Nesta quinta-feira (23) a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo reuniu um time de peso de especialistas para discutir as principais tendências que estão transformando a sociedade e o ambiente empresarial.
Tendo como tema central Tools for the future (ferramentas para o futuro), o Congresso Brasil-Alemanha de Inovação acolhe, a partir desse ano, também o tema de sustentabilidade, passando a se chamar Congresso Brasil-Alemanha de Inovação e Sustentabilidade (CBAIS). A condução geral do evento ficou a cargo de Bruno Vath Zarpellon, Diretor de Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade da instituição.
Em seu discurso de abertura, Manfredo Rübens, Presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e Presidente da BASF para a América do Sul, comemorou o sucesso já evidente da segunda edição totalmente digital do evento. “É um prazer participar desse tradicional evento em formato digital novamente e afirmar: deu certo! Apesar dos receios de realizar um Congresso desse porte somente de forma virtual, seguimos em frente e estamos colhendo os benefícios dessa decisão: mais conexão, mais interação, mais troca de experiências, não somente entre participantes, mas entre dois países que são parceiros importantes, o Brasil e a Alemanha”, afirmou. Citando a inserção do tema Sustentabilidade na pauta principal do evento, o executivo destacou o aspecto indissociável das temáticas sustentabilidade e inovação. “O nosso futuro é sustentável, é verde e – às vezes nos esquecemos disso – é resultado das iniciativas que tomamos hoje.”
Jochem Hellmann, Diretor do escritório regional do DAAD no Rio de Janeiro e Diretor do Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH) em São Paulo, corroborou a opinião de que a união dos dois temas é essencial para uma discussão enriquecedora entre todos os atores do ecossistema de inovação e frisou o papel essencial dos centros de pesquisa. “Inovação é uma semente que é plantada na pesquisa científica. Primeiro vem a pesquisa básica nas universidades, depois entra na fase na fase de pesquisa aplicada, para depois brotar como inovação nas empresas. Nosso objetivo é oferecer por meio deste congresso inputs na ciência, para que no futuro se possa chegar à inovação”, declarou.
Destacando a importância de um ambiente rico em cooperação, o Embaixador da República Federal da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, frisou a correlação entre inovação e sustentabilidade. “Sem sustentabilidade toda inovação se apoia em uma base muito frágil. Sustentabilidade significa expandir a visão e considerar em conjunto os desafios ecológicos, econômicos e sociais. Quem não investe hoje no futuro pagará um preço alto mais tarde.”
Neste sentido, o CBAIS já se tornou um dos mais tradicionais do ecossistema brasileiro de inovação e o maior evento de inovação entre Brasil e Alemanha. “Esse congresso representa uma aproximação com potencial tremendo de criar resultados para Brasil e Alemanha, empresas e startups de ambos os países. Fica aqui o meu convite para que participem ativamente e façam proveito de toda informação que será compartilhada ao longo dos dois dias”, incentivou Antonio Lacerda, Líder do Comitê de Inovação da Câmara Brasil Alemanha de São Paulo e Vice-Presidente Sênior na BASF América Latina.
ESTRATÉGIA, GESTÃO E CULTURA
O primeiro bloco de discussões do evento foi aberto com um painel sobre “Criação e gestão de comunidades”. Responsável por moderar a discussão, Marc Reichardt, CEO do Grupo Bayer Brasil, destacou a importância do investimento contínuo em inovação aberta e seu papel essencial para avançarmos como sociedade. “Inovação e colaboração andam sempre de mãos dadas”, disse.
Em sua apresentação, Prof. Dr-Ing Reiner Anderl, do Departamento de Processamento de Dados em Design (DiK) da Universidade Técnica de Darmstadt, comentou a importância da conexão com a comunidade. “Você nunca conseguirá desenvolver e levar uma tecnologia ao mercado se a sociedade não a aceita. Por isso é essencial estabelecer pontes entre os desenvolvedores e a sociedade como um todo”, afirmou.
“A noção de complementaridade é um importante eixo estruturante do sistema de inovações. A leveza nas relações precisa ser estruturada para trazer densidade. Isso ocorre quando os atores se juntam de forma estratégica para inovar”, completou Kenneth Almeida, Diretor Executivo de Educação, Pesquisa, Inovação e Saúde Digital do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Para Renata Favale Zanuto, Co-Head do CUBO, todo esse processo de conexão com as comunidades sofreu intensa aceleração durante a pandemia do coronavírus em 2020. “Mais do que nunca vemos a necessidade de players somarem força, gerando ainda mais valor para a comunidade. Quem terá sucesso daqui pra frente, não serão as empresas que constroem tudo dentro de casa, mas aquelas que veem a comunidade e entendem como podem somar forças, orquestrando tudo que está acontecendo, entendo as necessidades e gerando mais valor para o seu público”, concluiu.
O segundo painel do dia teve como tema “Corporate Venture Capital (CVC) – Como balancear o retorno financeiro e estratégico”. Falando sobre a importância de cada companhia se desafiar a inovar, Antonio Lacerda compartilhou o case da criação do onono, Centro de Experiências Científicas e Digitais da BASF, criado em 2019 para conectar e aproximar todo o ecossistema de transformação digital. “Entendemos que inovação se faz em conjunto, em ambientes de troca.”
Em sua fala, David Taff, CEO da Siemens Participações Ltda., ressaltou que a aproximação com startups não está relacionada apenas ao desenvolvimento de novas tecnologias, “mas principalmente no olhar estratégico de como colocar em prática o enorme leque de recursos e tecnologias que já temos em casa”.
“O Corporate Venture Capital traz uma nova dimensão. A combinação de startups trabalhando com empresas pode criar oportunidades muito interessantes, trazendo novas ideias, testando e aprendendo com novos modelos de negócio. O CVC é uma nova classe de ativos que só vai crescer”, garantiu Markus Solibieda, Managing Director Global Corporate Venture Capital da BASF Venture Capital GmbH.
Do ponto de vista da empresa investidora é preciso analisar se a startup tem sinergia adequada com a estratégia. “No caso do CVC, não basta olhar a equipe empreendedora e enxergar a qualidade do time por si só. Um aspecto que também conta muito é a habilidade dessa equipe em lidar com a grande empresa, entender sua cultura e todo o universo do stakeholders envolvidos”, afirmou Newton Campos, Professor de Empreendedorismo da FGV EAESP. Já para as startups, o CVC representa uma grande oportunidade de expansão. “Quem antes tinha medo de empreender porque tinha seu tempo, reputação e recursos na mesa, hoje consegue aplicar seu tempo e reputação com o capital apropriado. O capital para inovação e construção de novos projetos está presente na economia brasileira e a tendência é crescer”, afirmou Campos.
SOCIEDADE 5.0
“Somos todos dinossauros assustados”. Foi com essa provocação que o roboticista e estudioso das relações do futuro, Gil Giardelli concluiu sua palestra sobre a Sociedade 5.0.
Explicando a dicotomia da economia do conhecimento versus a economia da ignorância, em que a falta de conhecimento é uma opção, ele compartilhou com os participantes exemplos a respeito da importância da alfabetização de dados e de inteligência artificial.
Para ele, sem inovação a sociedade entra em decadência, mas é preciso compreender que as mudanças exigem cada vez mais aspectos humanos. “Os grandes requisitos para a modernização são baseados em aspectos humanos, como criatividade, ética e empatia. A 5ª Era será muito mais marcada por mudanças relacionadas à mentalidade humana do que pelas inovações tecnológicas”, afirmou.
Na palestra seguinte, intitulada “O Impacto do ESG no valor das empresas”, Stephan Wilken, Chief Country Officer da Deutsche Bank Brasil, reafirmou a urgência da inclusão da pauta de ESG (da sigla em inglês para Governança Ambiental, Social e Corporativa) na estratégia corporativa. “A estratégia de ESG já não é mais apenas uma recomendação de algo que é bom ter, mas sim uma condição para a empresa ter sucesso a longo prazo. Não podemos mais apenas reagir a tendências e a pressões públicas. É preciso estar à frente”, declarou.
Fechando a rodada de palestras do período da manhã, Prof. Stephan von Delft, Professor Júnior de Química e Empreendedorismo da Universidade de Münster, fez uma rica apresentação sobre modelos de negócios inovadores e sustentáveis. “Para descobrir novos modelos de negócios em economia circular precisamos partir de 3 princípios: apoio a liderança e às iniciativas, reorganização e análise dos processos da empresa e, por fim o treinamento das partes e desenvolvimento das ferramentas”, resumiu.
Após o intervalo, os participantes do congresso puderam participar de um workshop intitulado “Da ideia ao projeto”. Conduzido por Marina Battistella Luna, Analista de Projetos de Inovação da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, o workshop ofereceu aos participantes materiais de apoio e insights para inovação.
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
Com moderação de Pablo Fava, CEO da Siemens, o painel “Servitização da indústria” discutiu com profundidade o processo das empresas para agregar valor aos seus produtos, para oferecer serviços relacionados a eles.
Em sua fala, João Visetti, CEO da Trumpf Brasil, foi enfático ao lembrar que o tema não é novo, tendo seu início na década de 90, mas caracteriza-se por uma demanda crescente. “A servitização é uma tendência crescente pois melhora a disponibilidade, traz transparência, previsibilidade de custos e cada um vai cuidar daquilo que realmente sabe fazer de melhor”, afirmou.
Para Eliseo Bouzan, Vice President and Head da SAP Digital Supply Chain da SAP Brasil, esse processo se mostra ainda mais importante graças às mudanças no mercado. “Seja qual for o tipo de produção, os clientes têm um novo perfil de compra. A forma de comprar evoluiu e há uma concorrência muito mais agressiva. Isso faz com que as empresas acelerem a digitalização aderindo a novas tecnologias”, afirmou Bouzan.
Listando os passos para dar início ao processo de servitização, Oliver Niese, Vice President Digital Business da Festo (Alemanha), ressaltou que o primeiro passo está diretamente relacionado à autoanálise. “É preciso encontrar o seu ponto de agregação de valor a partir de questionamentos como: onde podemos oferecer nossos serviços? Quais processos podem ser terceirizados? Quais são os habilitadores chaves e quais mudanças podem trazer?”.
5G
O 5G também fez parte da pauta do evento, sendo ponto focal de discussão do painel intitulado “Desbloqueando todo o potencial da Digitalização”. Moderado por Paulo Alvarenga, CEO na thyssenkrupp South America, o painel possibilitou aos participantes compreender os avanços que serão possibilitados pela implementação da rede.
“Existem soluções já implementadas que para ganharem escala precisam do 5G. Hoje temos diversidade de tecnologia wireless, mas com o 5G queremos alavancar esse padrão e ser standart de padrão wireless. A partir do momento que tivermos a baixa latência, ultra confiabilidade e alcance de forma massiva que o 5G trará, poderemos influenciar a tomada de decisão de forma assertiva para melhoria de processos e ganho de produção”, explicou Daiani Nogueira, Gerente Sênior Digitalização em Produção e Tecnologia na BASF América do Sul.
“O grande ganho que teremos na transformação digital com o 5G será na cadeia produtiva como um todo, levando conexão desde a fazenda e o produtor rural até o consumidor. Se pensarmos na quantidade de dados que trafegará e quão rica será essa troca, vemos que há muito ganho nisso. O consumidor será o grande beneficiado”, afirmou José Borges Frias, Diretor de Estratégia e Business Development na Siemens Brasil.
David Domingos, Chefe de Departamento no Fraunhofer IPK, contribuiu para o debate com as vantagens que a rede pode oferecer ao mercado industrial. “Se olharmos para a indústria 4.0 e a manufatura, vemos muitos exemplos de avanços que serão possibilitados pelo 5G, que vão desde processos de manutenção preditiva, monitoramento e controle de processo em tempo real, digital twins, AGVs (da sigla em inglês para Veículo Autônomo Guiado).”
Com grande expectativa para a implementação da rede 5G, Wilson Cardoso, Chief Technology Officer Latin America & Brazil na Nokia, explicou que os próximos meses já devem ser decisivos. “Foi feito um grande estudo pela Anatel, mas que foi interrompido pela pandemia. O uso científico do 5G já é possível, mas ainda é limitado. Mesmo diante de necessidades técnicas específicas do Brasil, a implementação pode ser rápida”, afirmou Cardoso, complementando que a expectativa é que o 5G já seja uma realidade no Brasil em junho de 2022.
Em seguida, Prof. Heiko Gebauer, Professor do Fraunhofer Center for International Management and Knowledge Economy (Alemanha), palestrou sobre Digitalização e Servitização. “Esse processo de mudança do mercado ajuda a resolver mais problemas, expandindo o foco do produto ou serviço em si. Passamos a olhar para a possível contribuição do próprio consumidor e o ecossistema de parceiros para o desenvolvimento da solução.”
Encerrando o primeiro dia de evento, Daniel Scuzzarello, CEO e Diretor Presidente da Siemens South America, palestrou sobre Digitalização do ciclo do produto em uma cadeia circular. “A chave para usar a complexidade como uma vantagem competitiva é baseada em 3 pilares: digital twins, personalização adaptável e construção de um ecossistema aberto e flexível”, explicou.
LANÇAMENTO DA REVISTA BRASIL-ALEMANHA DE INOVAÇÃO
Um dos destaques do primeiro dia de evento foi o lançamento da nova edição da revista Brasil-Alemanha de Inovação. Stephanie Marcucci Viehmann, Diretora de Comunicação da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, apresentou aos participantes os principais temas abordados pela publicação. A 6ª edição da revista reúne reportagens sobre sustentabilidade, inteligência artificial, novas tecnologias para dispositivos móveis e o avanço de tecnologias como realidade virtual e aumentada. A publicação oferece ainda aos leitores o Guia de Startups, um material prático de consulta que reúne todas as startups vencedoras do Startups Connected, nosso programa de aceleração.
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