A Deutsche Leasing do Brasil recebeu autorização do Banco Central para deixar de ser uma sociedade de arrendamento mercantil e se tornar um banco múltiplo. A companhia chegou ao Brasil em 2012, mas começou a operar de fato em 2015. Atualmente tem uma carteira de quase R$ 350 milhões e espera crescer 10% ao ano em 2021 e 2022.
Segundo o diretor-presidente da Deutsche Leasing, Matheus Gera, desde o início do processo para se tornar um banco a companhia já promoveu alguns aumentos de capital, que devem chegar a quase R$ 50 milhões no fim deste ano, com aportes da matriz alemã e capitalização de lucros.
Ele conta que os clientes da empresa — boa parte são indústrias que produzem bens de capital — demandavam maior flexibilidade no crédito, o que não era possível fazer apenas com o arrendamento mercantil.
Agora, com a licença de banco, a Deutsche Leasing deve começar a trabalhar com cédulas de crédito bancário (CCB) e espera expandir sua atuação para atender outros segmentos produtivos e também reforçar a presença em outros Estados, ficando menos concentrada em São Paulo. A Deutsche Leasing oferece ainda financiamento a subsidiária alemãs no Brasil que estão em busca de aquisição de equipamentos, assim como financiamento de equipamentos alemães, austríacos e suíços no Brasil e América Latina.
“Existe uma questão tributária, porque o leasing sempre é faturado em São Paulo, que é a nossa sede, mas com a CCB o cliente poderá escolher faturar no Estado dele, que pode ser mais vantajoso, ter um ICMS mais baixo”, comenta Gera.
Hoje, a Deutsche Leasing trabalha principalmente com fabricantes de máquinas e equipamentos da chamada “linha amarela”, como escavadeiras, carregadeiras, guindastes, etc. É o caso de clientes como as alemãs Wirtgen e Kion e a inglesa JCB. Com a nova licença e a expansão geográfica, o plano é aumentar a atuação nos setores agropecuário e de transportes.
A companhia tem um amplo expertise para retomar os equipamentos atrelados aos contratos de leasing e depois revendê-los no mercado, mas sempre procura renegociar com seus clientes para evitar essa ação. Desde que entrou em operação no país, há cinco anos, apenas cerca de 30 equipamentos foram retomados.
Este ano, a carteira da Deutsche Leasing cresce quase 25% na comparação com o fim de 2019. Segundo Gera, apesar dos desdobramentos do coronavírus, o setor de construção civil, que é um importante cliente, foi menos afetado. “O plano era crescer 30%, mas com a covid-19 isso foi desacelerado”, diz Gera. “Apesar de o setor de construção ter sofrido menos, outros como clínicas médicas, usinagem, indústria automobilística, foram impactados”, complementa Daniel Coimbra, vice-presidente da companhia.
Segundo Gera, após quedas fortes em meados do primeiro semestre, os números de financiamento vêm melhorando desde junho e agora estão em cerca de 70% dos volumes de janeiro e fevereiro. Apesar de toda a carteira contar com garantias, aproximadamente 10% dos contratos foram renegociados e o nível de provisionamento aumentou quase 30% ante o patamar do ano passado.
Mesmo com a licença de banco, em um primeiro momento a Deutsche Leasing deve continuar obtendo seu funding da matriz e no mercado interbancário. Opções de captação, como letras financeiras, por exemplo, podem ser uma alternativa para o médio prazo, segundo Gera.
A Deutsche Leasing faz parte do conglomerado alemão Deutsche Sparkassen, que são as caixas de poupança regionais, e não tem ligação com o Deutsche Bank.