobilidade em diversos níveis – União, Estados e Municípios -, mas também empresas privadas e públicas podem e devem proporcionar esse direito.
O processo de inclusão social é uma preocupação latente para empresas alemãs. A thyssenkrupp, por exemplo, enfatiza isso integrando colaboradores com mobilidade reduzida à empresa e inovando por meio de um perfil de produtos traçados para atender ao mercado da acessibilidade. Ampliar o foco para as reais necessidades e trazer soluções para a Pessoa com Deficiência é, em outras palavras, escutar melhor esse cidadão, enxergar o que ele precisa e trabalhar focando nessas diretrizes.
Um destaque da thyssenkrupp foi o que aconteceu no Condomínio D. Pedro II, localizado no bairro do Gonzaga, em Santos, litoral de São Paulo. Há mais de 45 anos, o condomínio possuía lances de escadas no nível da rua e, sem nenhuma área de recuo, não era possível a construção de rampas de acesso. Assim, para atender à Norma de Acessibilidade (NBR 9050), a empresa alemã viabilizou a entrada do prédio instalando uma plataforma elevatória vertical. O grande desafio foi atender à legislação municipal para essa instalação, uma vez que o condomínio foi construído quando as normas e as leis eram diferentes das atuais.
No Brasil, há leis federais (10.048 de 08/11/2000 e 10.098 de 19/12/2000) que regem a adequação e o uso de tecnologias para acessibilidade. Porém, a fiscalização dos órgãos públicos não é muito efetiva. Condomínios, que são regulamentados para a acessibilidade, nem sempre são fiscalizados com a frequência necessária. “Atualmente, a baixa fiscalização para tornar os lugares acessíveis é um grande desafio. Muitas empresas, que trabalham fora dos padrões da legislação e da norma de acessibilidade, acabam influenciando o cliente a optar pelo menor preço. No entanto, não há uma contrapartida em relação à qualidade do produto.”, explica Rafael Villar, Gerente da Divisão de Acessibilidade da thyssenkrupp Elevadores.
A solução foi aprovar, junto à Prefeitura de Santos, somente a área onde a obra foi executada; isto é, a portaria que serve de acesso às áreas residenciais e comerciais do condomínio. A thyssenkrupp readequou 75 apartamentos e 14 salas comerciais. Como desfecho, a medida atendeu às expectativas do condomínio que optou por uma obra definitiva para atender às necessidades dos cadeirantes que moram e frequentam o local, assim como pessoas com mobilidade reduzida que não podem subir escadas.
Além de tecnologias implementadas para acessibilidade diária, muitas ações têm se desenvolvido para viabilizar um lazer acessível. Um dos projetos futuros da empresa alemã é desenvolver uma tecnologia para que idosos ou pessoas com mobilidade reduzida tenham acesso a piscinas para desfrutarem de momentos relaxantes ou até mesmo praticarem uma atividade terapêutica. O lazer acessível é uma proposta relevante e essencial que vem sendo potencializada, não apenas por empresas, mas também por iniciativas individuais como a do estudante Kaled Oro, de 19 anos.
A ideia para seu projeto surgiu ao perceber que não existiam tecnologias direcionadas para Pessoas com Deficiência jogarem xadrez. Foi aí que Kaled, estudante do 4º período de Sistemas de Informações da UNOESC, desenvolveu o projeto The Freedom Chess. O programa de xadrez online efetua jogadas por meio de comandos de voz, teclado ou mouse. “Em algumas competições de xadrez que participei, pude perceber que havia muitas pessoas com a mesma dificuldade que a minha: autonomia na hora de jogar xadrez. Já havia algum tempo que pensava em alguma solução para essa dificuldade.”, comenta Kaled.
O desenvolvimento do jogo foi um processo extenso e gradativo que se iniciou com uma busca por softwares na internet. O mecanismo foi pensado desde a escolha das linguagens de programação, implementação da lógica de movimentação das peças do xadrez, elaboração de um sistema de reconhecimento da fala até a fase de reconhecimento dos comandos e adaptação para a Pessoa com Deficiência nas diversas esferas, como visual, motora e de fala.
Kaled compartilha que o propósito inicial do projeto, era robotizar o jogo permitindo que PcDs pudessem interagir fisicamente.
Não há dúvidas que os desafios para a acessibilidade são enormes, mas não só as grandes, mas também as pequenas iniciativas, fazem a diferença para que essa temática saia do papel e tenha cada vez mais cases de sucesso.
O lazer acessível na Alemanha
A Alemanha como país turístico encanta cada vez mais pessoas por meio de sua diversidade e de suas atrações. Para tornar essa diversidade acessível a todos, diversos projetos inclusivos foram iniciados nos últimos anos. Empresas de turismo, incluindo de transporte público, o setor hoteleiro e gastronômico, instituições culturais, recreativas e desportivas, bem como as organizações regionais de turismo, desenvolveram e implementaram iniciativas a fim de tornar a Alemanha um país acessível. O Centro de Turismo Alemão (DZT), em nome do Ministério da Economia e Tecnologia (BMWi, na sigla em alemão), representa mundialmente a diversidade turística da Alemanha. Há muitos anos, o DZT tem posicionado a Alemanha como um país turístico com uma variedade de ofertas voltadas para acessibilidade. O Centro está envolvido em comitês para desenvolver produtos de alta qualidade e apoia o Sistema Nacional Reisen für Alle (“Viajar para todos”, em português). Em seu site o DZT oferece diversos serviços para o turismo acessível: www.germany.travel.
Juntamente aos seus parceiros, o Centro organiza o “Dia do Turismo Acessível” (Tag des barrierefreien Tourismus, em alemão) na maior feira de turismo do mundo, a ITB Berlin. Em 2018, o DZT foi parceiro do campeonato mundial de basquete em cadeira de rodas na cidade de Hamburgo e patrocinador ouro do World Summit of Accessible Tourism “Destinations for Allem” em Bruxelas.
*Essa matéria foi publicada originalmente na Revista BrasilAlemanha de Inovação 2018. Para conferir este e outros textos na íntegra, faça o download da publicação aqui.